Discriminação racial tem o dobro de denúncias no Pará

Números da Secretaria de Segurança Pública mostram aumento significativo de casos, mas ativista diz que registros ainda são poucos em relação ao número de ocorrências

Conexão AMZ
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O número de denúncias por crimes de racismo e injúria racial, no Pará, praticamente dobrou no último ano. Os 48 casos registrados entre janeiro e setembro do ano passado, segundo a Secretaria de Estado de Segurança Pública (Segup), saltaram para 83 no mesmo período desse ano. Para a jornalista e ativista negra Flávia Ribeiro, o número ainda é pequeno se comparado à ocorrências, mas o crescimento pode ser visto como positivo. “Acho que as pessoas estão se descobrindo negras. Isso nos tinha sido tirado, éramos morenas”, diz.

Para ela, que é uma das organizadoras do evento anual “Marcha das Mulheres Negras”, as vítimas de racismo ainda denunciam pouco por conta do número pequeno de condenações por esse tipo de crime. “Não tem efetividade (na lei). O número de pessoas condenadas por racismo é muito menor que o de denúncias feitas”, alega. A reportagem da Conexão AMZ procurou o Tribunal de Justiça do Estado do Pará (TJ/PA), mas o TJ/PA não se manifestou sobre o número de condenações.

Ciberativista – nas redes sociais Flávia é mais conhecida como Afrontosa Ribeiro – a jornalista vê nas redes sociais uma importante ferramenta de combate ao racismo. “As redes sociais amplificam a nossa voz, nossa pauta, nossa denúncia. A gente alcança um número muito maior de pessoas e consegue levar a discussão para outros espaços”. Mas chama atenção para um dado importante. “As pessoas negras são majoritariamente pobres no Brasil, então, algumas vezes, a gente precisa desligar a internet e ir para o corpo a corpo.”
Vítima

[caption id="attachment_2480" align="alignnone" width="300"] Júnior Nothehan: vítima de racismo[/caption]

 

Estudante de medicina veterinária, Júnior Nothehan, 23 anos, não é capaz de enumerar as várias vezes em que foi vítima de racismo. Nem mesmo na universidade ele escapou do preconceito. “Certa vez ouvi de um professor que, para ser bem sucedido nessa área, eu teria que cortar o cabelo”, lembra. Nothehan também já enfrentou a situação de ser o único passageiro a ter que descer de um ônibus para ser revistado durante uma batida policial. “Dentro do ônibus é comum, como saio tarde da universidade, que as pessoas escondam bolsas, olhem assustadas e até mudem de lugar.”

Dados divulgados nos últimos anos por órgãos como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e entidades como o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, demonstram que, no país, 71% dos analfabetos são negros ou pardos. E eles representam também: 80% das vítimas de assassinato e 60% da população carcerária. Em 98% das cidades brasileiras morrem mais que os brancos. “Pessoas negras são carregadas de estereótipos. Isso tudo nos precede. É do imaginário da sociedade. Temos mais tempo de história dentro de um sistema escravocata do que fora dele. Mas seremos resistência”, garante Flávia.
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