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Mel de açaí: conheça o doce sabor da inovação

Pesquisas com mel de abelhas nativas revelam benefícios para a agricultura, a saúde e o desenvolvimento de biofármacos

Fabrício Queiroz/Especial para O Liberal
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A Biologia descreve como relações ecológicas harmônicas as interações entre diferentes seres vivos e que geram benefícios a um ou a todos os envolvidos sem causar nenhum tipo de prejuízo. A ciência e os produtores rurais já sabem há muito tempo que é harmônica a relação que as abelhas mantêm com diferentes espécies de plantas, como é o caso do açaí. Mas além de contribuir para a polinização, a produtividade e a preservação de um ecossistema equilibrado, estudos inéditos comprovam que os produtos dessa relação tem potencial medicinal e podem alavancar uma nova cadeia sustentável.

A pesquisa desenvolvida pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e Embrapa Amazônia Oriental revela que o mel do açaizeiro (Euterpe oleracea) tem altas propriedades bioativas, apresentando ação antioxidante e efeitos anti-inflamatórios, antibacterianos e antitumorais, o que abre as portas para a valorização desse recursos em bioprodutos com maior valor agregado.

O trabalho é realizado no projeto Agrobio, financiado pelo Fundo Amazônia, e visa a inovação a partir da integração entre o conhecimento científico e os saberes tradicionais. O interesse de estudo sobre mel de açaí surgiu diante da grande disponibilidade do fruto e a necessidade de promover atividades sustentáveis que não comprometam a conservação da biodiversidade.

Para comprovar suas propriedades e valorizar o produto como uma alternativa de renda para os produtores rurais, o mel de açaí foi analisado e comparado com os méis de aroeira, de cipó-uva, de timbó e de mangue. Os resultados apontam que o mel produzido por abelhas africanizadas com o néctar da palmeira tem capacidade antioxidante até quatro vezes maior do que o produto derivado da aroeira, que já é considerado um dos mais potentes e caros do país.

“O mel de açaí tem uma coloração diferenciada. O fato de ser mais escuro agrega valor, porque indica que tem uma maior concentração de polifenóis. Os polifenóis são bioprodutos derivados especialmente de plantas e fungos, que possuem uma alta carga antioxidante e ajudam a prevenir doenças, o envelhecimento precoce e a recuperação dos indivíduos”, explica Nilton Muto, coordenador do estudo e pesquisador do Centro de Valorização de Compostos Bioativos da Amazônia (Cvacba).

Mas além de benefícios para a saúde, o produto se destaca também pelo sabor com dulçor moderado e notas frutíferas e de café, que agradam ao paladar de diferentes públicos. Outra vantagem é a convivência harmônica da apicultura com os açaizeiros, fortalecendo atividades que conservam a floresta em pé.

“Quando o produtor rural coloca as abelhas junto ao açaí, ele passa a ter dois ganhos. O primeiro é o aumento da produção porque você tem a entrada do polinizador, e o segundo é a outra fonte de renda com o mel de açaí. São atividades complementares e importantes, principalmente no período da entressafra”, complementa Nilton Muto.

Bioprodutos

A investigação das propriedades fitoquímicas do mel de açaí por si só é avanço para o conhecimento sobre a Amazônia, porém o projeto Agrobio vai além e realiza outros estudos e experimentos com diferentes subprodutos do mel e diversas espécies de abelhas nativas. Um exemplo é apresentado em artigo publicado na revista Molecules, onde os cientistas identificam as propriedades cicatrizantes e anti-inflamatórias de um creme formulado com o própolis da abelha-canudo (Scaptotrigona aff.).

As análises mostraram que o creme à base de própolis da abelha nativa teve desempenho semelhante, a olho nu, ao da pomada já comercializada para tratar ferimentos. No entanto, a avaliação microscópica indicou que o tratamento com o produto natural acelerou a recuperação de fibras colágenas e reduziu a inflamação nas áreas afetadas. Até então não há nenhum fármaco com formulação semelhante disponível  no mercado, o que pode ser um atrativo para empresas farmacêuticas que apostam em inovação.

Para Nilton Muto, as descobertas são promissoras e reforçam a necessidade de maior integração entre a ciência e o setor produtivo, desde o campo até a indústria. Em um cenário de crescimento de negócios baseado na natureza, o pesquisador ressalta que o investimento em pesquisa é decisivo para que a região possa explorar novos modelos de desenvolvimento.

“A ciência traz uma grande contribuição para a economia e a sociedade de maneira geral. A bioeconomia está literalmente associada ao que tem na natureza e o que a gente pode produzir e agregar valor para ser comercializado. Conhecer esse potencial da natureza é o que permitirá produzir sem degradar, sem desmatar, sem trazer impactos graves à natureza”, afirma o professor.

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