Autismo em foco: confira como agir para proteger a pessoa com autismo de bullying

Na volta às aulas, pais e escolas devem atuar conjuntamente contra essa prática que atinge crianças e adolescentes de forma estrutural

Eduardo Rocha

Na volta às aulas, após um período de convivência pontuada por momentos de lazer e entretenimento em Belém e em áreas de praia no interior do Estado ou fora do Pará, a atenção com a prática do bullying faz parte dos pais de filhos com autismo, em especial, crianças. Mas, como prevenir e de que forma atuar quando uma situação desse tipo acontece? A pedagoga analista do comportamento Noah Chiavenato explica, nesta 10ª reportagem do “Autismo em Foco”, que o bullying pode ocorrer de maneiras diferentes. Pode ser aquela piadinha sem graça que envolve a criança ou o adolescente; pode ser um gracejo, um xingamento mesmo. Nesse caso, chamar de “doido” ou “burro” para a pessoa, sem respeitar as potencialidades e dificuldades daquele ser. 

“Pode vir, inclusive, em forma de agressão; existem crianças que passam e são empurradas , isso acontece com bastante frequência. O bullying é muito frequente na escola, principalmente, porque é onde tem ali um público muito grande, tem diversas crianças, com também diferentes níveis de entendimento e de caráter. Quem pratica o bullying  está tendo um desvio de moral e ética”, ressalta Noah.

Percepção

Quando se faz a gracinha e o outro ri, isso aumenta a possibilidade de que isso possa acontecer novamente. Então, se tem um ambiente propício para essa ação, que é em geral praticada pelos colegas da mesma turma ou de outras salas. “Por mais grave  o grau de autismo, o aluno percebe quando é querido ou não é querido, quando agrada ou desagrada, ele percebe cada reclamação, cada xingamento, isso também mexe com a autoestima da criança, comportamentos, a ponto de uma criança não querer ir para a escola, de não querer entrar, que chora quando sabe que vai para a escola”, pontua a pedagoga. Nesse caso, os pais devem ficar atentos para verificar a razão desse comportamento da criança.

image Pedagoga Noah Chiavenato (Thiago Gomes / O Liberal)

Estudantes com autismo são excluídos. No caso de atividades em grupo, são  os últimos a serem escolhidos pelos grupos. Na prática esportiva, ninguém os quer na equipe. Isso acontece também, em particular, com relação a adolescentes, no ensino fundamental 2 e ensino médio, que têm uma percepção maior de si. 

“E isso abala psicologicamente esse aluno de uma maneira muito grande, baixando a autoestima; a gente tem muitos casos de óbitos de autistas relacionados até a suicídio, por conta dessas práticas de bullying;  então, ele se sente incapaz, ele não é como os outros; a própria rede de amizades que não existe, isso também influencia”, alerta Noah Chiavenato. Por isso, há necessidade de se fazer um trabalho de conscientização da comunidade escolar acerca da pessoa com autismo.

Os pais devem, acima de tudo, trabalhar a autoestima da criança que já sofreu o bullying. Entretanto, o ideal é se prevenir, impedir que o bullying aconteça  com suas consequências. Geralmente, a criança que sofre bullying na escola apresenta comportamentos em casa, de resistência ao ambiente escolar. Daí, a família deve ficar de olho nos indícios que ela apresentar. 

Já a escola deve fazer um trabalho com os colegas dos alunos com autismo e com o corpo de professores e funcionários da instituição. Os estudantes em geral precisam entender o que é o autismo e saibam que a criança com essa característica apresenta limitações e potencialidades, habilidades. “É importante que a gente mostre para esses alunos as potencialidades dessa criança com autismo”, enfatiza Noah. Essa criança tem facilidade em aprender idiomas, têm uma audição aguçada. A descoberta dessas potencialidades pode fazer com que a criança seja admirada e não criticada. É o caso de trabalhar com quem convive com a pessoa com autismo. 

