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A repórter que virou promesseira

Francy Rodrigues / Especial para O Liberal

Lembro que, quando criança, só via o Círio pela TV lá em Macapá, onde nasci e fui criada. Não tinha a dimensão real de tudo aquilo.

Em dezembro de 1999, mudei para Belém, fui contrata pela TV Liberal e continuava sem imaginar que aquela imensidão de gente tinha cor, ruas molhadas, cheiro e fé.

Só 10 meses depois a ficha caiu. Eu não fui escalada para ficar na rua, na transmissão, ainda bem. O primeiro contato de um jornalista com o Círio precisa ser como expectador para que se entenda que “nenhuma explicação consegue explicar” e não corra o risco de, hipnotizado, não conseguir registrar, narrar os fatos. Naquele meu primeiro Círio, em 2000, fiquei na emissora, na edição de imagem. Acabou meu expediente antes de a Santa passar pela avenida Nazaré. A Marisa Ferrari, que era apresentadora do Jornal Liberal na época, me chamou e fomos esperar a Imagem ali na sacada da sede do Paysandu. Logo apareceu a primeira ponta da Corda, fiquei I-M-P-R-E-S-S-I-O-N-A-D-A como nunca antes. Senti uma energia e um arrepio tão fortes que tive uma reação inesperada: saí correndo em direção àquela cena: queria tocar nas pessoas. Assim o fiz. E não queria mais sair de lá.

Desde então, todas as vezes que estive no Círio como promesseira, não abria mão de ficar ali, pertinho dos fiéis, na Corda, nunca tocando nela, mas perto dos que tocavam. Ver o Círio pelas margens não era comigo. Na minha cabeça, eu não participava da procissão se não estivesse espremida, com os sapatos nas mãos, molhada de água mineral, no sacrifício junto à multidão.

Eu virei promesseira dois anos mais tarde com o empurrãozinho do meu pai. Era novembro de 2002, caminhava pela Brás de Aguiar, uma manga cai na minha cabeça, fico assustada, mas acho tudo uma piada. Alguns dias depois, começo a sentir muita dor no ouvido e tive paralisia facial. Quase três semanas depois, nada fazia a paralisa cessar. Meu pai correu de Macapá para me ajudar, em uma manhã, eu no quarto escuro porque não suportava claridade, ele me disse: vamos à Basílica. Te ajoelhas ao pé da Santa e pede uma chance. Fomos! Fiz! Uns dois dias depois, todos os movimentos do meu rosto estavam normais. Prometi que, por dez anos, eu estando ou não morando em Belém, participaria do  Círio junto aos meus irmãos fiéis e promesseiros.

Meu segundo Círio mais marcante foi em 2004, aquele que durou 12 horas. Foi meu ultimo ano como moradora da cidade. Meses depois, mudei para Brasília. Naquele dia, fui repórter de rua. Meu posto era na Basílica, ou seja, o que ficava na transmissão do começo ao fim. Lembro-me de dores nos pés e na coluna, mas não conseguia verbalizar porque, por trás do cansaço, existia algo muito maior que a gente não consegue explicar: a energia do Círio.

O Círio tem a cor da oração, tem o cheiro do suor de quem paga promessa e tem a fé inabalável de um povo que não vive sem Nazica.

 

Francy Rodrigues é jornalista e promesseira

franccy30@gmail.com

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