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Ambulante se despede do Círio com gratidão

Cearense vem de longe tentar a sorte e encontra em Belém o ganha-pão para família

João Paulo Jussara

Às vésperas do Recírio, a última romaria do Círio de Nazaré, o sentimento de despedida já toma conta dos profissionais que enxergam na festa religiosa uma grande oportunidade de trabalho. Mas para grande parte destes trabalhadores, trata-se de algo muito maior. A fé em Nossa Senhora de Nazaré e os anos acompanhando a maior procissão religiosa do mundo, para muitos, significa renovação. Com o fim de mais um Círio, ficam as histórias de tantas vidas alteradas pela fé, e o sentimento de gratidão pelas graças alcançadas.

Aos 22 anos, o autônomo Francisco Jocelio veio a Belém pela quarta vez para vender artigos religiosos durante o Círio. Em 2016, ele saiu de sua cidade natal, Canindé, no interior do Ceará, em busca de melhores oportunidades de trabalho. Por lá, acontece uma das romarias religiosas mais famosas do Brasil: a Romaria de Canindé, que reúne, anualmente centenas de milhares de romeiros vindos de todo o país em uma procissão que homenageia São Francisco de Chagas.

Em sua terra natal, Francisco, desde muito jovem, trabalhava com venda de artigos religiosos, como terços, escapulários e imagens de santos. Aos 18 anos, descobriu que em Belém, distante cerca de 1.400 quilômetros de casa, também havia uma festa religiosa que movimentava milhões de paraenses e turistas todos os anos. Arrumou as malas, e decidiu tentar a sorte. "Lá, a festa acontece no mês de setembro. Mesmo a gente trabalhando todos os anos, não era o suficiente pra ajudar no sustento de casa", conta.

image Francisco Jocelio e os produtos expostos para venda (Oswaldo Forte / O Liberal)

Filho de uma feirante, o jovem vendedor nunca teve uma vida fácil. Foi preciso, desde muito cedo, ajudar a mãe a colocar o pão na mesa, e por isso, grande parte da infância se perdeu. Ao descobrir que teria uma oportunidade de conseguir vender seus produtos em uma festa religiosa parecida com a que já estava acostumado, mas com dimensões muito maiores, pegou um ônibus e seguiu rumo à capital paraense, em uma viagem que durou quase 24 horas.

A primeira experiência com o Círio já foi inesquecível. "Chegar aqui e ver aquela multidão tomando conta das ruas, não tem quem não fique emocionado", lembra Francisco. No dia da Grande Procissão, vendendo seus produtos próximo à Basílica de Nazaré, no momento em que a Imagem de Nossa Senhora de Nazaré passou em sua frente, ele fechou os olhos e fez um pedido. "Eu pedi que tivesse sucesso no meu trabalho e que eu conseguisse, um dia, ter a minha casa própria. Em troca, eu viria para Belém todos os anos, trabalhar no Círio e também prestar minhas homenagens a ela".

Naquele ano, Francisco viu seus produtos esgotarem todos em menos de três dias. Ele conseguiu juntar um dinheiro, voltou para Canindé, e se preparou para voltar no próximo Círio com um estoque de produtos religiosos muito maior. Já em 2017, o vendedor viu os lucros triplicarem. "O que eu passei a ganhar juntando os dois eventos, a Romaria de Canindé e o Círio, era algo muito maior do que eu já tinha conseguido antes".

Em 2018, após participar do terceiro Círio, já trabalhando com estoques muito maiores, Francisco viu o pedido feito em 2016 sendo realizado. "Com muito trabalho, e principalmente, com muita fé, eu consegui comprar a minha casinha lá na minha cidade", disse, sem segurar as lágrimas. "A fé que eu tenho hoje em Nossa Senhora é algo muito grande. Eu só posso agradecer à Nazinha, aos paraenses e a essa cidade tão linda, que agora virou uma segunda casa pra mim. Hoje eu posso dizer, com muita alegria, que o Círio de Nazaré transformou a minha vida".

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