Após 18 anos registrando o Círio, fotógrafo devoto assina imagem do cartaz oficial
Promessa de gratidão levou Osmarino Souza a transformar a fé em missão: fotografar todos os anos a grande procissão em homenagem a Nossa Senhora de Nazaré

Osmarino Souza, 60 anos, viveu um chamado que mudou sua trajetória em 2006. Desempregado após deixar o cargo de servidor do Ministério Público, ele conta que, em pleno domingo de Círio, ouviu um impulso da fé: “Conversando com a Nossa Senhora enquanto assistia à procissão pela TV, Ela mandou eu me arrumar, pegar minhas coisas que eu tinha. Era uma máquina Sony, uma pochete e minha jaqueta de fotógrafo. Quando eu vi, já estava no táxi indo pra lá”, conta.
Aquela manhã marcaria o início de uma promessa que se mantém até hoje: registrar todos os anos a procissão do segundo domingo de outubro. “A partir desse dia eu disse: ‘Eu nunca mais vou lhe abandonar. Sempre vou divulgar suas imagens’. E essa é minha contribuição de agradecimento e gratidão”, recorda.
O crachá providencial
A primeira experiência de Osmarino com o Círio foi marcada por um episódio que ele considera milagroso. Sem credencial de imprensa, enfrentou barreiras militares até chegar à curva do Ver-o-Peso. “Eu pensei: vou precisar de um crachá. Quando falei essa palavra, veio uma ventania forte da baía do Guajará, levantando vários crachás. Um deles veio enrolar na minha pochete. Eu desenrolei, coloquei em mim e agradeci: ‘Obrigado, Nossa Senhora, agora a partir de agora é comigo’”.
Com aquele crachá que não era de imprensa, mas sim de acesso dos feirantes ao Ver-o-Peso, conseguiu se aproximar da berlinda.
“Passei pelos cordões e, quando vi, estava diante da Imagem. Desde então, nunca mais deixei de fotografar o Círio”, lembra.
Antes de se dedicar à fotografia do Círio, Osmarino havia descoberto o gosto pelas imagens no trabalho no Ministério Público. Em 2004, uma pauta o aproximou ainda mais da festa. “A corda do Círio mudou para o formato de um terço, com cinco estações, e chegou essa missão para mim: acompanhar como seria esse primeiro teste. Até fotos aéreas eu fiz na época, para o promotor visualizar”, explica.
O convite do cartaz
Após 17 anos fotografando o Círio, Osmarino recebeu, em 2024, o convite para assinar a fotografia da Imagem Peregrina no cartaz. “É muito gratificante, porque é tipo uma coroação da promessa que eu fiz lá no início. Eu fui atendido, e minha promessa é essa: fazer todos os anos imagens da grande festa de Nossa Senhora de Nazaré”, resume.
A responsabilidade trouxe noites de ansiedade. “Nas vésperas eu já nem dormi direito, pensando nesse encontro. Fiz a fotografia no dia 19 de setembro de 2024, junto com meu amigo Cristiano Cantão, que fez a parte da luz. Foi emocionante”, acrescenta.
Gosto pelo desafio
Entre os registros que mais o marcaram estão os que exigem esforço e improviso. “Eu gosto de fazer ‘o diferente’. Já subi nas torres da igreja da Sé, escondido, para dar um furo. Hoje já tenho um carinho especial com a Guarda [de Nazaré], que me conhece e às vezes me libera para chegar mais perto da berlinda. Mas o que eu gosto mesmo são as fotos difíceis, que exigem preparação e fé”, revela.
Apesar de convites para integrar a assessoria de comunicação da Guarda, ele prefere manter a missão por fora do cordão. “Não gosto de facilidade”, pontua.
Ritual
A cada ano, o ritual se repete: pegar a credencial de imprensa pela revista para a qual presta serviço, agradecer diante da Basílica e plastificar o documento com o seu Raimundo, na travessa 14 de Março, atrás do Santuário. “A gente não pode só pedir, tem que agradecer, ser luz, exemplo para as pessoas. Mostrar o que é o bem, o amor, a fé… ter o coração aberto para ajudar. Eu agradeço sempre nas minhas orações para que nunca me falte força e saúde, para acompanhar e levar as imagens aos quatro cantos do mundo”, conclui.
A cobertura do Círio de Nazaré 2025 de O Liberal tem patrocínio do Banco da Amazônia, Natura, Atacadão, Liquigás, além do apoio da Vale.
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