Dispor de atendimento psicológico é muito importante para a pessoa que sofreu ou sofre bullying, para ela voltar a acreditar nela mesma. O bullying é crime previsto na lei nº 13.185, e no artigo 146 do Código Penal está enfocado o ato de constrangimento, que caracteriza essa prática contra a integridade da pessoa. As penalidades aplicadas nesse caso abrangem três meses a um ano de prisão ou multa. A pessoa atingida por essa prática ou seus responsáveis devem procurar os meios legais, inclusive, fazendo o boletim de ocorrência. 

Na volta às aulas, seria importante a escola promover a sensibilização dos alunos e profissionais na instituição, sem a presença da criança com autismo, acerca das potencialidades da pessoa. Isso visando um semestre mais acolhedor para com esses alunos.

Em todos os níveis 

O bullying atinge estudantes em todos os níveis educacionais, ou seja, do ensino fundamental e médio até o ensino superior. Tem sido assim com  o jovem Alkir Viana, 23 anos, que cursa Farmácia em uma universidade pública em Belém. Desde garoto, ele enfrenta situações de bullying. Quando menino, era chamado de “estranho”, “nerd”, vivia isolado e para ter “amigos” levava dois lanches de casa, um deles para “dar”, e, depois, comprava dois lanches. 

image Alkir e Walquíria Viana: juntos contra o bullying (Foto: Reprodução / Aquivo Pessoal)

“Na universidade, sou chamado de “chato”, tenho de conviver com gracejos e imitações dos meus movimentos”, denuncia Alkir. Sobre o fato de sofrer bullying, ele enfatiza que “é como se eu não existisse, e isso dói muito”. Mas, ele segue em frente, pedindo forças a Deus, e mantém o sonho de ser cientista, dar um legado à sociedade, como um medicamento para pessoas com autismo, tema do TCC dele. Nessa busca por melhores dias, Alkir conta com o apoio de tia Walquíria Viana que o adotou e de alguns amigos.

image Alkir e Walquíria Viana: juntos contra o bullying (Foto: Reprodução / Aquivo Pessoal)

 

Box

Bullying

De acordo com a lei nº 13.185, de 6 de novembro de 2015,  é considerado como intimidação sistemática ( bullying ) "todo ato de violência física ou psicológica, intencional e repetitivo que ocorre sem motivação evidente, praticado por indivíduo ou grupo, contra uma ou mais pessoas, com o objetivo de intimidá-la ou agredi-la, causando dor e angústia à vítima, em uma relação de desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas".

O bullying é caracterizado  pela violência física ou psicológica em atos de intimidação, humilhação ou discriminação e, ainda, em ataques físicos; insultos pessoais;  comentários sistemáticos e apelidos pejorativos; ameaças por quaisquer meios;  grafites depreciativos; expressões preconceituosas; isolamento social consciente e premeditado; pilhérias.

Pela lei, ocorre intimidação sistemática na rede mundial de computadores ( cyberbullying ), quando se usarem os instrumentos que lhe são próprios para depreciar, incitar a violência, adulterar fotos e dados pessoais com o intuito de criar meios de constrangimento psicossocial.

 

Confira dicas de combate ao bullying contra pessoas com autismo:

- Bullying pode ocorrer de maneiras diversas, como gracejo, apelido e até agressões físicas

- É muito frequente na escola, e  a pessoa com autismo percebe quando está sendo maltratada

- Pais devem observar o comportamento do filho; se estiver resistindo a ir à escola é sinal de que algo não vai bem lá

- Importante repassar aos colegas e pessoas em geral na escola as potencialidades da pessoa com autismo

- O bullying atinge pessoas com autismo em todos os níveis educacionais

- Escola deve promover a sensibilização de estudantes e profissionais na escola para o respeito à pessoa com autismo

- Bullying é crime previsto na lei nº 13.185. O Código Penal, artigo 146, determina pena de detenção, de três meses a um ano, ou multa a quem “constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda”. 


 

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