“Educação e respeito são essências para combater violência”
Organizadora da Parada do Orgulho LGBTI de Belém falou com a Conexão AMZ sobre o aumento da violência contra homossexuais no Brasil

A Conexão AMZ conversou com a travesti Duda Lacerda, coordenadora do Grupo Homossexual do Pará, responsável pela organização da Parada do Orgulho LGBTI de Belém, e membro do Comitê de Combate a LGBTfobia da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Segup), que acompanha o caso. Segundo Duda, em situações como essa, grupos de todo o Brasil se unem para formar uma rede de apoio e pressionar as autoridades para que haja punição dos culpados. “Todos os movimentos se mobilizam para dar suporte ao estado onde aconteceu a violência”, diz.
No Pará, somente nos quatro primeiros meses desse ano, a Delegacia de Combate a Crimes Discriminatórios e Homofóbicos registrou 56% do total de ocorrências verificadas em 2017. De janeiro a abril de 2018, foram 14 denúncias, contra as 25 apresentadas ao longo de 2017, que havia registrado ligeira queda em relação ao ano anterior. Foram 28 ocorrências, em 2016, e 21, em 2015. A Conexão AMZ procurou a Segup para obter o número atual de denúncias, mas, até o momento, a secretaria não se manifestou.
Confira a entrevista:
Conexão AMZ | Como vocês acompanham casos como esse de violência e crimes contra homossexuais?
Duda Lacerda | Todos os casos de violência ocorridos no Brasil são acompanhados pelo movimento, tanto em nível estadual quanto nacional. Os grupos se mobilizam para dar suporte ao estado onde aconteceu a violência. Nós, do Pará, também estamos solidários e acompanhando o que aconteceu em São Paulo. É uma maneira de pressionar e cobrar da Justiça para que tenhamos uma solução o mais rápido possível.
AMZ | Qual a realidade no Pará, hoje?
DL | Não estamos muito diferentes dos outros estados. Aqui, também tivemos diversos casos de violência contra a população LGBTI, principalmente travestis e transexuais. Já tivemos diversos assassinatos, tentativas de homicídio, agressões verbais e físicas esse ano. A gente faz o acompanhamento dos casos que passam pela delegacia (de Combate a Crimes Discriminatórios e Homofóbicos), principalmente para que haja solução desses casos, com a prisão e punição dos culpados.
AMZ | A que você atribui esse aumento de casos de violência contra homossexuais?
DL | A intolerância. Acabamos de sair de um período eleitoral onde um candidato à presidência da república (Jair Bolsonaro, do PSL, que venceu a eleição) demonstrava claramente seus preconceitos contra negros, contra religiões afros, contra LGBTI’s... Isso fez com que a sociedade também revelasse preconceitos que, até então, estavam escondidos. A partir do momento em que uma pessoa pública declara seu ódio e nada acontece, uma parcela da população passa a acreditar que nada vai ocorrer se ela também expor seus preconceitos.
AMZ | Como reverter isso?
DL | Infelizmente, a nossa legislação ainda não prevê punição específica para quem comete esse tipo de crime, no caso a LGBTfobia. O que temos é um projeto de lei engavetado que vem, há anos, se arrastando pelos corredores do Congresso (na verdade, existem três projetos sobre o tema aguardando votação na Câmara: PL 7582/2014, PL 7292/2017 e PL 7702/2017; e um no Senado, o PLS 291/2015). A gente precisa aprovar leis para punir quem comete LGBTfobia. Pode ser que, assim, eles entendam que preconceito contra os LGBTI é crime.
AMZ | É possível acreditar em mudança?
DL | Só com respeito à diversidade. É preciso respeitar a individualidade de cada um. Todos temos direito de escolha e a forma de amar só diz respeito aos envolvidos naquela relação. Você não precisa aceitar, você precisa respeitar as diferenças. O Brasil é um país plural, com diversidade de culturas, etnias, religiões... A educação e o respeito são essenciais para que a gente possa combater qualquer tipo de violência.
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