A saga dos paraenses que ajudaram a construir Brasília

Trabalhadores de todo o país, chamados de "candangos", foram atraídos para a construção da nova capital federal em busca de oportunidades

Alinne Morais

“Candango" é o termo dado aos trabalhadores que participaram da construção de Brasília, nos anos 1960. A maioria era originária do Nordeste. Em número menor - mas significativo - existiam ainda os paraenses. Atraídos pela possibilidade de um novo começo e a perspectiva de um emprego, eles deixavam as cidades de origem e seguiam rumo à nova Capital Federal. Por lá, até então, só existia mato e poeira.

Jean Rendeiro é professor, mestrando de Comunicação Cultura e Linguagem pela Universidade da Amazônia (Unama). Ele explica que entre os trabalhadores paraenses muitos saíram da região nordeste do Estado. “Muitos foram atraídos pelas oportunidades”, pontua.

Em Brasília, grande parte dos paraenses acabou por ocupar a região onde hoje é Gama e Sobradinho. Chamadas de “cidades-satélites” as localidades surgiram no entorno da construção do plano piloto. Já na obra, os trabalhadores do Pará, em sua grande maioria, eram responsáveis por tarefas mais braçais.

Ao chegar no Planalto Central o candango era encaminhado ao Instituto de Imigração e Colonização (INIC). O órgão pertencia à Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) e era responsável pela triagem dos operários. Por lá, ele obtinha o cartão de identificação e era designado para prestar serviço em uma das construtoras ou na própria Novacap.

Após o fichamento, era conduzido ao almoxarifado. No local recebia colchão, cobertor e travesseiro. Os serventes eram alojados em grandes galpões. Já os mestres de obra dormiam em pequenos quartos de madeira.

Os operários trabalhavam das 6h às 12h. Faziam um intervalo de uma hora e depois encaravam outro turno até às 18h. Em alguns casos, o expediente era de até 16 horas por dia. O salário era pago por horas de serviço, e, para aumentar os rendimentos, muitos trabalhavam além da conta. No fim de semana, boa parte deles aproveitava a zona boêmia que surgiu no entorno.

PERFIL

O livro “Veredas de Brasília: As Expedições Geográficas em Busca de um Sonho”, publicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra os dados censitários - coletados em 1959 - da população que participava da construção da capital. Eram cerca de 64 mil pessoas que ocupavam a área demarcada para a construção. 42 mil eram homens. A faixa etária era de 20 a 40 anos. A origem predominante dos candangos era dos estados mais próximos: Goiás, Minas Gerais e Bahia. Em termos regionais, os nordestinos eram os principais.

“Um detalhe interessante é que todo um estilo de vida acabou surgindo ali, um estilo de vida híbrido, um estilo de vida extremamente sincrético“, diz Jean Rendeiro. Isso, de acordo com o professor, ocorreu porque no local se encontravam pessoas das mais variadas regiões do País, com costumes e comportamentos diversos.

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