Pedro Vasconcelos: As lições da covid-19 para a prevenção de novas pandemias

Estudos colaborativos estão entre as ações globais para combate a doenças virais

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Ebola, dengue, covid-19. As doenças virais mostram-se um desafio permanente às comunidades médica e científica em todo o mundo e são alvos de constante observação. A exemplo da pandemia provocada pelo SARS-CoV-2, o surgimento de novas linhagens de um vírus é capaz de causar ondas de contágio com prejuízos incalculáveis. Professor de Medicina na Universidade do Estado do Pará (Uepa) há mais de 15 anos e pós-doutor na área da Microbiologia com especialidade em Virologia Molecular pela University of Texas, nos EUA, o virologista Pedro Vasconcelos reflete sobre as lições deixadas pela covid-19 e chama a atenção para agentes que podem causar grandes impactos.

Quais os principais desafios que a humanidade enfrenta na prevenção e no combate a futuras pandemias?

São vários. Nós temos as desigualdades sociais, as alterações climáticas, o movimento das pessoas, os conflitos entre países. Tudo isso associado com o rápido deslocamento das pessoas pelo transporte aéreo facilita o deslocamento de agentes infecciosos, principalmente vírus, que são os mais associados com pandemias.

Uma vez estabelecido um vírus em um determinado local, é muito difícil você fazer o controle quando ele é transmitido por via aérea, ou seja, pelo trato respiratório. Quando nós temos transmissão direta - pessoa a pessoa - é mais fácil fazer o controle; já quando nós temos a transmissão por mosquitos é um pouco mais complicado que a transmissão interpessoal que não seja pelas vias respiratórias.

Existe hoje um plano operacional para enfrentamento à pandemia?

Existe. Ele é coordenado pela Organização Mundial de Saúde por meio de diversos comitês e documentos técnicos. Inclusive, o regulamento sanitário internacional prevê e orienta quais as medidas que podem ser tomadas para controlar o enfrentamento de uma pandemia ou de uma epidemia que tenha perspectiva de vir a se tornar uma pandemia.

Quais lições aprendidas com a pandemia da covid-19 podem ser aplicadas para melhorar a prevenção e a resposta a futuras ameaças virais?

A primeira é que o país tem que ter um plano elaborado com a perspectiva de enfrentamento das diferentes pandemias que possam ocorrer, sejam elas transmitidas por trato respiratório, que são muito mais graves, muito mais difíceis de controlar, sejam elas transmitidas por vetores, como é o caso da dengue.

Existe hoje algum agente viral que preocupa os especialistas da área?

Existem vários. Ebola, dengue, HIV... Porém, os principais e mais preocupantes são os por transmissão respiratória. Por isso se assume uma proporção de grande importância para o vírus da influenza, principalmente o da influenza A, que é o que está mais associado com pandemias. Temos o B e o C, porém, estes têm sido pouco associados com epidemias e não têm associação com pandemias. Fora esses, outros coronavírus que possam ser relacionados ou não ao SARS-CoV-2 - o agente causal da covid - são motivo de atenção. Então, sempre há o risco de que um novo coronavírus ou uma nova cepa do vírus da influenza venham a ser pandêmicos.

Quais são as áreas de colaboração e cooperação internacional essenciais para o enfrentamento de futuras pandemias? E como a comunidade global pode trabalhar para esse fim?

Através de estudos colaborativos. Os cientistas podem fazer as colaborações e esse é um mecanismo que ajuda a controlar a possível disseminação de pandemias. Além disso, mais importante ainda são os documentos técnicos dos comitês assessores da OMS e, no caso da região das Américas, da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS).

Na sua opinião, quais são os principais avanços tecnológicos e científicos que podem impulsionar a resposta a pandemias?

O avanço tecnológico permitiu que as vacinas contra a covid-19 tivessem uma celeridade jamais vista no mundo. Então, com a técnica que hoje se desenvolveu, que vinha há muitos anos sendo desenvolvida e foi aplicada de forma mais rápida, vieram as vacinas por RNA mensageiro (mRNA). Então, o desenvolvimento de drogas novas, que possam ter ação antiviral de forma genérica, semelhante como ocorre com os antibióticos, mas que sejam antivirais de largo espectro, é muito importante. Outro avanço é o rápido desenvolvimento de vacinas que possam ser utilizadas. E uma terceira, que está começando agora, é o uso dos chamados anticorpos monoclonais, que são anticorpos específicos contra um determinado agente que possam tratar de forma rápida e muito eficiente o agente viral.

Quais são as ações práticas que os governos, organizações de saúde e sociedade podem adotar agora para minimizar os efeitos de uma futura pandemia?

Ter uma vigilância epidemiológica eficiente é o primeiro e maior mecanismo que nós podemos ter para controlar uma pandemia e, com isso, minimizar os efeitos adversos, as mortes, os casos graves, as perdas econômicas dos países e as perdas na educação, na saúde, entre outras. Então, o maior tesouro que nós podemos ter em termos de ações contra pandemias é uma vigilância epidemiológica fortalecida. 
 

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