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Devotos voltam a ter contato com a cultura popular do Círio

Manifestação composta por diversos elementos sempre foi além do aspecto religioso

João Thiago Dias
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O Círio é tão entranhado na cultura paraense que vai muito além da religião”. Assim define o historiador Silvio Ferreira Rodrigues, ao falar sobre a festividade de Nossa Senhora de Nazaré, em Belém.

Professor da Escola de Aplicação da Universidade Federal do Pará (UFPA), ele ressalta que as homenagens à padroeira dos paraenses estão fortemente ligadas a outros elementos simbólicos da cidade, como igrejas e museus no centro histórico, além do Arraial do Pavulagem, que realiza o Cortejo do Círio no mês de outubro.

Pontos dessa abordagem são citados no artigo “Liturgia e Multidão: o Círio de Nazaré e o Catolicismo Popular na Amazônia”, assinado por Silvio, em parceria com Anselmo do Amaral Paes, diretor do Museu do Círio, e Anaíza Vergolino, presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Pará (IHGP). O texto integra uma coletânea sobre religião dentro da cultura popular, que deve ser lançada em breve, com a participação de vários pesquisadores do Brasil.

“A gente fala do Círio por uma visão popular. Como a multidão acaba definindo a imagem do Círio. Como ele tem essa relação forte com a cultura popular e como ele surge a partir dessa cultura popular”, observa o historiador. “Uma manifestação que sempre foi para além do religioso e, cada vez mais, ganha uma dimensão global”, pontua Silvio.

A primeira procissão oficial foi realizada em 8 de setembro de 1793 em meio a um contexto bastante popular. Na época, o presidente da então Província do Pará, Francisco de Sousa Coutinho, resolveu organizar uma grande feira na qual os produtos agrícolas e extrativistas de toda a província seriam expostos e comercializados. Sousa Coutinho determinou que a feira deveria ser realizada no final do segundo semestre de 1793, na mesma época em que os devotos costumavam homenagear a Virgem de Nazaré.

“O governador aproveitou essa festividade, que já fazia parte de um movimento popular desde 1700, quando o caboclo Plácido encontrou a imagem da Virgem. Desde aí, já existia uma relação entre o culto popular e o comércio”, explica Silvio. “E, hoje, essa movimentação vai desde a Festa da Chiquita até o Museu do Círio. E também com o Arrastão do Círio. Uma movimentação que vem sendo construída há muito tempo”, detalha o pesquisador.

O historiador retoma o conceito de “Carnaval Devoto”, difundido pelo escritor paraense Dalcídio Jurandir em sua obra Belém do Grão-Pará. “Parece que são eventos distantes, até avessos, mas existe essa conexão entre vários elementos e as pessoas não costumam fazer separação”, analisa.

Com a flexibilização das restrições sanitárias impostas pela pandemia de covid-19, a expectativa é que esse reencontro com o cultural seja mais intenso. “A pandemia quebrou a relação de proximidade do devoto. E as pessoas estão ávidas com esse retorno para visitar museus e igrejas e para a participação em eventos culturais. É como se fosse respirar de novo nesse ambiente de contato e de cultura”, diz Silvio Rodrigues.

image Organizado pelo Instituto Arraial do Pavulagem, o Arrastão do Círio reúne milhares de pessoas na véspera da Grande Romaria (Tarso Sarraf / O Liberal)

O Arrastão do Círio

Como movimento popular, o Arrastão do Círio ganha força a cada ano, avalia o historiador Silvio Ferreira Rodrigues. Uma programação realizada desde 2003, pelo Instituto Arraial do Pavulagem, após a chegada da Imagem Peregrina na escadinha do cais do porto, em Belém, no encerramento da Romaria Fluvial, no sábado que antecede a Grande Romaria do segundo domingo de outubro.

No ano passado, devido ao período crítico da pandemia de covid-19, o evento foi realizado em formato de show. Em 2022, na 20ª edição, o Arrastão do Círio volta ao formato original, no dia 8 de outubro, com música, dança, pernas de pau e vários outros elementos artísticos. A concentração será às 9h, com saída às 11h, da avenida Boulevard Castilhos França com a avenida Presidente Vargas em direção à Praça Dom Pedro II.

“O Arrastão ainda não faz parte do que chamamos de cultura imaterial. Dos elementos considerados oficiais no Círio. Mas são manifestações como essa que conseguem aglomerar, renovar e ampliar os grupos sociais que não fazem ou não faziam parte desse ambiente. É impressionante essa capacidade de absorção”, observa Silvio.

image Fitinhas são amarradas no gradil da Basílica Santuário (Tarso Sarraf / Arquivo O Liberal)

Círio Nossa História

Fitinhas da fé

Verde, amarela, azul, roxa, laranja, vermelha, rosa, preta, branca... Qualquer cor vale para as tradicionais fitinhas de Nossa Senhora de Nazaré, que se tornaram uma forte expressão cultural da festa religiosa. São adereços que, amarrados no pulso, em geral, com três nós, representam três pedidos feitos pelos devotos à Virgem Santa. Alguns fiéis usam até mais de uma fita no braço.

Durante as procissões, elas colorem a multidão que toma as ruas de Belém e também são a principal fonte de renda para vendedores e ambulantes nesse período. As fitinhas são amarradas, ainda, no gradil da Basílica Santuário de Nazaré, em Belém. O portão fica tomado por centenas de adornos coloridos. Anualmente, pouco antes do domingo do Círio, a equipe de apoio da Basílica retira as fitas do gradil para incineração em intenção pelas orações dos fiéis.

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