Trump e Bolsonaro: o líder do líder
A Mestre em cientista política e editora AMZ Rita Soares alerta que o que mais preocupa no uso que eles fazem das redes é a constante tentativa de desacreditar a imprensa
Nas redes sociais, o modelo baseado no líder americano inspira cuidados. Segundo informações da jornalista Isabel Fleck, editora-executiva do site HuffPost Brasil, em apenas uma semana de governo, o presidente Jair Bolsonaro conseguiu superar o presidente norte-americano Donald Trump no que classificou como “uso irresponsável do Twitter”. Como? Compartilhando conteúdos de perfis falsos, que imitam perfis de jornais e jornalistas para propagar notícias falsas. Fleck alerta que a maioria dos fakes é tão parecida com a versão real que o internauta menos avisado facilmente acredita está diante do perfil de um grande jornal.
A jornalista menciona o que chama de retuitadas sem freio e diz que “há uma coleção de retuítes inconsequentes. No último dia 5, ele compartilhou o perfil "Trolha de S. Paulo" e o perfil "Reginaldo Azedo" (um fake do jornalista Reinaldo Azevedo). No dia anterior, o fake escolhido foi o "Estabão - Paródia".
No caso do presidente, há um decreto, em vigor desde o dia 2 de janeiro, que determina que as contas pessoais das mídias sociais dele sejam administradas pela Assessoria Especial do Presidente da República. A dúvida, também levantada pela jornalista Isabel Fleck, é se as novas regras estão sendo cumpridas já que, nas redes sociais do presidente, aparentemente a disputa eleitoral ainda não terminou.
Para a cientista política Rita Soares, o perigo reside justamente nessa relação conflituosa entre os tuites das autoridades – sobretudo Trump e Bolsonaro – e as informações divulgadas pela imprensa. “O que preocupa no uso que eles fazem das redes é a constante tentativa de desacreditar a imprensa. Com isso eles procuram se blindar contra possíveis denúncias. Estamos observando uma disputa de narrativas”, analisa.
A alternativa pode estar em buscar outras fontes de informação para checar se a notícia, mesmo que divulgada pelo presidente da república, é mesmo real. “É importante para a sociedade manter o senso critico. Não é apenas porque o gestor anunciou uma medida em sua rede social pessoal que essa informação não está passível de contestação e análise”, completa Soares.
No Pará, o governador Helder Barbalho também seguiu divulgando sua agenda pelo Twitter, mesmo após as eleições. Foi por lá, por exemplo, que até a própria imprensa ficava sabendo das indicações para cargos de secretários, diretores e presidentes dos órgãos públicos. “Helder seguiu a tendência de usar as redes para anúncios de medidas de governo, tanto da equipe quanto de ações”, comentou a especialista.
Após a posse, o governador postou em sua conta pessoal fotos das vistorias que fez aos hospitais em obras no estado, reuniões com autoridades, entre outros atos. “Isso passa a ideia de uma gestão transparente, com comunicação direta com os eleitores”, avalia Soares, para quem as redes sociais podem ser positivas, desde que usadas corretamente. “Elas têm a vantagem de permitir uma comunicação direta entre o gestor e os cidadãos. O grande erro, contudo, é achar que por causa dessa comunicação direta, pode se abrir mão do papel da imprensa. O papel desta continua sendo relevante no sentido de contextualizar as Informações, indicar possíveis consequências, apontar contradições e questionar as autoridades. Isso continua sendo essencial para os regimes democráticos”, pondera.
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