Cupuaçu 5.0

Fruta regional ganha cinco clones, melhorados geneticamente para aumentar produtividade de pequenos trabalhadores rurais

Fabrício Queiroz
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O cupuaçu, um dos frutos típicos da Amazônia mais conhecidos mundo afora, está no foco do desenvolvimento da tecnologia que promete aumentar a produtividade do Pará e a resistência das safras a uma praga denominada vassoura-de-bruxa. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Amazônia Oriental) lançou o Kit Cupuaçu 5.0, que é composto pelas cinco melhores variedades do fruto obtidas a partir de processos de melhoramento genético.

Para chegar às cultivares do kit designadas como BRS Careca, BRS Fartura, BRS Duquesa, BRS Curinga e BRS Golias, pesquisadores têm se debruçado em investigações sobre o cupuaçu há cerca de cinco décadas. Tudo começou nos anos de 1970, quando uma doença chamada Fuzariose se aproveitou dos monocultivos locais e provocou uma grande perda da produção de pimenta-do-reino na região.

Uma das alternativas encontradas para combater a praga foi associar os plantios da especiaria com espécies frutíferas, como o cupuaçu. No entanto, nessa época os cupuaçuzeiros também passaram a ser atacados pela vassoura-de-bruxa, que é caracterizada pelo apodrecimento de partes da árvore, como seus galhos e frutos. Foi diante da busca por soluções que pudessem orientar o plantio e evitar a ocorrência de outros males que a Embrapa ampliou os estudos sobre o vegetal.

O primeiro esforço foi a realização de um inventário das diferentes variedades de cupuaçu existentes na Amazônia. O objetivo era identificar os melhores materiais que pudessem ser cruzados e reproduzidos em grande escala. Em 2002, foram lançadas as primeiras cultivares do fruto. Dez anos mais tarde, 16 clones da espécie chegaram ao mercado, entre a BRS Carimbó, que atualmente é a variedade mais difundida nos plantios locais. Até que em 2022, o aprimoramento das pesquisas levou ao lançamento dos cinco novos clones.

image Benefícios: kit de clones da fruta melhora produção e qualidades (Vinícius Braga / Embrapa)

O engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, Rafael Alves, explica que o melhoramento genético é o procedimento indicado quando se busca o desenvolvimento daqueles frutos com as características desejadas pelos produtores rurais e pelo mercado. Há, inclusive, um processo mais indicado para a propagação dos clones que é a enxertia. O primeiro passo é a copa do cupuaçuzeiro já adulto, que evita a disseminação da vassoura-de-bruxa; e depois é realizado implante do enxerto em ramos da planta, que passa a trabalhar para a brotação daquela muda.

“Essa é uma técnica que tem a vantagem de fixar inteiramente o genótipo da planta matriz. Se pega um pedaço de galho de cada um desses clones e esse pedaço de galho não muda, ele só se desenvolve quando você faz o enxerto, assim você tem exatamente aquele genótipo sendo desenvolvido naquela muda. Todas as plantas que você fizer essa propagação através da enxertia terão o mesmo genótipo da planta matriz, isto é, terá a mesma produtividade, o mesmo tipo de fruto, tamanho, cor, tudo, exatamente igual”, esclarece Alves.

Outra recomendação para o Kit Cupuaçu 5.0 é que as mudas sejam plantadas em conjunto de forma intercalada na mesma área para garantir o cruzamento entre elas, já que a espécie, apesar de ser facilmente manejada, precisa de variabilidade genética para que ocorra a polinização e a consequente produção dos clones. 

Seguindo essas orientações, Rafael Alves afirma que os agricultores poderão desfrutar do incremento produtivo e da maior sanidade das árvores. “A gente fez uma estimativa de que 300 plantas do kit clonal por hectare podem produzir até 13,3 toneladas de fruto. Atualmente, a produtividade média com a BRS Carimbó é de 8,7 toneladas e a média paraense é de 2,3 toneladas por hectare. Isso tem diferença no fruto e na quantidade de polpa; podemos chegar a ter 5,3 toneladas de polpa por hectare com os clones”, acrescenta o profissional.

Aliado a isso, os clones de cupuaçu geram mais amêndoas de melhor qualidade, que são um insumo valorizado, por exemplo, para a fabricação de chocolates e de biocosméticos. Nesse quesito, as projeções apontam que o kit clonal é capaz de produzir cerca de 1,9 toneladas de amêndoas por hectare, quantidade superior à gerada pela BRS Carimbó que fica em 1,1 tonelada e 500% a mais do que a média paraense, que é de 0,4 tonelada por hectare.

Clones garantem ampliação da colheita e conservação ambiental

Outra vantagem é o prolongamento da safra que hoje se concentra nos meses de março e abril, o que segundo o pesquisador, provoca uma sobrecarga de frutos para processamento nas indústrias locais. “O kit consegue produzir de janeiro a junho. Isso é mais interessante porque se tem a disponibilidade do produto ao longo do primeiro semestre”, pontua Alves, destacando os benefícios para os agricultores. “O que a gente quer com isso é oferecer para os produtores algo que tenha uma produção regular ao longo do tempo para que ele tenha segurança nos seus cultivos”.

Além disso, os cupuaçus melhorados geneticamente contribuem para a conservação da cobertura vegetal, a biodiversidade ecológica e a geração de renda nas comunidades que adotam sistemas agloflorestais (SAF’s). Essa experiência que já vinha sendo adotada com os pimentais na década de 1970 agora ganha impulso que favorece tanto o meio ambiente quanto a economia.

No município de Tomé-Açu, por exemplo, a associação do cupuaçu com a pimenta-do-reino, o taperebá, a banana e espécies florestais de valor para a indústria madeireira já é uma realidade mesmo antes da introdução dos novos clones no campo.

“Os SAFs são apropriados para os pequenos produtores e produtores familiares. É uma solução que viabiliza economicamente e recupera áreas degradadas ao longo do tempo. Em média, uma família pode cuidar de uma área de 4 a 5 hectares, então basta uma pequena área para ter uma boa produção que você vai ter uma receita boa”, destaca Rafael Alves.

Com as boas expectativas e o grande potencial a ser explorado pela ampliação da cultura do cupuaçu, a Embrapa trabalha atualmente na elaboração de um edital para chamamento de produtores que possam criar e ofertar as mudas dos clones prontas para o mercado. Após essa fase, que deve ser concluída até o final deste ano, os pesquisadores esperam que o kit clonal ganhe os campos ainda em 2023 e que as colheitas com a nova geração de cupuaçus cheguem aos consumidores e ao setor produtivo em 2026.

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