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Ualame Machado: “Nunca dissemos que estamos no paraíso”

Em conversa com as jornalistas Layse Santos e Rita Soares, o secretário de Segurança Pública, Ualame Machado, comentou casos recentes que sacudiram a opinião pública paraense, como a chacina do Guamá, o massacre de presos em Altamira e a relação entre as forças policiais no Pará. Ele, também, deixou escapar um pouco da vida pessoal e da rotina de quem tem a missão de tirar o Pará da lista de Estados mais violentos do Brasil.

Layse Santos e Rita Soares | Conexão AMZ
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Ualame Fialho Machado, 40 anos recém-completados, casado, pai de uma menina, é o pacato cidadão que, desde janeiro de deste ano, abraçou a espinhosa missão de ajudar a cumprir a principal promessa de campanha do atual governo: tirar o Pará e especialmente a Região Metropolitana de Belém do topo dos lugares mais violentos do País e até do mundo. 
Para assumir a missão, ele se licenciou da Polícia Federal onde ingressou por concurso com apenas 22 anos. De fala baixa, suave, sorriso tímido e gestos simples, Machado não lembra em nada o que se poderia esperar de um policial durão desses que aparecem em filmes na Sessão da Tarde. Mas,  na PF, atuou em casos rumorosos, como a investigação do assassinato da missionária Dorothy Stang,  operações de lavagem de dinheiro, e tráfico de drogas.                  
Leia os principais trechos da entrevista de Machado às jornalistas Layse Santos e Rita Soares.  É possível, também,  ouvir a entrevista completa no nosso #PodcastAMZ e tem um aperitivo em vídeo que preparamos para você.     

Layse: Segurança é um mantra desse governo desde o começo e a Secretaria de Segurança, que o senhor comanda, tem divulgado números que indicam redução da criminalidade. Por outro lado, o noticiário e as Redes Sociais estão sempre nos informando sobre mortes violentas no Pará. Como o cidadão pode entender, vamos chamar assim, esse “descompasso”

Secretário: Nós nunca dissemos que estamos vivendo em um paraíso e que os crimes não ocorrem. O que nós sempre falamos é que a redução está ocorrendo. Estamos, inclusive, no mês de agosto, com uma redução histórica na Região Metropolitana de Belém, com mais de 70% em redução. A população pode ter a certeza e a convicção de que os crimes realmente reduziram, e muito. Claro, que a gente não chegou ao patamar desejado e eles ainda ocorrem. O que estamos fazendo é agindo de forma muito célere e eficaz na investigação.

Rita: Em que momento o senhor acredita que a população vá começar a sentir, na prática, no seu dia a dia, os efeitos da política de combate à violência?

Secretário: Estamos vindo de longos anos em que a violência cresceu no Brasil e, no Pará, como reflexo. Acreditamos que, a partir de agora, com a implantação dos Territórios pela Paz, a população vai começar a perceber (a redução da criminalidade). Nos bairros onde já foram implantados os Territórios, a população já comenta conosco. Um exemplo é o bairro do Bengui, onde já houve uma redução da criminalidade próxima de 70% em relação ao ano passado. A população já percebeu isso.

Rita: Então, já é possível se sentir seguro nesses bairros?

Secretário: Nós estamos afirmando a redução da criminalidade. Não podemos dizer que estamos vivendo em uma situação europeia. Estamos reduzindo muito os índices de criminalidade e a população está percebendo. Acreditamos que, com o tempo, a tranquilidade vai imperar

Layse: Que avaliação o senhor faz da Força Nacional? Foi mais efeito psicológico ou teve, em sua opinião, resultados de ordem prática?

