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A luta feminista dentro da advocacia

Advogadas buscam exercer a profissão, ocupando espaços de liderança sem sofrer assédio e preconceitos de gênero

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Os desafios enfrentados pela mulher no mercado de trabalho ainda são muitos. Na advocacia, muito ainda precisa ser feito para que elas exerçam a profissão e ocupem espaços de liderança sem sofrer assédio.

A vice-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil Seção Pará (OAB-PA), Luciana Gluck Paul, fala sobre a importância de vencer preconceitos
e romper com o padrão de uma advocacia masculina e elitista no Estado, por meio, principalmente, da capacitação de advogadas e do debate sobre
desigualdades de gênero. Ela acredita que, por meio do fortalecimento das mulheres na advocacia, elas ocuparão, de fato, seus lugares na sociedade. Confira entrevista a seguir:

Sabemos que a mulher ainda enfrenta muitos entraves quando se trata do ambiente profissional. Como está a realidade da advocacia feminina no
Pará hoje?

A advocacia feminina no Pará tem se fortalecido ao longo dos anos. Somos referência nacional por já termos tido duas mulheres à frente da presidência
na OAB-PA (Avelina Hesketh/1998-2000; Angela Sales/ 2007-2009). Atualmente, há um número maior de advogadas nos quadros da Ordem, as quais vêm ocupando seus espaços com competência e legitimidade. Existe uma realidade de avanço quantitativo, mas com muito ainda a ser feito para garantir
que, de fato, as advogadas possam exercer sua profissão e ocupar seus espaços de liderança sem sofrer assédio e todos os preconceitos atinentes ao gênero enfrentados na sociedade. Mesmo com todo um trabalho desenvolvido pela Comissão da Mulher Advogada (CMA) e outras instituições que defendem os direitos das mulheres, ainda há muitas situações de violências e discriminações em razão do gênero que afetam toda a sociedade.

Qual é o maior desafio enfrentado pelas mulheres advogadas na sua opinião?

Na minha opinião, o maior desafio é vencermos o preconceito ainda presente em muitas mentalidades sobre a nossa capacidade, preconceito esse que é alargado quando somos mulheres negras, trans. Precisamos provar constantemente que somos competentes, algo que não é necessário aos homens, que já são recepcionados com essa característica intrínseca ao sexo. Precisamos romper com o padrão de uma advocacia masculina e elitista. Além disso, há um grande desafio que todos precisamos combater que é o assédio no ambiente de trabalho, prática que viola a nossa dignidade no exercício profissional.

“Não basta lutarmos por espaço sem estarmos unidas na missão de trazer mais mulheres para os espaços institucionais” - Luciana Gluck Paul

Quais as perspectivas da nova gestão da Ordem para a categoria das advogadas no Pará? O que deve ser mudado para que haja mais equidade de gênero dentro da profissão?

O nosso plano de gestão prevê inúmeras ações voltadas para a formação e capacitação das advogadas, fomentando o debate sobre desigualdades
de gênero na instituição, em ambientes de trabalho e em demais órgãos do Sistema de Justiça. A mudança de percepção está no fato de que a grande maioria das mulheres não foi e não é preparada para o trabalho externo, público e de tomada de decisões. O que mais verificamos são advogadas extremamente técnicas, executoras de inúmeras tarefas, mas sem poder decisório. Para haver equidade profissional, não basta sermos maioria, precisamos
adquirir poderes de liderança e decisão com tecnicidade. Entendemos que não basta lutarmos por espaço sem estarmos unidas na missão de trazer mais
mulheres para os espaços institucionais e capacitar mais mulheres para conhecer tecnicamente como lidar e coibir situações de preconceito e assédio.

Quais foram, nos últimos anos, e até na própria gestão, as maiores conquistas da classe da mulher advogada no Pará?

Colocar a mulher advogada em destaque na instituição, possibilitando que sua vivência peculiar na profissão seja considerada pelo sistema OAB e demais órgãos do Judiciário, fortalecendo a pauta de apoio à mulher na sociedade, fazendo jus à função social que a OAB possui. A CMA teve um papel importante nisso, ao atrair mais colegas para a gestão e ao trazer esses debates para a classe. O resultado dessa ampla atuação no fortalecimento das mulheres na advocacia fez com que atualmente a nossa gestão da OAB-PA tenha metade de seus espaços ocupados por advogadas.

Há uma campanha nacional, “advocacia sem assédio”, realizada pela Comissão Nacional da Mulher Advogada (CNMA). Qual a sua avaliação sobre a iniciativa?

Essa campanha estava prevista no nosso plano de gestão estadual, vindo a coadunar com nossas diretrizes de trabalho, pois entendemos que é fundamental um trabalho de conscientização, bem como de acolhimento às advogadas que sejam assediadas. a OAB-PA não tolera o assédio, pois ele
constitui o maior entrave para o exercício profissional de mulheres e, infelizmente, é normalizado.

Como a Ordem cria medidas administrativas e legais cabíveis para o combate e prevenção ao assédio moral e sexual enfrentado pelas advogadas?

A Ordem, por meio da CMA, está realizando constantes palestras e debates acerca do assédio na advocacia por todo o Estado do Pará, sendo tal ação uma forma de propagar a temática, buscando a conscientização. Além disso, a CMA está fazendo visitas aos escritórios de advocacia, quando é feita uma capacitação das equipes internas sobre o tema. O escritório que tenha interesse em receber nossa visita pode enviar um e-mail para cdma@oabpa.org.br que iremos fazer o agendamento. A prevenção é essencial para dar conta desse tipo de demanda. Ao receber uma denúncia de assédio, a Ordem faz o acolhimento da advogada, conferindo-lhe toda a orientação pertinente, sempre primando pela segurança da denunciante e pelo sigilo.
 

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