Inovação sustentável: projeto de controle térmico com caroço de açaí ganha destaque no Pará
Embora ainda esteja em fase de testes, o projeto já apresenta resultados preliminares animadores, como a redução de até 3 graus na temperatura dos ambientes.
Um projeto inovador que transforma caroços de açaí em placas de controle térmico está chamando a atenção no Pará. A iniciativa propõe uma solução sustentável para o isolamento térmico em construções, com foco no conforto e na redução do impacto ambiental. O projeto está sendo desenvolvido na Escola Estadual Salesiana do Trabalho, em parceria com a Secretaria de Estado de Educação (Seduc), por meio da campanha “Guardiões da Natureza”.
Maurício Barata, professor orientador da iniciativa, explica os objetivos do trabalho: “O projeto Placas de Controle Térmico Feitas com Caroço de Açaí foi elaborado para reduzir a quantidade de resíduos descartados, diminuindo a poluição ambiental, com o principal objetivo de produzir placas de controle térmico.”
A ideia surgiu a partir da disciplina de biomimética do curso de mestrado do professor, que busca inspiração na natureza para criar soluções práticas. A proposta é um projeto extracurricular, selecionado para representar Belém na chamada COP Jovem, entre mais de 300 iniciativas. Atualmente, a equipe conta com sete integrantes: um orientador, um coorientador e cinco alunos.
Soluções térmicas sustentáveis
O processo de produção envolve a trituração dos caroços de açaí, que são misturados com um bioplástico feito a partir de amido de milho. Essa mistura é colocada em formas para secagem, dando origem às placas. Segundo o professor Maurício, a principal característica do material é sua capacidade de controlar a temperatura ambiente, impedindo a passagem de calor e mantendo o ambiente mais agradável, tanto em dias quentes quanto frios. As placas podem ser aplicadas em forros, paredes, divisórias ou entre o telhado e o forro.
Embora ainda esteja em fase de testes, o projeto já apresenta resultados preliminares animadores, como a redução de até 3 graus na temperatura dos ambientes. O foco atual da equipe é evitar o ataque de artrópodes e microrganismos às placas.
A identidade regional também é um pilar essencial. “O açaí é motivo de orgulho e uma identidade regional para todos os paraenses, mas apenas cerca de 8% do fruto é aproveitado”, destaca o professor. “A utilização integral do caroço em uma construção sustentável, sem desmatamento, enobrece e reforça essa identidade, pois conecta nossa cultura com a educação ambiental.”
Em termos de sustentabilidade, a iniciativa contribui diretamente para a redução de resíduos sólidos e pode ajudar a combater o desmatamento, ao oferecer uma alternativa ecológica à madeira. Os próximos passos incluem testes com outros aglutinantes e uma análise em conjunto com a UFPA para desenvolver um aglutinante feito com partes do próprio caroço. Há também planos de aplicar as placas em maior escala na própria escola, com o apoio do Estado.
Participação estudantil
O projeto tem gerado impactos profundos também na vida dos alunos. É o caso de Abel Caleb, estudante de 18 anos do Colégio Salesiano: “O projeto teve um impacto muito bom na minha vida. Nós cinco, que estamos nele, desenvolvemos uma maior consciência ambiental. Aprendemos que dá pra reutilizar resíduos que muitas vezes são jogados na rua de forma irregular. A gente teve uma consciência melhor e vai levar isso pra vida, passando para nossos familiares.”
Abel ainda conta que a experiência provocou uma mudança nos seus planos de carreira: “Na verdade, isso me causou dúvidas porque eu já tinha uma carreira bem definida na minha cabeça, pensava em seguir carreira militar. Mas o projeto abriu meus olhos pra outras coisas, me mostrou outros caminhos, e hoje eu penso, às vezes, em fazer algo voltado para uma área científica.”
Guardiões da Natureza
A campanha “Guardiões da Natureza”, promovida pela Secretaria de Estado de Educação do Pará (Seduc), em parceria com a Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa (Ribac), tem como objetivo promover, divulgar e valorizar ações ambientais desenvolvidas pelas escolas em seus territórios. A iniciativa reconhece o trabalho dos educadores e incentiva a troca de experiências entre diferentes regiões do Pará e de outros estados do Brasil.
Segundo Mauro Tavares, coordenador de Educação Ambiental da Seduc, o projeto fortalece conexões entre educadores ao permitir o compartilhamento de práticas bem-sucedidas: “É uma excelente forma de conectar projetos, compartilhar experiências desenvolvidas nas localidades e conhecer práticas realizadas em outras regiões, tanto do Pará quanto em nível nacional.”
Ele ressalta ainda que todas as ações divulgadas na plataforma são baseadas em iniciativas concretas que vão além do conteúdo teórico, desenvolvendo atitudes e competências, “tanto atitudinais quanto procedimentais”.
A principal ferramenta de socialização da campanha é o mural digital da plataforma Guardiões da Natureza, onde educadores e estudantes podem divulgar suas ações, interagir, comentar e trocar dúvidas. Atualmente, cerca de 70 escolas estão cadastradas, mas Mauro reforça a importância de ampliar esse alcance. “Sabemos que muitas escolas desenvolvem projetos ambientais importantes. O que falta é divulgação. Se cada uma compartilhar suas ações, teremos uma rede muito mais forte, conectada por territórios, municípios e, principalmente, dialogando com outras regiões do Brasil.”
*Laura Serejo (estagiária de jornalismo, sob supervisão de João Thiago Dias, coordenador do núcleo de Atualidades)
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