Secretário: A Força Nacional fazia parte de um cronograma que nós tínhamos porque iríamos receber o novo efetivo (de policiais) somente em junho de 2019. Então, tínhamos um projeto de intensificar o policiamento e a Força Nacional foi importante para que pudéssemos fazer isso, enquanto o novo efetivo não tomava posse. Esse efetivo tomou posse e a Força Nacional retornou. Conseguimos manter tanto a  queda na criminalidade, quanto a ostensividade para a população perceber. Claro, que a Força Nacional vem em situações episódicas, em caso de urgência. A gente espera que não tenha uma situação parecida como essa. 
Hoje, nós estamos com a Força Tarefa de Intervenção Penitenciária, era uma situação que já havia sido planejada. Houve até uma infeliz coincidência de chegarem logo depois da tragédia de Altamira, porém, já vinha sendo articulada essa vinda deles para que pudesse treinar os novos agentes penitenciários.

Layse: Aquela teoria de que quando a Força Nacional sai de algum lugar, acaba tendo um efeito rebote e, de alguma forma, piora a violência ocorreu?

Secretário: Isso se fala muito, porém, no caso especifico do Pará, posso falar que foi o contrário. A Força Nacional saiu com 200 policiais e nós ingressamos com 430. Então, não houve perda. Houve acréscimo do policiamento e os índices caíram ainda mais. Conseguimos, na verdade, implementar e incrementar um projeto  que vem tendo resultado cada dia mais.

Layse: Vamos falar agora do massacre de Altamira. Aquilo pegou o governo de calças curtas? Por que uma coisa que me surpreendeu bastante foi o fato de um movimento dentro de um presídio naquela proporção não ter sido detectado pela inteligência. Quem  errou secretário?

Secretário: Na verdade, qualquer movimento é analisado pelo sistema de segurança e pelo sistema penitenciário, especificamente. Tanto que, 48 horas antes daquele episódio, identificamos e impedimos a entrada de uma arma de fogo com 30 munições, que, possivelmente, poderia ter sido usada em qualquer ato, inclusive naquele, o que demonstra que estávamos atentos. Porém, dentro de um presídio, qualquer movimento, deve ser minuciosamente calculado e, naquele episódio especifico, em um movimento de um agente penitenciário que foi pego como refém, ele não teve alternativa a não ser abrir a ala para que os presos pudessem ingressar. Diuturnamente, trabalhamos e não havia informação e não há essa informação específica de que, no dia tal, hora tal, irá ocorrer. Esses fatos podem ocorrer a qualquer momento

Rita: Esse episódio demonstrou a forte atuação das facções criminosas no Pará. Como a Segurança está se preparando para combatê-las? Até porque elas envolvem narcotráfico e o trabalho da Policia Federal, aliás, de onde o senhor veio.

Secretário: Exato. Na verdade, a questão do combate à criminalidade vai muito além dos presídios e além de qualquer outro problema mais simples. Passa, justamente, pela questão das fronteiras do Estado, pelo crime organizado que briga pelo domínio do tráfico de drogas e nós estamos combatendo fortemente. No episódio de Altamira, especificamente, no mesmo dia, removemos mais de 46 lideranças de grupos criminoso para outros presídios. O que demonstra que a nossa diferença está na atitude. Trabalhamos para que os fatos não ocorram e, ocorrendo um fato dessa magnitude,  a nossa diferença é demonstrar atitude. É dar resposta rápida com a prisão em flagrante dos envolvidos, com a transferência dos envolvidos, com implementação de políticas bem mais rigorosas no controle do cárcere.

Layse: O senhor está no comando das Polícias Militar e Civil e é um Policial Federal. Isso chegou a causar desconforto em algumas alas das polícias Civil e Militar. Como o senhor está lidando com isso?

Secretário: Eu tenho um relacionamento muito bom. Na verdade, com todas as polícias. Já tinha, desde a Polícia Federal. O que implementamos, sempre falei, e continuo falando, é que a gente - se necessário - cortará na carne. A gente sabe que temos policiais valorosos em todas as forças e instituições. 99,9% dos nossos policiais são excelentes policias, são pessoas de bem. Mas se a gente tiver aquele 0,1% que age à margem da lei, teremos que cortar na carne. E, com relação à questão de grupos que praticam crimes em grupo, demos essa demonstração, inclusive, prendendo quando necessário. Mas de 25 policiais foram presos. E o que nós podemos afirmar com relação a esse tipo de grupo que pratica homicídios é que após o episódio especificamente, do bairro do Guamá, tivemos uma redução de mais de 60% nos crimes de execução e de característica de execução na Região Metropolitana de Belém.

