Combate às fake news exige jornalismo e educação para as mídias

Matriz curricular das escolas deveria adotar disciplinas de educomunicação desde o fundamental até a universidade

Mário Camarão França Neto

Mário Camarão França Neto

Especial para O Liberal

No segundo semestre de 2019, algumas áreas da Amazônia Brasileira ardiam em chamas em uma das maiores concentrações de queimadas da história. A tragédia ambiental acirrou as discussões públicas, mas, tão rápido quanto as chamas nas florestas, notícias falsas ou fake news sobre o problema se alastraram pelas redes sociais e ainda circulam até hoje fazendo vítimas.
Uma dessas fake news afirmava que somente o Estado do Amazonas, que abriga a maior parte da floresta tropical úmida no Brasil, teria em atuação 100 mil ONGs, enquanto que em toda região Nordeste do País não havia nenhuma. A informação, obviamente falsa, apresentada em forma de infográfico, em tamanho propício para compartilhamento no Whatsapp, por exemplo, ainda questionava: "Bondade ou interesse?".
Mas, por qual motivo as pessoas caem em armadilhas travestidas de informações fidedignas como esta? O pano de fundo desse comportamento é o fenômeno da pós-verdade. O conceito, muito comentado atualmente, baseia-se na crença e nos sentimentos. Assim, todas as informações se moldam tão somente pelo viés no qual um indivíduo acredita - e ponto final. Um grande risco e perigo para todos.
Nesse sentido, o importante passo de checagem de informações ou simplesmente o surgimento da dúvida são excluídos do processo de assimilação, diante da avalanche de conteúdos alimentada pelo uso da internet e redes sociais por bilhões de pessoas.
A saída para uma sociedade conviver com as fake news é a literacia midiática, ou seja, a educação para as mídias. Compreender os processos de produção da grande mídia e das redes sociais digitais tornou-se essencial. As escolas deveriam adotar, nas matrizes curriculares, disciplinas de educomunicação desde as etapas iniciais de ensino e seguir com elas até a universidade, reforçando o pensamento crítico e a formação de sujeitos atentos e conhecedores das etapas de construção e compartilhamento de informações, além de seus impactos.

INFODEMIA

Atualmente, as pessoas, de modo geral, ouvem, leem, veem e interagem mais. Por outro lado, há uma capacidade limitada de absorção e compreensão de conteúdos, além das dificuldades para a seleção das informações. Esse processo ganhou contornos ainda mais críticos com a pandemia do novo coronavírus, trazendo à discussão os impactos de uma infodemia.

Diante de uma infodemia, as pessoas tendem a ficar confusas, na maioria dos casos. Há um excesso de informações, sendo algumas verdadeiras e outras, não, deixando dificuldades para que se encontrem fontes idôneas e orientações com alto grau de confiabilidade. Infodemia se relaciona, portanto, a um aumento expressivo no volume de informações de assunto específico, com a multiplicação exponencial em pequeno intervalo de tempo.
A circulação acelerada de informações na pandemia intensificou a propagação de erros, equívocos e notícias falsas. O processo de desinformação produz um entorpecimento diante da avalanche de textos, números, imagens nas diferentes telas, links compartilháveis e mensagens de aplicativos.
Nesse contexto caótico, observamos uma reconfiguração e fortalecimento do jornalismo como fonte confiável de informação. O reconhecimento do trabalho profissional de grande parte da imprensa possibilitou justamente a formação de uma rede de combate às fake news, especialmente com o crescimento em todo o País das iniciativas de fact-checking ou verificação de fatos.
No entanto, o esforço jornalístico é somente uma das frentes de combate a esse grande problema social contemporâneo. Organizações privadas – inclusive administradoras das próprias redes sociais, como Facebook, Instagram e Twitter -, universidades, instituições do terceiro setor, entre outras, têm investido em ações contra as informações falsas, mas é necessário avançar ainda mais.

* Mário Camarão França Neto é doutorando em Cibercultura e Redes de Informação pela Universidade do Minho, em Portugal. É coordenador de curso e mídia da Unama/SER.

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