Círio vira fonte de inspiração para empreendedores que trabalham com artesanato
Nesse período, muitas pessoas ganham uma renda extra produzindo peças especiais e exclusivas para o Círio

Para muitos empreendedores, o Círio de Nazaré é considerado o “Natal dos paraenses” devido a grande movimentação econômica que acontece nesse período. Embora a pandemia tenha gerado prejuízos para vários setores, com a baixa expectativa no turismo na região, a festa religiosa continua trazendo oportunidades para aqueles que utilizam a fé como inspiração.
Há mais de 20 anos, Nazaré Brabo, de 74 anos, trabalha com artesanato e costura. Ela diz que mesmo com a pandemia, no ano passado, as vendas continuaram intensas devido a sua criatividade para inovar nas peças especiais para o Círio.
“Cada ano, eu procuro mudar algum detalhe, as molduras, as cores, sempre acompanhando o objetivo principal que é a santinha. Esse ano surgiu a ideia de criar os cobertores de alimentos e as boleiras, com a decoupage da Nossa Senhora. Tenho vendido bastante”, destaca.
Nazaré conta que aprendeu a costurar com a sua mãe, que inclusive chegou a produzir vestidos de noivas, e considera o bordado como uma terapia. Mesmo estando aposentada, ela não se vê longe da costura e utiliza a paixão pelo artesanato para alimentar a sua fé. “Sou católica, quando estou bordando sempre converso com Ela (Nossa Senhora de Nazaré) e agradeço por poder trabalhar em casa, sem correr risco”.
A iniciativa para trabalhar com o artesanato surgiu em um momento difícil na vida de Nazaré, mas logo se transformou em oportunidade. “Depois de um acidente automobilístico, fiquei seis meses sem andar, resolvi comprar máquinas pra bordar, hoje tenho duas (máquinas) industriais”.
Atualmente, com os negócios estáveis, ela deixou de vender as suas peças nas feiras de artesanato e passou a trabalhar apenas com as vendas online, por meio das redes sociais. “Quando vi que eu já tinha divulgado o meu trabalho, saí de lá e comecei a vender no Instagram”
Ane Lobo, de 49 anos, afirma que também produz uma coleção especial para o Círio. A artesã, que trabalha com a produção de bonecas de pano há 12 anos, ressalta que as vendas nesse período superam as do Natal e que precisa contratar uma equipe para conseguir atender às demandas.
“No Círio vendemos uma média de 600 peças. Este ano acredito que será bem melhor do que o ano passado, a perspectiva está boa devido as vacinas, a flexibilidade também aumentou e os consumidores estão chegando”, comenta Ane.
Embora ela não congregue em nenhuma igreja, Ane ressalta o amor por Maria e a sensibilidade durante a produção. “Todo ano tento colocar nas peças a história do Círio, o olhar que cada pessoa vai enxergar em cada peça”, conta.
Ane diz que os produtos que não podem faltar são as bonecas “Nazinha de mesa”, “Nazinhas para pendurar” em portas ou no carro, e os “Chaveiros de Nazinha”.
Além do artesanato, a devoção por Nossa Senhora de Nazaré também ajuda a despertar a criatividade de diversos profissionais, inclusive designers e criadores de artes visuais. Izabela Santos é proprietária de uma loja online de estamparia e confessa que a sua campanha favorita é a do Círio. Mesmo não sendo católica, ela destaca o forte significado que a manifestação religiosa possui.
“A emoção do Círio envolve todos. Admiro a fé. Admiro essa festa. Admiro a coragem dos romeiros que pagam suas promessas. Acompanho tudo de perto e mexe muito comigo”, pontua.
A empresária conta que a produção das peças começa logo após o Dia dos Pais. Os produtos mais vendidos são as camisas com imagens e frases religiosas, mas também os modelos que misturam o amor pela Santa e pelo futebol, como estampas com detalhes dos clubes Remo e Paysandu.
“Nós não temos ponto físico e ano passado tivemos a ideia de montar, usamos um ponto que tem na frente da casa da avó do meu esposo. A ideia foi um sucesso. Ficamos lá somente para a campanha do Círio. Vendemos em torno de 110 camisas. Esse ano temos o objetivo de vender 150 camisas ou mais e atingir mais encomendas”, celebra Izabela.
Emilly Melo, estagiária, sob supervisão de Keila Ferreira, coordenadora do Núcleo de Economia
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