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Superfície sem água

Mapeamento faz alerta sobre a perda dos recursos hídricos na Amazônia

Paloma Lobato
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A água doce é um bem cada vez mais escasso, por isso deve ser preservado, sem desperdícios. Um mapeamento feito pelo Map Biomas mostra que a superfície de água vem apresentando redução ao longo dos últimos anos. O estudo foi feito com imagens dos satélites Landsat, de 1985 até 2022.

Ao todo, a retração da superfície coberta com água no Brasil foi de 15,7% desde o início dos anos 90, caindo de quase 20 milhões de hectares para 16,6 milhões de hectares em 2020. Embora essa área seja equivalente ao estado do Acre ou quase quatro vezes o estado do Rio de Janeiro, desde 1991, quando chegou a 19,7 milhões de hectares. A perda de 3,1 milhões de hectares em 30 anos equivale a uma vez e meia a superfície de água de toda região nordeste em 2020.

Um dos fatores para explicar a redução da superfície de água na Amazônia nos últimos 36 anos é a mudança no uso da terra, com o aumento da conversão de florestas para a agropecuária. "Diversos estudos já mostraram que isso interfere no aumento da temperatura local e, muitas vezes, altera cabeceiras de rios e de nascentes. Além disso, a perda de floresta reduz as chuvas localmente", destaca Carlos Souza, coordenador do Grupo de Trabalho de Água do MapBiomas.

Outro fator ligado à agropecuária, é o aumento da construção de represas em fazendas ao longo dos rios, que são usadas para irrigação ou bebedouro de animais, o que diminui o fluxo hídrico. Já em maior escala, a construção de grandes represas para a produção de energia deixa extensas superfícies de água sujeitas a processos de evapotranspiração, que corresponde à perda de água para atmosfera. Por último, há evidências científicas de que o período seco está mais longo e as temperaturas estão mais altas, o que pode estar associado ao aquecimento global.

Áreas mais atingidas e principais impactos

As áreas de planícies de inundação e várzeas já sofrem com a redução de água durante o verão, sendo os estados do Amazonas e de Roraima os mais afetados. Além disso, existem sinais de redução de água nas cabeceiras da bacia do Xingu. O arco do desmatamento sofre com a fragmentação dos rios com o represamento para açudes e bebedouros de animais. Esse impacto é observado em escala local.

A redução do volume de água na Amazônia pode comprometer uma das produções que mantém a floresta em pé e garante renda para povos e comunidades tradicionais, entre eles os ribeirinhos: o açaí. A produtividade do fruto é fortemente prejudicada, já que as palmeiras ficam localizadas em regiões de várzeas. E uma das maiores evidências que os rios estão secando é a redução no nível das águas nas áreas de plantação do açaí.

Além de prejudicar a produção de uma das principais fontes de subsistência de famílias ribeirinhas que vivem dos rios da Amazônia, a redução dos recursos hídricos gera impacto direto na pesca, que é importante tanto para a renda quanto para a alimentação dessa população.

Outro fator que tem causado preocupação e é proveniente do desmatamento e da redução da água na Amazônia está relacionado com a ameaça de extinção de espécies de peixes, inclusive recém descobertas.

image O uso da terra, construção de barragens e mudanças climáticas estão entre as causas da redução da superfície da água (Marco Santos / Ag. Pará)

"Isso é extremamente grave para a biodiversidade da região, pois a extinção de algumas espécies de peixes acaba afetando os outros animais que dependem delas para sobreviver. E isso cria um desbalanceamento no ecossistema. É, por isso, que precisamos combater as represas clandestinas e parar de construir grandes represas. A Amazônia precisa manter seus rios com fluxo livre de água para manter a biodiversidade aquática", ressalta o especialista.

Como frear a redução das águas e diminuir os prejuízos

Ainda não é possível reverter o processo de perda dos recursos hídricos. Porém, há soluções práticas que podem ser adotadas para evitar mais danos. Uma delas, de forma mais urgente, seria a redução das emissões dos gases do efeito estufa para controlar o aquecimento global. Nesse aspecto, o Brasil tem um papel fundamental e com uma contribuição significativa ao combater o desmatamento na Amazônia, que está no pior ritmo dos últimos 15 anos. Além disso, é essencial acelerar a agenda de restauração florestal, plantando árvores para proteger os rios e nascentes.

image A retração da superfície coberta com água no Brasil foi de 15,7% desde o início dos anos 90, caindo de quase 20 milhões de hectares para 16,6 milhões de hectares em 2020 (Andria Almeida / Especial O Liberal)

Outro fator que também requer atenção e precisa ser reavaliado é a criação das represas em propriedades rurais. Na prática, esses sistemas reduzem o fluxo hídrico, levando à redução de água a jusante, afetando as propriedades rurais e comunidades que dependem da água fluindo naturalmente nos rios. Em maior escala, há um aumento de consumo de água para irrigação. Isso é mais frequente em regiões de pólos agrícolas. A irrigação para agricultura é feita principalmente por água subterrânea. O projeto MapBiomas Água já começou testes para medir esse tipo de impacto.

"Necessitamos de diagnósticos dos problemas na escala de cada bacia hidrográfica, o que nos permitirá identificar os fatores locais que estão comprometendo a disponibilidade dos recursos hídricos, como por exemplo a existência de represas não licenciadas e o consumo não autorizado de água em fazendas, conjugado com aquecimento global e o consumo de água para irrigação. Mas, ainda não temos esse diagnóstico", explica Carlos Souza.

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