Uma festa do povo: devoção começou com a simplicidade dos fiéis

O fato ocorreu em meados século XVII e se propaga aos dias atuais com fé, amor e devoção à padroeira dos paraenses

Alinne Morais
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Foi a partir do achado de Plácido José de Souza que tudo começou. Ao se aproximar do igarapé Murutucu, onde hoje fica a Basílica de Nazaré, o caboclo encontrou, em meio às raízes de uma árvore e pedras lodosas, a imagem de uma santa. Era a de Nossa Senhora de Nazaré. O fato ocorreu em 1700. De lá até os dias atuais, a fé, o amor e a devoção à padroeira se propagaram cada vez mais.

 “A devoção para com Nossa Senhora de Nazaré foi crescendo graças ao ‘dono da santa’, Plácido, e sua mulher, Ana Maria, que numa pequena mesa arrumou um altar para a imagem”, conta a escritora e pesquisadora do Círio de Nazaré Mízar Klautau Bonna. “Passaram a convidar vizinhos e alguns viajantes do caminho para as rezas, que passaram a ser constantes em uma pequena ermida de palha”. 

Passados 30 anos, o povo de Belém já comentava sobre as rezas. Mízar diz que naquela época era comum que as pessoas se reunissem para rezar. “A semente de tudo isso: o povo”, resume. “E porquê crescia desse jeito? Porque não havia novela, televisão, celular. A única distração do povo era se reunir e rezar, e isso fez com que as devoções no Brasil crescessem de maneira extraordinária”, analisa.

image O Círio de Nazaré é uma das maiores festas religiosas do mundo e reúne milhares de devotos e promesseiros todos os anos (Tarso Sarraf / O Liberal)

União deixa o Círio mais belo

 O primeiro Círio de Nossa Senhora de Nazaré, em Belém, ocorreu em 8 de setembro de 1793, sob o comando do então governador Francisco de Souza Coutinho e do capelão de palácio, José Roiz de Moura. Foi somente em 1901, com Dom Francisco do Rego Maia, que a data passou a ser fixada no segundo domingo de outubro. 

Em 1855, o Círio recebeu a primeira Berlinda, na qual o bispo, sentado dentro dela, levava a imagem. Foi somente em 1880 que foi construída a primeira Berlinda da Igreja para levar apenas a imagem original. “Com o bispo no chão, caminhando, cantando e rezando, o povo teve que fazer o mesmo e os ricos devotos se misturaram aos pobres, tornando o Círio mais belo”, diz Mízar. “O diamante de imenso valor que o Pará possui começava a ser apurado para brilhar com intensidade. Anos foram se passando e o Círio ia caminhando e crescendo”, comenta.

Em 1882, passou a sair da Catedral. Três anos depois, em 1885, a corda, um dos símbolos do Círio, foi oficializada. Com ela os fiéis passaram a conduzir a Berlinda em um ato que segue até os dias atuais. “É lugar de imensos sacrifícios, muita fé e devoção”, acredita Mízar.

Atualmente, o Círio reúne cerca de dois milhões de fiéis. Neste ano, chega à 230ª edição. A expectativa já se faz presente, e esse fenômeno de fé, devoção e tradição “não precisa ser explicado, apenas ser vivido”, crê Mízar. “Tem que viver, com respeito, carinho e amor. Faz parte do nosso eu. O Círio é um dia só. É a devoção à Nossa Senhora de Nazaré que é o ano todo, a vida toda”, afirma a escritora.

Círio Nossa História

O manto protetor da Mãe de Deus

O manto que cobre a Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Nazaré está entre um dos símbolos mais aguardados pelos fiéis o ano inteiro. Ele representa bênção e proteção. A peça veste a imagem durante as romarias oficiais do Círio e a cada ano traz uma mensagem de evangelização. É mantido em segredo até o dia da missa de apresentação, quando é revelado aos devotos. Segundo relatos históricos, ao ser encontrada por Plácido, a Imagem Original já possuía um manto, como se fosse uma espécie de capa. Ao longo dos anos a tradição foi mantida e renovada. Depois de 1926, as Irmãs do Colégio Gentil Bittencourt começaram a fazer a peça. Entre as personalidades mais conhecidas pela confecção está a irmã Alexandra, que pertencia à Congregação Filhas de Sant’Ana, do Colégio Gentil. Depois dela quem assumiu a tarefa foi Esther Paes França, que já ajudava a religiosa a bordar os mantos. Com o passar dos anos, outros católicos e estilistas receberam a importante tarefa de produzir o símbolo de fé.
 

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