Autismo em foco: curso qualifica pessoas com deficiência e pessoas LGBTQIAPN+

A iniciativa é resultado de uma parceria entre o TRT8, Fidesa e Unama. As inscrições começam nesta quarta-feira (26)

Eduardo Rocha

Um parceira entre a Universidade da Amazônia (Unama), a Fundação Instituto para o Desenvolvimento da Amazônia (Fidesa) e o Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região (TRT8) vai promover, a partir do mês de setembro, o curso de auxiliar de cozinha para pessoas com deficiência e público LGBTQIAPN+. O prazo de inscrição inicia nesta quarta-feira (26) e vai até o dia 1º de agosto. Outras informações podem ser obtidas pelo portal do TRT8, onde está disponível o edital do processo seletivo.

O TRT8 tem o Subcomitê de Acessibilidade e Inclusão, sob a presidência da juíza do Trabalho Camila Nóvoa Cavalcanti, que busca assegurar os direitos às pessoas com deficiências (servidores, juízes e jurisdicionados). "Nos dias de hoje há uma briga maior para que as pessoas típicas entendam que as pessoas neurodivergentes existem e precisam ser respeitadas", afirma a juíza. "Pessoas neurodivergentes pensam e agem de forma diferente, porém conseguem ser excelentes no que se propõem a fazer", acrescenta.

image Juíza Camila Nóvoa: "Pessoas neurodivergentes existem e precisam ser respeitadas" (Foto: Divulgação)

Não existe uma lei específica que garanta o direito ao emprego da pessoa com autismo. Mas há uma lei que prevê cota para pessoas com deficiência (artigo 93 da Lei 8.213/1991). Porém, o direito é ignorado pela maioria das empresas. São inúmeras justificativas para o descumprimento da lei, assinala Camila, que tem um filho com autismo. Por isso, a juíza comemora o lançamento do curso de auxiliar de cozinha em parceria entre Unama, Fidesa e TRT8.

Expectativa

Reitora da Unama, Maria Betânia Fidalgo Arroyo também destaca a iniciativa. "Por meio do curso vamos ensinar as técnicas para ser um auxiliar de cozinha. A expectativa é que essa qualificação consiga abrir as portas do mercado de trabalho para esses públicos", afirma. A primeira turma do curso, cujas aulas começarão em setembro, contará com 20 alunos.

A reitora destacou ainda que, ao longo do ano, a Unama realiza campanhas para as pessoas com autismo e da comunidade LGBTQIAPN+. Um exemplo disso é o programa "Capacitas", cursos rápidos e gratuitos que são realizados sempre em janeiro e julho. Há também campanhas de combate ao preconceito, com palestras, caminhadas e mobilizações internas em datas especiais como o "Dia do Orgulho Autista" (18 de junho), "Dia Mundial de Conscientização do Autismo" (2 de abril) e o "Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+" (28 de junho).

image Betânia Fidalgo: qualificação para abrir portas para o mercado de trabalho (Foto: Divulgação)

No mercado

Formado em Publicidade e Propaganda, o jovem Diego de Queiróz Barbalho, de 34 anos, tem autismo e mora com a mãe, Márcia de Queiróz, no bairro do Marco, em Belém. A rotina dele não é fácil. Divide o tempo entre as aulas do curso de Ciências Sociais na Universidade Federal do Pará (UFPA) e um emprego com carteira assinada. Há um ano e seis meses, ele é contratado de uma empresa terceirizada para atuar como atendente da Junta Comercial do Pará (Jucepa) na "Estação Cidadania" que funciona em um shopping center de Belém.

image Diego: superando barreiras para ingressar e se manter no mercado de trabalho (Foto: Ivan Duarte / O Liberal)

"Faço atendimento presencial e também virtual. Esclareço todas as dúvidas das pessoas sobre, por exemplo, a abertura e encerramento de empresas e outras questões administrativas", explica Diego. Para ele, o atual emprego "é uma experiência de vida valiosa, apesar de algumas dificuldades".

Diego não esconde que está feliz por ter um emprego formal. "Já passei por diversas frustrações e enfrentei preconceitos. Por isso, sei que ter um emprego hoje em dia é um privilégio imenso", acrescenta. Além disso, Diego tem consciência sobre a sua capacidade laboral.

 

"Eu reconheço os meus potenciais e as minhas habilidades. Mas sei que algumas pessoas não vão reconhecer isso", lamenta. 

 

Superação

Como ele observa, as pessoas com autismo têm um modo específico de interpretar o mundo e acabam muitas vezes sendo incompreendidas, mal interpretadas pelos cidadãos neurotípicos, e isso acaba gerando uma série de barreiras. O fato de uma pessoa com autismo, em geral, não olhar nos olhos do interlocutor quando fala, por exemplo, acaba contribuindo para ela ser discriminada, como ressalta Diego.

 

"Eu gosto muito da frase que diz que 'todo mundo é um gênio', mas se você for julgar um peixe pela sua capacidade de subir em uma árvore, esse peixe vai passar toda a vida dele acreditando que ele é estúpido; então, qual é o problema? O problema é o peixe que é estúpido por não conseguir subir a árvore ou por que você está exigindo que ele suba uma árvore sendo que as habilidades dele se encontram no mar?", destaca Diego. 

 

Para ele, essa frase do peixe se encaixa muito bem com relação à realidade das pessoas com autismo. Ele tem recebido feedback positivo do público e dos colegas de trabalho, mas também, em alguns casos, no sentido oposto. 

Diego enfrentou barreiras, mas nunca desistiu de buscar um emprego. E não abre mão de sempre estar de capacitação, de se atualizar, de investir em idiomas. Diego relata ter observado que, em muitos casos, "a exclusão começa na entrevista, no processo seletivo", já que há empresas sem preparo para entrevistar uma pessoa com deficiência (PCD), uma pessoa com autismo. São processos seletivos desgastantes, como relata, e ainda empresas não dão retorno ao candidato sobre o emprego. Esse é um assunto que deveria ser debatido no Poder Legislativo, como defende Diego.

"Todas as pessoas devem ter direito ao trabalho, isso está em lei, e, inclusive, qualquer cidadão brasileiro; o ser humano precisa se sentir incluído na sociedade, se sentir útil, sentir que o melhor dele está sendo colocado em prática, se sentir participante da sociedade, e o emprego, o trabalho, é parte da sociedade".

SERVIÇO:
Curso de auxiliar de cozinha
Inscrição: de hoje até o próximo dia 1º de agosto
Vagas: 20 (dez para pessoas com deficiências e dez para pessoas LGBTQIAPN+)
Informações: site www.trt8.jus.br

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