Mais um segundo domingo de Outubro

Albano Martins / Especial para O Liberal

Raia o sol de mais um segundo domingo de outubro em Santa Maria de Belém do Grão-Pará. É o sol de um dia diferente, um dia que enche a alma de amor, esperança e gratidão. É o sol de mais um dia de Círio, um sol mais brilhante, vívido e generoso, a esquentar a pele com calor humano.

Podem estar vazias as ruas, podem estar assustadas as pessoas, pode estar nos espreitando o vírus. Podem ser muitas as cautelas, várias as restrições, eloquentes os silêncios que ecoam das esquinas. Podem não tocar tão cedo os despertadores, pode não haver corda a enlaçar a multidão, muitas fitas não serão atadas aos pulsos.

É provável que os hinos estejam tocando mais baixo, pode ser que algumas casas não tenham sido pintadas, e que alguns quartos de hóspedes estejam vazios. Pode ser também que muitos pés não estejam descalços e que muitas mãos não terminem o dia tão calejadas.

Pode até ser mais fácil matar a sede, e pode ser que nem haja tanta sede. Os garis talvez não coletem tantos copos e garrafas, e talvez não caia do céu tanto papel picado, tanta serpentina. Muitos fogos certamente não serão detonados, e talvez não vejamos tantos anjinhos a flutuar pela cidade nos ombros de pais emocionados.

Tudo isto pode acontecer mais uma vez, tal como aconteceu no ano passado, e tal como esperamos que nunca mais volte a acontecer. Ainda assim, ainda que tudo isso infelizmente seja real, ainda assim terá raiado o sol de mais um segundo domingo de outubro em Santa Maria de Belém do Grão-Pará, e isso jamais será corriqueiro, jamais será comum, jamais será vazio.

Sempre haverá cor, cheiro e sabor nos outubros desta terra. Lágrimas seguirão escorrendo dos olhos, lavando das faces a poeira do isolamento. Graças seguirão sendo suplicadas, bênçãos derramadas em abundância. Orações fervorosas preencherão a quietude, muitos joelhos estarão dobrados e inúmeros abraços serão postos em dia.

Cozinhas estarão movimentadas, e por certo haverá quem se preocupe em movimentar aquelas tantas em que o pão é escasso. Haverá caridade. Mágoas serão desfeitas, afetos serão alimentados.

Haverá perdão. Estará pairando no ar o odor da maniva e a fervura do tucupi colorirá de amarelo muitas panelas, infelizmente menos panelas do que gostaríamos de ver cheias - enchê-las seguirá dependendo de nós.

Um brinquedo de miriti vai trazer uma reminiscência de infância e, com ela, virão lembranças de outros Círios. A Imagem Original de Maria de Nazaré estará no altar da Basílica Santuário; a Imagem Peregrina estará no altar da praça. Ali pertinho o Arraial será o passeio do dia, e quando chegar o crepúsculo; como ocorre sempre que termina um segundo domingo de outubro; já estaremos saudosos, gratos por estar vivos e começando a contar os dias até o Círio do ano que vem.

 

Albano Martins é coordenador da Diretoria da Festa de Nazaré

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