Canais de Belém: como virar o jogo?
Apesar de maltratados por todos os lados, especialista aponta que os canais poderiam virar cartões postais da cidade. Será?

Há séculos, eles fazem parte da cotidiano da cidade. Seja de quem mora às margens de um ou de quem precisa transitar por uma das passagens, ruas e avenidas cortadas por eles. E não são poucas. Belém possui 85 canais. São mais de 155 quilômetros de extensão, distribuídos em 14 bacias hidrográficas. A maioria localizada na área central da capital, cortando vários bairros e vias com grande fluxo de veículos como a Avenida Gentil Bittencourt e a Travessa Três de Maio.
Uma relação nem sempre amistosa. O acúmulo de lixo às margens e dentro dos canais, associado às chuvas constantes nessa época no ano na Região Amazônica, costuma causar transtornos e prejuízos. Diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Pará (UFPA), o professor Fabiano Paes de Andrade enumera o que considera fatores principais para a situação caótica dos canais na capital paraense.
“São, pelo menos, três causas básicas que podem ser apontadas como principais em relação aos problemas atuais dos canais de Belém: falta de um projeto e de manutenção adequados e ausência de apoio da população para a conservação deles”, explica.
Se os dois pontos iniciais são importantes e dependem do poder público, o terceiro também é. Mas, cabe mais aos cidadãos. Rodrigo Vieira, editor da Conexão AMZ, conferiu de perto a experiência de Cabreúva, cidade do interior de São Paulo com cerca de 50 mil habitantes e a 80 km da capital paulista. Lá, a relação da população com o canal que corta uma das principais avenidas do município é um bom exemplo a ser seguido.
A origem dos nossos canais
De acordo com Paes de Andrade, Belém adotou como referência de urbanização, ainda no século XIX, o aterramento de igarapés, córregos e alagados. “Esses aterramentos tiveram como modelo o grande aterro do Lago do Piri, que originou duas importantes vias para o futuro da cidade: as Avenidas 16 de Novembro e Tamandaré”, conta. Naquela época, da Tamandaré até o Ver-o-Peso, estendia-se um imenso igarapé que desaguava no Lago do Piri, que abrangia toda a área no entorno da Pedra do Peixe e separava a Campina da Cidade Velha, os dois núcleos urbanos mais antigos de Belém.
A mentalidade, até então, era de que a água de lagos, alagados e igarapés nas cidades atrairiam doenças com a presença de mosquitos. A solução seria diminuir essas águas, o que intensificou os aterramentos entre o final do século XIX e início do século XX. Nesse período, foram aterrados, por exemplo, o Igarapé da Almas, onde hoje é a Avenida Doca de Souza Franco, e o Igarapé Murutucu, na 14 de Março, onde o caboclo Plácido teria achado a imagem original de Nossa Senhora de Nazaré.
Para o futuro
Apesar da relação pouco amistosa que existe hoje entre a cidade e os canais, há esperança. De acordo com o professor da UFPA, pelo menos três igarapés de Belém, retificados e aterrados para se transformarem em canais, têm potencial para se transformar em cartões postais da cidade. São eles os do Reduto, da 14 de Março e da Tamandaré. “Se recebessem um excelente projeto de revitalização, em futuro próximo, poderiam se assemelhar aos seus congêneres europeus”. Vamos torcer!
O que diz a Prefeitura de Belém
A Conexão AMZ entrou em contato com a Prefeitura de Belém para repercutir os dois pontos (falta de projetos e manutenção adequados) destacados pelo professor Fabiano Paes de Andrade. Em nota, a PMB informou que “atua com obras de dragagem e limpeza em canais da cidade para melhorar o escoamento da água da chuva e combater alagamentos”. Mas, não respondeu se existem ou não projetos, como o mencionado pelo professor da UFPA, com soluções de longo prazo para os canais da cidade.
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