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Artesão dedica 35 anos à restauração de imagens e à fé em Belém

Cada etapa do processo é feita com muito cuidado, para que as imagens recuperem a sua beleza e significado espiritual

Ana Laura Carvalho

Há 35 anos, na travessa Três de Maio, no bairro de São Brás, em Belém, Luiz Guedes mantém vivo um ofício que atravessa gerações e fronteiras: a restauração de imagens religiosas. Em seu pequeno ateliê, ele transforma cada peça danificada em um símbolo renovado de devoção, especialmente neste período que antecede o Círio de Nossa Senhora de Nazaré, quando a demanda por suas habilidades cresce consideravelmente.

“Sou artesão há 35 anos aqui nesse mesmo local e já fiz muita restauração”, conta Luiz, com o olhar firme e a fala carregada de orgulho, enquanto admira as peças em seu local de trabalho. “Hoje em dia, sou reconh​ecido não somente aqui no Pará, mas fora do estado também. Muitos estrangeiros já levaram imagens restauradas daqui, e sou muito procurado pelos religiosos da região da ilha do Marajó, como Porto de Moz. Há muitos anos, restaurei também uma linda imagem do Perpétuo Socorro”, relembra.

Nascido em uma família católica, Luiz sempre esteve rodeado pela fé. “Em três décadas e meia, a gente vive o restauro das imagens e também a religiosidade. Eu sou coordenador do Terço dos Homens na Basílica. Também fui da Legião de Maria”, conta, evidenciando como o trabalho se entrelaça com sua espiritualidade.

Artesão dedica 35 anos à restauração de imagens e à fé em Belém

Neste período do Círio de Nazaré, Luiz destaca a importância do seu trabalho para a maior manifestação católica do país. “O Círio é um momento de grande devoção e emoção para os paraenses. Restaurar essas imagens, especialmente de Nossa Senhora, é como renovar a fé das pessoas. Elas vêm aqui com uma peça que tem valor sentimental enorme, e o nosso trabalho é devolver a beleza e o significado espiritual que aquela imagem representa para elas”, declara.

O caminho que o levou até o ofício de restaurador começou ainda na juventude, quando a arte lhe encheu os olhos. “Eu gostava de pintar paisagens da Amazônia, como vitórias-régias e coisas nativas. Na época, tive como mentor o professor Guilherme Leite, um grande incentivador”, recorda. “Mais tarde, quando meu pai foi transferido para Fortaleza, conheci a arte do gesso e fiquei fascinado. Fiz muito artesanato com conchas e pedras, sempre inspirado na natureza. Foi aí que minha paixão pela restauração começou a tomar forma”, afirma Luiz Guedes, que pintava quadros por meio de telas.

Com o tempo, Luiz se tornou referência em restauração de imagens católicas, embora também atenda a pedidos para restaurar esculturas de outras entidades religiosas. “O pessoal traz muita imagem das entidades, caboclos... mas o meu forte mesmo são as imagens católicas. É a nossa maior demanda. Restauramos todo tipo de imagem: grandes, pequenas, de madeira, de gesso”, diz ele, descrevendo a diversidade de trabalhos que já passaram por suas mãos.

Aos 67 anos, no entanto, o ritmo desacelerou. Luiz foi uma das vítimas da Covid-19, e como sequela, perdeu parcialmente a visão. “Depois da Covid, eu precisei diminuir o ritmo. Hoje, terceirizo o serviço de restauração. Tem uma pessoa que faz as partes mais delicadas para mim, e eu fico com os serviços mais leves”, explica, ao reforçar que, mesmo assim, a paixão pela arte de restaurar peças religiosas continua a mesma.

Luiz também fala com carinho sobre a importância da religiosidade em seu ofício. “A espiritualidade é fundamental. Como dizia o padre Zezinho: ‘Imagens são sinais a nos ajudar aonde devemos ir’. Sem a religiosidade, o vazio é muito grande. Este ano, o Papa Francisco declarou como o ano da oração, para que possamos ter esse momento de encontro com Deus”, reflete o artesão.

Sobre os materiais que utiliza em seu trabalho, Luiz é direto: “A maioria conseguimos por aqui mesmo. As tintas, por exemplo, fazemos testes até atingir a tonalidade desejada, e depois fazemos a parte da pintura, depois que a peça sai da forma”, explica. “Cada etapa do processo é feita com muito cuidado, para que as imagens recuperem a sua beleza e significado espiritual”, comenta o artesão.

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