Projeto Suruanã, em Salinópolis, ajuda a garantir renovação da vida marinha por meio das tartarugas

Iniciativa é essencial para garantir o novo ciclo de crescimento, reprodução e continuidade das espécies

Michel Ribera

Um dos grandes debates entre líderes mundiais e o foco principal das Conferências das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que em 2025, acontece Belém, são os impactos na qualidade do ar e da temperatura do planeta. A resposta pode vir do mar. Isso porque, ao contrário da velha máxima de que a Amazônia é o “grande pulmão do mundo”, as algas marinhas, que constituem a base da maioria das cadeias tróficas aquáticas, são consideradas, por muitos biólogos, as responsáveis pela produção de oxigênio do planeta. Mas por que não as árvores?

A explicação estaria no fato de que, durante o processo de troca gasosa, as árvores também “respirariam” e, por isso, acabavam consumindo esse oxigênio dispersado na atmosfera. Já as algas, muitas espécies delas, produzem muito mais oxigênio do que realmente necessitam. E se lembrarmos que a maior parte do planeta é coberto por água, então, a produção de oxigênio das algas é bem maior que a das florestas.

E um dos grandes agentes para a manutenção da flora aquática são as tartarugas. “A Chelonia mydas, popularmente conhecida como tartaruga-verde, se alimenta especialmente de algas e ajuda a manter esse ecossistema sempre ativo. E se tem alga, tem mais oxigênio na atmosfera, explica a bióloga Josie Barbosa, que estuda há dez anos as tartarugas marinhas no Pará, através do projeto Suruanã, da Universidade Federal do Pará (UFPA).

Pela experiência adquirida ao longo de uma década, Josie foi convidada a coordenar o Projeto de Monitoramento de Desovas de Tartarugas Marinhas (PMDTM), desenvolvido dentro do espaço Monumento Natural do Atalaia, no município de Salinópolis, no nordeste do Pará. O projeto é executado pela Mineral Engenharia e Meio Ambiente, uma das exigências de licenciamento ambiental federal, conduzido pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Esse monitoramento acontece dentro da unidade de conservação Monumento Natural do Atalaia (Mona), gerenciada desde 2018 pelo Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade, o Ideflor-Bio. “É um espaço para monitoramento e preservação de ecossistemas naturais, como dunas, manguezais e restingas, que fazem parte da região. São diversas espécies que recebem atenção, inclusive as tartarugas, por sua maior fragilidade e exposição aos perigos no período da desova”, explica Francisco Santos, gerente administrativo regional Nordeste, do Ideflor-Bio.

image Corrida pro mar: a desova dos filhotes preserva a espécie e contribui para o equilíbrio ambiental (Pedro Guerreiro / Ag. Pará)

DESOVA TRANQUILA

Anualmente, centenas de tartarugas- -marinhas migram para o litoral brasileiro em busca de melhores condições de clima para criarem ninhos e colocarem seus ovos. “Esses são animais migratórios. Muitas tartarugas chegam a nadar longas distâncias, vindas até mesmo de outros países. Já chegamos a encontrar um animal que veio dos Estados Unidos. A identificação foi feita através de uma anilha de identificação que ela possuía”, recorda Josie.

Para garantir que a natureza siga seu curso, três quilômetros da faixa de areia da praia do Atalaia foram isolados pelos órgãos de segurança pública do Pará, desde fevereiro deste ano. “A interdição foi necessária para que o público que frequenta a praia, seja durante as férias escolares ou mesmo nos feriados, não interferisse de forma mecânica, pisando ou mesmo passando com carros sobre os ninhos feitos pelas tartarugas”, diz Francisco.

image Preservação das espécies: a soltura dos quelônios atraiu dezenas de turistas e moradores de Salinas (Pedro Guerreiro / Ag. Pará)

De fevereiro a julho, ocorreu o monitoramento noturno em vários pontos da praia, com o intuito de encontrar tartarugas colocando ovos. De acordo com a bióloga, esse trabalho é um dos pontos importantes da atividade de monitoramento, uma vez que são analisados vários fatores que podem interferir nas condições que levam os ovos a se desenvolverem e, com isso, garantir o nascimento dos filhotes da melhor forma. A posição onde o ninho foi feito é um dos pontos observados. Se for em uma área propensa a alagamento por causa da alta das marés, os ovos são remanejados para berçários artificiais, que irão garantir a eclosão deles em segurança.

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