Há 30 anos, litro da gasolina custava o equivalente a R$ 0,55; Preço subiu mais de mil por cento
Manchete do jornal de 1991 anunciou redução, mas três décadas depois sucessão de reajustes é regra
A manchete da edição de O Liberal em 15 de novembro de 1991 destaca a redução de Cr$ 12 no preço do litro da gasolina em Belém, de Cr$ 326,00 para Cr$ 314. Após 30 anos, com a mudança da moeda nacional de Cruzeiro para Real, o percentual de aumento do preço do combustível foi de 1.381%, calcula o economista Nélio Bordalo, após consulta ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
“Em 1991, o litro da gasolina em Belém custava Cr$ 314,00, que, corrigido pelo IPCA para novembro de 2021, equivale a R$ 3,34. Supondo que a moeda vigente em 1991 fosse o Real, o litro da gasolina custaria R$ 0,55. Comparando esse valor com o preço médio praticado atualmente, em novembro, em Belém, de R$ 7,60, o percentual de aumento entre os dois anos foi de 1.381%”, afirma o especialista.
Para Nélio Bordalo, a afirmação de que o preço médio do combustível em Belém poderia custar hoje R$ 3,34, e não R$ 7,60, deve levar em consideração, como contraponto, as características econômicas do momento atual, como o preço internacional do petróleo e a política de preços aplicada na Petrobrás pelo governo federal. “É possível fazer a comparação dos números, como calculamos, mas não podemos perder de vista as particularidades de cada contexto histórico e econômico. Não é possível utilizar como base apenas o IPCA, porque o índice não reflete o preço da commodity do Petróleo. Como é um produto de origem primária, comercializado nas bolsas de mercadorias e valores de todo o mundo, você não pode determinar qual o preço, pois não é simples fazer a comparação direta”, explica o economista.
Política de preços
Nélio Bordalo acredita que a política de preços da Petrobrás precisa ser reavaliada para que a realidade atual, de altas constantes, seja modificada no próximo ano. “O preço da gasolina afeta de forma diferente as cidades. Na Região Metropolitana de Belém, por exemplo, o preço médio é de R$ 7,60, mas em municípios do interior do Pará já passou de R$ 8. É preciso também levar em consideração os percentuais de cobrança do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) em cada estado”, completa.
Em audiência pública na Câmara dos Deputados, no dia 13 de outubro, a Petrobras defendeu a atual política de preços de combustíveis baseada no valor do barril de petróleo no mercado internacional e do dólar, segundo a Agência Câmara de Notícias. “De janeiro a setembro deste ano, os preços de revenda registraram aumentos de 28% no diesel, 32% na gasolina e 27% no GLP, segundo o Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep). A perspectiva é de manutenção dessa tendência de alta devido às flutuações no preço internacional do barril de petróleo”, informou a Agência.
Aos 71 anos, o aposentado Nazildo Ferreira ainda trabalha como motorista de transporte de cargas e classifica o momento atual como “um completo absurdo”, quando o tema é o preço dos combustíveis. “Você não tem certeza de nada. Às vezes você vai até um posto achando que o preço da gasolina é um, mas já mudou. Estou colocando agora R$ 60. Se eu for hoje até Benevides e voltar, em algum serviço de frete, já tenho que abastecer de novo", reclama.
De acordo com Nazildo Ferreira, nos anos 1990, cada aumento podia ser “contado nos dedos”. “Não era com tanta frequência como está agora. Outra coisa que chama a nossa atenção é o percentual dos aumentos. Em um ano, você tem postos aqui em Belém que registram alta de 100%. É um absurdo”, reitera.
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