Dom Paulo Andreolli vê na oração um ato de resistência e cuidado com a criação
Arcebispo auxiliar de Belém relaciona espiritualidade e compromisso ecológico à luz de Maria, Mãe e Rainha de toda a criação

Em um mundo marcado por crises ambientais e sociais, rezar é mais do que repetir palavras. Para o arcebispo auxiliar de Belém, Dom Paulo Andreolli, trata-se de um ato profundo de reconexão — com Deus, com a criação e com os outros. “A partir da oração, reconhecemos que as coisas não estão como Deus quer, como Ele criou. O mundo foi criado perfeito e tudo era muito bom. Hoje, percebemos, pela oração, que precisamos voltar a esse equilíbrio originário”, afirma.
Segundo o arcebispo, rezar é “sintonizar novamente com o projeto de Deus”, reconhecendo que a vida cristã não se dissocia do cuidado com a casa comum. “A criação é um dom de amor que Deus faz a todos, não só para alguns. Não é riqueza para ser desfrutada apenas pelas elites”, reforça.
Maria, modelo de cuidado
O tema do Círio 2025, “Maria, Mãe e Rainha de toda a criação”, oferece, para Dom Paulo, um ponto de partida para pensar a oração como prática ecológica e comunitária. Ele compara Maria a uma mãe que cuida da casa, unindo autoridade e serviço. “Maria exerce seu ser rainha cuidando como uma mãe cuida de um lar. Isso é semelhante a Deus, que além de criador e rei do universo, é Pai.”
Para ele, o Círio é como “um grande Pai-Nosso rezado com os pés”. A fé, diz, se encarna em gestos concretos: a acolhida aos peregrinos, a partilha da água, o cuidado com os feridos ao longo da procissão. “O Círio nos ensina a caminhar contra a lógica do mundo, que é pensar apenas em si mesmo. É resistência porque afirma a vida e a esperança onde o mundo propõe o descarte e a destruição.”
Conversão ecológica
Inspirado pelo Papa Francisco, Dom Paulo defende que a Igreja deve apontar para a “conversão ecológica”, unindo oração e compromisso. “O Pai-Nosso termina com um pedido ousado: ‘Livrai-nos do mal’. Hoje o mal assume muitas faces, como a devastação ambiental, a exclusão social e o consumismo desenfreado”, observa.
Para ele, uma fé madura é aquela que integra espiritualidade e ação. “Não pode existir uma espiritualidade desencarnada. A oração cristã leva a um estilo de vida novo, mais simples, fraterno, que reconhece que a felicidade não depende de muitas coisas, mas de uma relação com Deus, com o próximo e com tudo o que Ele criou.”
Estilo de vida novo
Dom Paulo lembra que a encíclica Laudato Si’ reafirma que “tudo está interligado” e que, portanto, a fé não pode se desligar da realidade. Nessa perspectiva, Maria é a mãe da esperança e guardiã da criação, ensinando que o cuidado com o mundo é parte da missão cristã. “Em Caná, Maria apontou para Jesus como solução para que a alegria voltasse. Hoje, ela nos diz o mesmo em relação ao meio ambiente: fazer o que Ele nos disser.”
Um tempo de graça
Como mensagem final para este Círio, o arcebispo convida os fiéis a viverem o período como um tempo de graça e conversão. “É tempo de aproximação uns com os outros, de olhar a criação como um dom de Deus e assumir nosso papel de guardiões. Maria nos ensina a cuidar de tudo o que Deus nos confiou. Com ela, aprendemos muito durante o Círio”, conclui.
A cobertura do Círio de Nazaré 2025 de O Liberal tem patrocínio do Banco da Amazônia, Natura, Atacadão, Liquigás, além do apoio da Vale.
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