49ª Festa da Chiquita celebra diversidade e fortalece rede de acolhimento LGBTQIA+ em Belém

Mais do que uma festa, a Chiquita se consolida como símbolo de resistência e espaço de produção artística e afetiva na capital paraense

Gabriel da Mota
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Muito além do palco montado na praça da República na noite da Trasladação, a Festa da Chiquita tem se consolidado como uma rede afetiva, política e cultural de acolhimento e visibilidade da população LGBTQIA+ em Belém. Um dos principais exemplos dessa estrutura é a Casa da Chiquita, localizada na rua General Gurjão, esquina com a travessa Frutuoso Guimarães, no bairro da Campina. É ali que artistas, produtores e militantes se encontram durante os preparativos da festa — e também ao longo do ano — para costurar fantasias, alinhar espetáculos, compartilhar histórias e afirmar sua presença na cidade.

Para Johann de Paula, 28 anos, cantora drag que mora em Ananindeua, na região metropolitana de Belém, a casa é um espaço que transcende a logística do evento e se torna abrigo simbólico de expressão e pertencimento.

“A Casa da Chiquita foi criada para dar suporte à produção e aos artistas da festa, mas é muito mais do que isso. É onde a gente se reúne, conversa sobre o cronograma, se monta, se prepara”, conta. “Este ano vou me apresentar no espetáculo Chiquita para Sempre, que celebra o legado da festa através das gerações. Também ajudo na comunicação, mas, na noite do evento, meu foco é o palco”, relata.

A arte como refúgio

Com 47 anos e mais de uma década de atuação nos palcos da Chiquita, a cantora Amanda Souza reforça o papel social do espaço. Mulher trans e artista da noite, Amanda se encontrou como cantora no evento e hoje integra o grupo Filhas da Chiquita, que se apresenta nesta edição com um repertório centrado no brega paraense.

“A Casa da Chiquita é um espaço feito para nossa cultura e nosso acolhimento. Como mulher trans, vejo a importância de ocupar lugares como esse. É ali que a gente desenvolve arte, se expressa e encontra visibilidade. E isso é essencial”, afirma.

image Johann à esquerda, Elói ao centro e Amanda à direita; preparação para a Festa inclui ensaios desde setembro (Carmem Helena / O Liberal)

Amanda lembra que o espaço foi também porta de entrada para um novo momento artístico em sua trajetória. “Quando conheci o Elói, ele me levou para dentro desse mundo e comecei a me apresentar na festa. Hoje, defendo a bandeira do brega com muito orgulho. Já lancei música na Chiquita e volto este ano para mais uma apresentação. É sempre uma honra.”

Do encontro ao futuro

Criador da Chiquita, o artista Elói Iglesias vê na casa uma extensão natural do movimento iniciado no fim dos anos 1970, que começou como um bloco irreverente de artistas e se tornou um dos maiores eventos de afirmação LGBTQIA+ do Norte do Brasil. “A casa é um espaço de passagem e de encontros. Dela saem projetos, performances, cortejos. É onde nasce, por exemplo, a ‘Transviadação’, que é um cortejo de viados, de travestis, de todo o nosso povo, saindo da casa no momento em que a Trasladação passa pelo Theatro da Paz, indo até o palco da festa”, explica.

Neste ano, a Festa da Chiquita chega à sua 49ª edição com ainda mais reconhecimento. O projeto foi contemplado com o Prêmio Rodrigo de Melo Franco de Andrade, concedido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) a iniciativas de salvaguarda cultural em todo o país. “Fomos o projeto mais bem pontuado entre quase 400. É um reconhecimento enorme do valor histórico, social e simbólico da Chiquita”, afirma Elói.

image Elói reforça que a Chiquita é um território de convivência entre gerações, desde os bastidores até os palcos (Carmem Helena / O Liberal)

Com o incentivo, cresce o sonho — agora palpável — de criar o Museu da Chiquita. “Queremos contar as histórias reais da festa, mostrar o que ela representa. São décadas de encontros com figuras como José Sarney, Fafá de Belém, Gaby Amarantos, Paulo Vieira... É uma história viva da cidade. E criar esse museu é uma forma de combater o preconceito com memória, afeto e arte”, destaca.

Para além da festa, da música e dos holofotes, a Chiquita resiste como uma travessia coletiva. “A quadra nazarena permite tudo: a fé, a má fé, o brega ou chique, o amor, a travessura. E o milagre, muitas vezes, acontece por isso mesmo”, finaliza Elói.

A cobertura do Círio de Nazaré 2025 de O Liberal tem patrocínio do Banco da Amazônia, Natura, Atacadão, Liquigás, além do apoio da Vale.

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