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Carimbó é resistência da cultura popular na Vila de Itupanema, em Barcarena

Grupo de carimbó Afro Raízes luta contra a falta de incentivos para preservar as tradições regionais

Fabyo Cruz
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O carimbó do Pará, considerado patrimônio imaterial do Brasil, é um dos principais símbolos da cultura popular amazônica. Há mais de 12 anos, integrantes do grupo de carimbó Afro Raízes, da Vila de Itupanema, em Barcarena, município localizado no nordeste paraense,  cumprem a missão de preservar a tradição de origem africana, indigena e europeia, em meio aos avanços da globalização. Entretanto, além de encarar o “gigante invisível” que fomenta a “aldeia global”, a defesa pela identidade local esbarra em outros obstáculos, como a falta de incentivo. 

A turma de carimbó Afro Raízes é formada por dez integrantes, com faixa etária entre 18 a 30 anos, composta por músicos, dançarinos e membros da diretoria, todos habitantes de Barcarena. Os treinamentos para as performances ocorrem aos sábados, por volta das 19h, quando cada integrante encerra seus afazeres domésticos ou profissionais, em um espaço cultural concebido por recursos da Lei Aldir Blanc, que prevê auxílio financeiro ao setor de cultura. O grupo nasceu a partir de uma equipe de capoeira chamada Ilha de Maré e, posteriormente, do conjunto de quadrilha de festa junina Encanto Junino, conta o coordenador do plantel José Alberto Ferreira da Silva, 49 anos, conhecido na localidade como mestre “Máscara”. 

image A turma do Afro Raízes é formada por dez integrantes, com faixa etária entre 18 a 30 anos, composta por músicos, dançarinos e membros da diretoria, todos habitantes de Barcarena (Prefeitura de Barcarena)

“O nosso principal objetivo é incentivar crianças, jovens e adultos. Atualmente é muito difícil ver, por exemplo, um jovem de 15 ou 16 anos que queira dançar quadrilha ou carimbó. Então, isso está se acabando. Em 2010, nós tínhamos 32 quadrilhas e, hoje, temos apenas cinco. Já em relação aos grupos de carimbó, agora só existem três. Antigamente, nas escolas, cada uma delas tinha o seu grupo de carimbó, ou seja, era incentivado nos colégios. Hoje não tem mais isso! Se você convidar um jovem para dançar, ele provavelmente não vai querer”, afirmou Máscara.

Para Máscara, que também é mestre em capoeira, mesmo com tantas adversidades, o amor pela cultura popular é o que motiva o grupo Afro Raízes a não desistir de convidar novos participantes, realizar ensaios e fazer apresentações pelo estado. “Tem um amigo meu que criou um grupo aqui em Barcarena, porém,  ele me disse recentemente que estava desistindo por não ter retorno, apoio, e eu disse para ele que, infelizmente, hoje, para se fazer algo assim, é por amor mesmo. Não adianta esperar por um retorno financeiro que ele não vem”, comentou.

O coordenador lembrou que antigamente existia um incentivo financeiro municipal que era destinado aos grupos de carimbó de Barcarena. Segundo ele, o recurso deixou de ser ofertado após a crescente de coletivos fantasmas que tentavam angariar esses recursos de maneira ilegal: “Antes tínhamos o apoio da secretaria de Cultura. Em todas as quadras juninas, as quadrilhas fundavam grupos de carimbó ou de qualquer outro tipo de dança folclórica. E todos recebiam recursos da secretaria, no entanto, vários grupos deixaram de existir, mas continuavam recebendo. Até que foi feita uma fiscalização. Por um pagaram todos, e nós fomos prejudicados”.

As despesas para manter um grupo de carimbó são diversas. Para tocar as músicas, são utilizados instrumentos musicais chamados de “pau e corda”, como os curimbós - tambores indígenas que deram nome à dança -, afoxé, banjo, flauta, ganzá, maracá, pandeiro e reco-reco. Há grupos que também utilizam o teclado e o violão, inclusão que, na visão de máscara, descaracteriza a essência da prática. As vestimentas dos dançarinos são marcadas pelas saias coloridas e volumosas das mulheres e as calças curtas e chapéus de palha dos homens. Para custear todos esses itens e outras necessidades são realizados bingos, rifas e até doações dos próprios integrantes. “Fundei o grupo de capoeira há 16 anos, dentro desse tempo nós nunca cobramos um centavo de ninguém, o que nós queremos é divulgar a nossa manifestação cultural”, afirmou.

Um dos sonhos do coordenador era criar um festival de carimbó na cidade. Ele conta que chegou a fazer reuniões com representantes de outros grupos, porém, pela falta de apoio, o projeto ainda não saiu do papel. Entretanto, o grupo não deixou de fazer suas apresentações pelo estado. As próximas apresentações estão marcadas para o dia 4 de junho, durante o concurso Rainha do São João Mirim, a partir das 18h, em um estabelecimento de Itupanema. E no final do mês de junho, na entrega de um conjunto habitacional próximo à praia do Caripi.

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