Rita: Por falar em Guamá, uma pergunta que ainda se faz, são quais as motivações daquela chacina. Falou-se muito dos envolvidos, mas acho que ainda há dúvida sobre as motivações.

Secretário: As motivações estão bem claras no inquérito policial. Na verdade, especificamente, não se pode afirmar. Porém, houve alguma briga interna entre grupos. Naquele lugar havia tolerância com o consumo de drogas. Possivelmente, havia uma briga entre o grupo que praticou o crime e as pessoas que frequentavam aquele estabelecimento. Isso ficou caracterizado no inquérito, obviamente, que o que ficou confirmado é que talvez não fosse o crime para ser praticado contra tantas pessoas. Era para ter sido contra algumas pessoas especificas, mas, em algum momento, aquele grupo que praticou o crime perdeu o controle.

Rita: O governo tem falado muito no projeto Territórios pela Paz. Por que vocês consideram que esse projeto é tão importante?

Secretário: Esse projeto é importante porque não envolve somente a Segurança Pública. Temos que ter política pública. Todos os projetos pelo mundo que tiveram êxito foram, justamente, aqueles que apostaram no diferencial do serviço, da cidadania, de oferecer ao cidadão a presença do Estado. O Território pela Paz prega isso. Implantamos em quatro bairros. Em alguns deles, ainda estamos na fase do choque operacional, da parte policial. Porém, pelo menos em um dos bairros, Cabanagem, já ingressamos com os serviços públicos. As secretarias de Cultura, Educação, Saúde já entraram em campo. Estão oferecendo os serviços à sociedade. Essa diferença é perceptível. Estamos com índices muito mais baixos de criminalidade.

Layse: O senhor está com saudade da Polícia Federal?

Secretário: A Polícia Federal é minha casa, então, a gente sempre tem saudade de casa. Porém, recebemos o convite e aceitamos uma missão árdua. E eu, como paraense, quis colaborar com a redução da criminalidade, com a volta da paz para as famílias paraenses. Eu também tenho família no Pará. Então, aceitei o desafio nesse intuito, de saber que posso ajudar um pouco.

Layse: O senhor tem filhos? Quantos anos o senhor tem?

Secretário: Eu tenho 40 anos, fiz agora sete de agosto.

Layse: Tem filho?

Secretário: Uma filha de 13 anos

Layse: Ficamos felizes porque certamente o senhor quer segurança para a sua filha...

Rita: Exatamente...

Secretário: Na verdade, eu tenho irmãos, tenho sobrinhos. Na verdade, a minha família é muito grande.

Layse: O senhor está feliz como secretário? Se sente seguro andando nas ruas de Belém, de boa, num final de semana?

Secretário: Confesso que o trabalho na Secretaria de Segurança Pública é um pouco diferente da Polícia Federal. A gente sabe que qualquer policial, por si só, corre mais risco que qualquer outro cidadão. Porém, eu tento manter a minha rotina das coisas que sempre fiz como qualquer cidadão.

Layse: E o que o senhor costuma fazer, quando não está trabalhando?

Secretário: Sair com a família...

Layse: Existe esse momento de não estou trabalhando ou de vez em quando estoura uma rebelião e aí acabou tudo?

Secretário: Claro que, às vezes, você programa algo com a família, programa ir a um restaurante, ao cinema, a algum lugar, e é surpreendido com alguma situação de urgência, é obrigado a reagendar aquilo. A família, às vezes entende, às vezes não entende... Mas mesmo assim tem que aceitar, porque faz parte do trabalho. Quando a missão foi aceita, isso tudo foi ponderado.

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