A pé pela rodovia BR-316, romeiros já estão a caminho de Belém para o Círio 2024
Poucos dias antes da grande festa do Círio, grupos de fiéis caminham para a capital paraense motivados pela devoção
Faltando menos de uma semana para a grande celebração do Círio de Nazaré 2024, vários romeiros já passam a ser vistos em meio a sua jornada de fé caminhando rumo a Belém, para a Basílica Santuário de Nazaré. Na manhã desta terça-feira (8), diversos grupos foram registrados fazendo esse trajeto a pé, pela rodovia BR-316, onde ficam alguns pontos de apoio que auxiliam durante o trajeto. Após dias de caminhada, com atadura nos pés, chapéus nas cabeças e motivados pela devoção, os fiéis se emocionam durante a demonstração de fé.
Um dos grupos, “Romeiros de Peixe-Boi”, com 35 romeiros que saíram do município de Peixe-Boi, nordeste do estado, se aproximava do município de Castanhal por volta das 10h. O pintor Rubens Moraes, conhecido como Tabaco, de 59 anos, contou que o grupo, que faz a peregrinação há seis anos, partiu às 8h da noite do último domingo, com previsão de chegar a Belém na próxima sexta-feira (11), por volta das 12h.
“Há seis anos atrás, o meu filho levou um tiro na cabeça quando foi vítima de um assalto e a gente colocou a vida dele na mão de Nossa Senhora. Essa foi uma graça alcançada. Começamos com 19 romeiros e hoje cresceu muito. Infelizmente neste ano muitas pessoas não puderam vir, mas mesmo assim conseguimos trazer uma equipe boa”, relata o romeiro.
Rubens comentou que os momentos mais difíceis da peregrinação é encarar o sol durante a manhã, logo, eles optam por começar a caminhada ainda de madrugada, mas sempre contando com uma equipe de apoio que os acompanham durante o trajeto com um carro carregando uma réplica de Nossa Senhora de Nazaré, levando um freezer com água, bem como, com alimentos e materiais de primeiros-socorros.
“Nós saímos 8h da noite no domingo paramos por volta das 1h da manhã. Descansamos e recomeçamos às 3h até chegar em Santa Maria. Temos mais uma equipe de apoio que nos ajuda. Mas o momento mais complicado é durante o dia, porque o sol está muito quente. A gente procura sair mais cedo pra gente não pegar muito sol”, diz.
O romeiro conclui que a fé é a maior força que todos eles têm para concluir a peregrinação todos os anos e chegar à Brasília de Nazaré. “Tem que ter muita fé pra gente seguir. É a fé que nos move. Chegando lá na Basílica, a gente vai rezar, vai acompanhar a missa E no domingo do Círio, todos nós estaremos lá presente para sentir de perto essa linda energia”, finaliza Rubens.
Proteção para os pés
A agente comunitária de saúde Walkiria Oliveira, de 54 anos, outra integrante do grupo de Peixe-Boi, usava chapéu para proteger contra os raios solares e meia e esparadrapo para proteger o pé em meio a essa longa caminhada. "Uma forma de agradecimento pela vida do meu filho. Sábado vai fazer 8 anos de um acidente que ele sofreu. Esse momento de caminhada é bem difícil, mas penso em Nossa Senhora de Nazaré para não fraquejar", conta.
Proteção de Nossa Senhora de Nazaré
A cuidadora Raquel Oliveira, de 35 anos, também comentou que a quentura do sol é um dos principais desafios. Mas, ao caminhar à noite, os riscos com a segurança dos romeiros também é uma grande preocupação do grupo, entregando nas mãos de Nossa Senhora a proteção de todos durante a peregrinação.
“Durante o dia, para nós romeiros, é muito desgastante a questão do sol. E além da quentura do sol, tem a quentura do asfalto, que nos ocasiona bolhas, calos, então isso acaba prejudicando muito a questão da caminhada em si. Por outro lado, caminhar de madrugada é melhor, mas tem a questão do perigo. Teve um episódio em que a gente tinha acabado de chegar em um dos nossos pontos de apoio para descanso na segunda-feira, e assim que a gente tirou os colchões e deitou para descansar, apareceu duas pessoas de moto na tentativa de nos assaltar. Por obra divina, a gente acredita que foi por obra divina, apareceu uma viatura da Polícia Militar e interveio, e nos livrou dessa situação”, disse Raquel.
Caminhada de 115 km
Com boné na cabeça, ataduras nos pés e muita disposição, 30 devotos do município de Santa Maria do Pará saíram da cidade, às 15 horas de segunda-feira (7), com a missão de caminhar 115 km até a capital.
Eles fazem parte do grupo Unidos Pela Fé, que todos os anos realiza a caminhada antes do Círio. “Eu participo dessa caminhada há sete anos, sempre em agradecimento à saúde da minha família, à minha saúde. Esse ano não fiz nenhuma preparação. Estou aqui movida pela fé e em agradecimento”, contou a romeira Ariana Nascimento, autônoma de 35 anos. A previsão é que eles cheguem em Belém nesta sexta-feira (11), disse a integrante da turma.
A romeira contou que o trajeto mais complicado é entre os municípios de Santa Maria do Pará e Castanhal. “A parte mais complicada do trajeto é Santa Maria-Castanhal, porque a gente não tem apoio. Apoio com água, porque a gente traz a nossa equipe. Mas, às vezes, tem um percurso muito longo e não conseguimos ter esse apoio. Vai começar a melhorar a partir de Santa Isabel. Vai dar uma melhorada, com pessoas nos dando o apoio com água e alimentação”, explicou Ariana.
Há mais de uma década acolhendo os romeiros
O sítio da Rita Barreto, a “Dona Rita”, de 76 anos, é um dos 13 pontos de apoio espalhados ao longo da rodovia BR-316. Ela conta que há 11 anos acolhe os romeiros de diversas localidades do estado, tendo a expectativa de acolher cerca de sete mil este ano, fornecendo 400 litros de suco natural e de sopa por dia nesse período.
“Faz 11 anos que, com muito amor e com muita dedicação, nós cuidamos desses romeiros. Porque eu digo que aqui eu não tenho nada, aqui tudo é nosso. É um prazer eu receber vocês aqui na minha casa, todos, todos, não tem distinção. Porque eu amo do fundo do coração", disse. "Eu não acolho só agora, eu passo o ano todinho acolhendo todo mundo. O Círio começa aqui, e esse ano espero poder acolher sete mil pessoas, bem mais que no ano passado, que foram seis mil pessoas”, contou dona Rita.
Paulo André Freitas, da Diretoria de Festa de Nazaré (DFN), esteve no sítio da “Dona Rita”, na manhã desta terça-feira, para levar doações de itens coletados pela diretoria. “Estamos aqui fazendo uma doação do que foi arrecadado lá na casa de acolhida aqui para esses dois anjos, com mais o pessoal que ajuda ela aqui, que são as filhas, os filhos, os genros a dona Alba e a dona Rita. Há mais de cinco anos estamos fazendo esse trabalho aqui que há vários anos acolhem os peregrinos que vão caminhando até a Basílica Santuário”, disse.
*Lucas Quirino (Estagiário sob supervisão de João Thiago Dias, coordenador do núcleo de Atualidade)
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