Valei-me, Minha, Nossa Senhora de Nazaré!

Idanise Sant’Ana Azevedo Hamoy / Especial para O Liberal

 

O Círio de Nazaré nos apresenta várias lições. Lições que não passam despercebidas ao olhar de educadora, que está sempre em busca de metodologias de ensino e aprendizagem que permitam a facilitação de seu ofício.

A primeira lição é ter uma pequena imagem como símbolo de suas celebrações. A imagem representa algo. E, se representa é porque algo está ausente, mas o aspecto visível da imagem permite trazer presente algo que já se foi. A imagem original de Nossa Senhora de Nazaré ou a imagem de Plácido, como é conhecida, mede 38 centímetros, pesa menos que sua coroa. A imagem Peregrina é uma réplica produzida na década de 1960, um pouco maior. Mede 51,50 centímetros. Ambas talhadas em madeira e policromadas artisticamente pelas mãos humanas e se transformam em dispositivo que desperta os sentidos e encontra na representação humana dois elementos primordiais: a capacidade de se reconhecer como humano e a capacidade de eleger essa representação como o próprio representado.

Diante dessas imagens e de outras imagens sagradas, o devoto se aproxima daquela que é igual, de carne, osso, alma e coração e a enxerga com olhar que transcende à simples matéria, com o olhar do coração, muitas vezes apertado de angústias, dores e saudades, um vínculo de entrega e reconhecimento que se estabelece em quatro ações: veneração, petição, agradecimento e satisfação. Essas ações possuem um duplo aspecto: um interior, que demanda o espírito, a inteligência e a vontade; outro exterior quando os sentimentos do espírito se manifestam nas ações do corpo.

Aqui nasce outra lição, a ação do corpo nas manifestações de fé exige humildade e respeito. Pode ser na vela acesa que queima diante da imagem ou no toque do manto com olhos cerrados... O caminho percorrido de joelhos, solitário, mas cercado de solidariedade ou o puxar da corda, na borbulhante aura de calor humano que envolve cada devoto em um único cordão... Ou um simples gesto de entregar um copo de água. Gestos, apenas gestos que exigem um total desprendimento de si mesmo, para manifestar o agradecimento, junto a outros que compartilham do mesmo desejo. É a mortificação do corpo para a vivificação plena do sentido de fraternidade.

Maria, a Senhora nos traz a lição do gesto simples. Apenas um SIM, foi o bastante para viver a experiência de ser a Mãe de Deus. Apenas uma viagem para visitar sua prima Isabel, que também estava grávida, foi o bastante para ser proclamada como “Bem aventurada”. Apenas a presença no Calvário de seu Filho, silenciosa em sua dor, foi o bastante para estabelecer o laço orgânico com a morte corporal, sendo poupada de tal experiência. Apenas com sua permanente oração juntos aos apóstolos após a morte e ressurreição de seu Filho, foi o bastante para confirmar sua própria redenção de corpo e alma.

Neste ano de 2021, ainda vivendo em um contexto pandêmico, essa é uma lição necessária. E talvez descortine a maior lição do Círio através de Maria: a reciprocidade, que permite o sincronismo de movimentos em um mar de gente, que permite o cuidado de si e o cuidado do outro, que permite ter a certeza de que o Círio vai além da procissão, pois nosso apelo à Minha e à Nossa Senhora jamais ficará sem resposta! Valei-me Minha, Nossa Senhora de Nazaré!

 

Idanise Sant’Ana Azevedo Hamoy  é arquiteta, licenciada em Artes e professora

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