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Cidade Velha e esquecida

Bairro mais antigo de Belém tenta manter a dignidade dos primeiros tempos

Victor Furtado/ Redação Integrada
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Belém foi fundada em 1616, a partir da fortificação que hoje é um dos pontos turísticos mais visitados do bairro e da capital, o Forte do Presépio (Forte do Castelo). É ali que começa a primeira e mais emblemática ocupação da Amazônia brasileira e forma uma das cidades históricas mais relevantes do país. O bairro mudou muito em 402 anos, mas mantém viva e pulsante uma memória que inspira a identidade amazônica. E cuidados para preservá-la. 

O Forte do Castelo é uma estrutura que fica na confluência do rio Guamá com a baía do Guajará. Um ponto estratégico para observação e defesa do novo território. O acesso era difícil porque era cercado por um alagadiço, conhecido como Piri. Para o geógrafo e antropólogo Edgar Chagas Junior, professor doutor da Unama, é um dos mais significativos marcos da história da Amazônia por ser o início de tudo.

A primeira rua de Belém era chamada de rua do Norte, aberta em 1621. Ia da praça das Armas até a casa do capitão-mor do Pará. Hoje, essa via é conhecida como Siqueira Mendes. A Ordem dos Carmelitas, ainda no século XVII fundou a igreja do Carmo. Foi quando novas ruas se abriram. Assim começou o primeiro núcleo de povoamento.

Esse processo seguiu até 1700, apresentando um grau mais avançado de urbanização. A colonização sempre fugia das áreas alagáveis. Por isso o início do desenvolvimento de Belém foi nas áreas que hoje compreendem a Campina e a Cidade Velha.

Segue-se a construção do convento dos Capuchos. Mas a posição do convento se mudou para a margem norte do Piri. E os focos de ocupação urbana acompanharam. Onde as igrejas se posicionavam, no entorno ocorriam as ocupações. Muitos comerciantes aproveitaram as vias abertas que passavam próximo às margens do rio e da baía para se instalar.

Daí foram surgindo todas as outras estruturas: largos, praças, comércios, áreas residenciais, teatros... Esse cenário ia sendo sempre redefinido e reorganizado conforme mudanças sociopolíticas e culturais e conveniência. Desde o século XIX, o nome Cidade Velha já estava atribuído ao bairro.

O perfil socioeconômico do bairro se transformou constantemente e hoje sobrevive, sobretudo, do comércio e do comércio informal. O turismo é relevante e abarca muitos serviços que se valem da importância cultural e história da área. Há ainda industrias, feiras, mercados, administração do poder público, portos e organização referencial do transporte público.

Todo o furor da ocupação de uma nova área foi acabando. A importância econômica da Cidade Velha foi diminuindo. E no processo de expansão, ficou em segundo plano. Mas ali restam edificações portuguesas que o geógrafo e antropólogo considera relevantes à identidade da cidade, como as que ficam no entorno do Ver-o-Peso e praça do Relógio. "Essas construções se processam na memória e criam laços de afeto, diz.

"Diferente do bairro vizinho, a Campina, a Cidade Velha é vista como um bairro histórico. Tem a maior concentração de pontos históricos, como Catedral da Sé, igreja de Santo Alexandre, o Forte do Castelo, Casa das Onze Janelas (antigo hospital militar), igreja de Nossa Senhora do Carmo, igreja de São João Batista, prédio do Corpo de Bombeiros, o colégio Paes de Carvalho, o Quartel General, palácio Lauro Sodré, palácio Antônio Lemos os antigos cinemas Guarani e Universal, o praça Caetano Brandão e mais recentemente o prédio da Bechara Mattar, que pegou fogo...", elenca o professor.

Como estado espaço histórico, ressalta o professor, o bairro é referência de criação de afeto, memória, resistência da manutenção de uma paisagem estética histórica e que mantém um cotidiano feito pelas pessoas e pelos sentidos construídos por aquela paisagem. Isso determina a necessidade de cuidados intensos por parte do poder público para conter o avanço da degradação evidente do patrimônio histórico.

"Solar da Beira é exemplo proeminente disso. Está abandonado e diz muito sobre o que somos e como cuidamos de nossa memória. Cuidar dese espaço é cuidar de nós mesmos. Assim pensamos em nós mesmos no cotidiano e entender os processos históricos. O que constitui Belém hoje é aquilo que existiu. Para o futuro, é necessário manter a memória viva, visível na arquitetura, para entender o que somos e quem fomos", analisa.

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