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Carros de promessa revelam mudanças e permanências na história do Círio

Elementos presentes desde o século XIX ajudam a entender a relação dos devotos com Nossa Senhora e as transformações na festa

Gabriel da Mota
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No meio da multidão que acompanha a berlinda do Círio de Nazaré, um cortejo chama atenção pelo tamanho, pelas cores e pelas histórias que carrega: são os carros de promessa. Presentes na procissão desde pelo menos o início do século XIX, esses elementos formam um capítulo próprio da devoção mariana no Pará.

Segundo o historiador e professor da Universidade Federal do Pará (UFPA) Márcio Couto Henrique, o mais antigo registro é do carro dedicado a Dom Fuas, ligado a um dos milagres fundadores da devoção a Nossa Senhora em Portugal.

image Márcio Couto Henrique, historiador do Círio e professor da UFPA (Cristino Martins / O Liberal)

Carros registram a fé ligada aos rios amazônicos

Muitos dos primeiros carros faziam referência à proteção divina nos mares e rios da Amazônia, refletindo a ligação entre fé e navegabilidade em uma região onde o transporte fluvial é essencial. “Grande parte desses carros simbolizam essa relação de fé, de devoção e de proteção àqueles que circulam pelos rios da região amazônica”, explica Márcio.

No século XIX, também existiam modelos que não fazem mais parte do cortejo, como o Carro dos Fogos, que anunciava a chegada da procissão e foi retirado por questões de segurança na década de 1980. Outros carros, como “Chiquinha” e “Faceira”, tinham nomes curiosos e não necessariamente religiosos, evidenciando um caráter cultural mais amplo da festa naquele período.

image O mais antigo carro representa o milagre de Dom Fuas Roupinho, que foi salvo de cair no precipício montado em seu cavalo graças à intercessão de Nossa Senhora de Nazaré (Cristino Martins / O Liberal)

Mudanças refletem nova condução da festa

A partir de 1910, com a criação da Diretoria da Festa de Nazaré (DFN), os carros passaram a receber nomes e temas religiosos, como a Santíssima Trindade e a Sagrada Família. Mesmo com essa institucionalização, a cada edição há espaço para inovações, como o Carro da Saúde, criado em homenagem aos profissionais que atuaram durante a pandemia de Covid-19. “Os carros mostram um pouco dessa busca pela novidade, tanto na estética quanto naquilo que eles referenciam”, observa o historiador.

Tradição popular anterior à organização da Igreja

Márcio destaca que, no século XIX, o Círio era organizado por uma irmandade leiga com forte participação popular. Há relatos de edições realizadas sem a presença de padres e de tensões entre a programação cultural e as diretrizes da Igreja. “A devoção a Nazaré é anterior ao Círio e se espalhou entre a população mais pobre antes da institucionalização da festa”, afirma.

image 'Carro da Saúde', o mais recente a ser incorporado ao Círio de Nazaré para homenagear o padre e médico Santo Antônio Maria Zaccaria, além de exaltar os profissionais de saúde após a pandemia (Cristino Martins / O Liberal)

Mesmo com todas as mudanças, os carros de promessa seguem como ícones da fé popular. “Eles contam parte importante dessa rede de milagres, de fé e devoção. É uma tradição que se renova, mesmo sendo já tão antiga”, resume.

Há 22 anos, restaurador mantém os carros prontos para o Círio

Desde 2003, o restaurador Everaldo Farias é o responsável por preparar e recuperar os carros e as berlindas antes das procissões. Este ano, os trabalhos incluíram a troca do altar do carro da Sagrada Família, substituição das laterais por chapas metálicas e a repintura da Barca com Remo, além do reforço estrutural no Carro do Cesto de promessas.

image Everaldo Farias, restaurador dos carros de promessas há 22 anos (Cristino Martins / O Liberal)

Sozinho na função, Everaldo diz que o trabalho é uma missão de fé. “Se Deus permitir, até quando Deus e Nossa Senhora quiserem, eu estou por aqui. Já consegui muitas bênçãos com ela, então é uma satisfação muito grande fazer esse serviço com amor e dedicação, para que não tenha problema nenhum nas procissões dela”, afirma.

A cobertura do Círio de Nazaré 2025 de O Liberal tem patrocínio do Banco da Amazônia, Natura, Atacadão, Liquigás, além do apoio da Vale.

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