Internet, uma babá nada perfeita
Pedagoga ouvida pela Conexão AMZ alerta para os riscos de deixar crianças expostas ao conteúdo da web sem o devido acompanhamento. E defende: “o diálogo aberto, sensível e esclarecedor é o melhor caminho"
Você deixaria seu filho sozinho em uma praça pública? Pois é, com a Internet é a mesma coisa. “Temos milhares de exemplos de crianças enganadas na Internet, sendo vítimas tanto de pedofilia quanto de automutilação, quando são obrigadas a se ferir por medo”, alerta a pedagoga Edna Machado, da Universidade do Estado do Pará (UEPA).
Assim como o número de vítimas, a discussão sobre o tema também é extensa. Nas últimas semanas, voltou à tona com o compartilhamento de notícias falsas sobre a presença da boneca Momo em conteúdos infantis. A figura macabra estaria incentivando crianças a cometerem suicídio. Os “alertas” que acabaram sendo compartilhados em massa por pais assustados, no entanto, eram na verdade fake news que, quanto mais compartilhadas, mais impulsionavam conteúdos sobre a boneca nas redes.
“Particularmente, eu penso que nunca se deve esconder os fatos das crianças como se elas não fossem descobrir de outras maneiras e muitas vezes de forma errada. Creio que a melhor maneira seja sempre o diálogo aberto, sensível e esclarecedor, para que os pais ganhem a confiança da criança”, orienta.
Defensora da Internet como instrumento facilitador de acesso à informação, cultura e de grande contribuição para a formação da pessoa, Edna ressalta a importância do acompanhamento não só dos pais, mas também dos educadores. “Essa formação só será possível se nós, os adultos, pais e educadores, soubermos ajudar crianças e adolescentes a interpretar criticamente as informações que recebem”, diz. “Não é uma tarefa fácil em função da avalanche de “lixo” que a Internet disponibiliza e com uma velocidade muito rápida”, completa.
Desafio Diário
Tirar da Internet apenas o que pode contribuir de forma positiva para o desenvolvimento da filha Nina, de 5 anos, é um desafio diário para o jornalista Elvis Rocha e a esposa, a publicitária Yanna Tally. “A gente fica de olho pra detalhes sobre o tipo de mensagem que o conteúdo que ela tem acesso passa. Tentamos, na medida do possível, direcioná-la pra um material mais educativo (e, claro, muitas vezes não dá certo, porque ela tem as preferências dela independente de nós). Não nos preocupamos apenas com violência, mas com a educação de maneira geral, dos valores, da visão de mundo que apresentam”, conta Elvis.
Segundo o pai de Nina, a internet está totalmente inserida no cotidiano da filha, o que é natural para qualquer criança da atual geração. “Assim como as outras crianças da idade dela, ela não conhece um mundo sem conectividade. Gosta de jogos de celular, de ver vídeos na Internet, de usar o tablet. Tem seus programas favoritos e já brincou de ser youtuber”, diz.
Ciente de que não tem como evitar o contato da filha com a tecnologia, o jornalista procura acompanhar de perto o uso da Internet pela pequena. “Não usamos nenhum tipo de mecanismo além do acompanhamento presencial. Nina gosta muito do Youtube, mas temos ressalvas com liberar o acesso a ele. Então, ela não pode ver os vídeos sem a presença de um de nós. Ela, inclusive, diz que “só pode com adulto, né?”. Claro que ela já burlou essa regra, mas de uns tempos pra cá parece que entendeu”, conta Elvis.
Dialogar, ensina a pedagoga, é mesmo sempre o melhor caminho. “Hoje as crianças não acreditam em Lobo Mau, mas acreditam em pessoas más. Por isso, não ajuda em nada tentar enganar. Os pais e responsáveis devem procurar conhecer bem seus filhos, não deixá-los muito tempo sozinhos, trancados no quarto com acesso à internet. É importante demonstrar interesse pelo que ele faz, com quem conversa, dialogar, brincar e, principalmente, dar-lhes afeto.”
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