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Conheça a história de Irmã Serafina, o "Anjo da Transamazônica"

Religiosa que atuou na Amazônia está na fila para ser beatificada, um dos passos para a canonização

João Thiago Dias
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Assim como irmã Dulce, que será canonizada no dia 13 de outubro deste ano e se tornará a primeira mulher brasileira a virar santa, outros religiosos que deixaram grandes lições de bondade no Brasil podem ganhar o reconhecimento. Na região Amazônica, a irmã Serafina (Noeme) Cinque (1913-1988), conhecida como "Anjo da Transamazônica", foi reconhecida pelo Papa Francisco, em 2014, pelas suas virtudes heroicas. Com o decreto papal, a Igreja e os fiéis devotos podem chamá-la de Venerável e aguardar um milagre, devidamente comprovado, para que possa ser considerada beata (beatificação), ficando a um passo da santidade (canonização).

Quem conta a história da religiosa é a vice-postuladora da causa de beatificação dela, irmã Marília Menezes, de 87 anos, da mesma ordem de Irmã Serafina, e que cuida da documentação e divulgação do testemunho da religiosa há mais de 15 anos. Missionária, professora, poetisa, jornalista e filha do poeta paraense Bruno de Menezes, irmã Marília conheceu a Venerável pessoalmente e andou por diversos lugares na Amazônia onde Irmã Serafina trabalhou, ajudou a coletar cerca de 300 documentos e 52 testemunhos de pessoas que conheceram a religiosa, e escreveu quatro livros apresentando a missão pastoral e uma biografia detalhada, que reforçam as virtudes evangélicas, além de um livro de história em quadrinhos. 

Ela conta que irmã Serafina pertenceu à Congregação das Irmãs Adoradoras do Sangue de Cristo e foi natural da cidade de Urucurituba, interior do Amazonas. "Filha de pais italianos (Vicente Cinque e Sarah Cinque). Ela foi professora e enfermeira. A vocação para a vida religiosa foi percebida aos 12 anos de idade, apesar da forte e constante objeção do pai, que a desejava como grande mulher de negócios, como ele", contou irmã Marília.

No entanto, Noeme (nome de batismo) só ingressou à vida religiosa em 1946, com 33 anos, quando, recebeu o convite das irmãs norte-americanas Adoradoras do Sangue de Cristo, que visitavam Manaus. Elas a levaram para a cidade de Wichita, Estado de Kansas, EUA, onde passou dois anos fazendo o Postulado, o Noviciado e a Profissão dos Votos Religiosos, recebendo o nome de Irmã Serafina.

"De volta a Manaus, trabalhou arduamente para a construção do primeiro Noviciado na Amazônia e primeiro Convento do Preciosíssimo Sangue. No âmbito educacional, no interior do Amazonas, serviu em Coari, Manacapuru, Codajás e Nova Olinda do Norte, e no Pará em Santarém e Altamira, ora como diretora e professora, ora regularizando os papéis junto às Secretarias de Estado de Manaus e Belém, para conseguir reconhecer Escolas secundárias e de formação de Professores", detalhou Marília Menezes.

Como enfermeira, não havendo médicos no interior da Amazônia, era considerada uma verdadeira médica, fazendo partos, cuidando de várias doenças, e ensinando a medicina e alimentação alternativa para combater a fome e doenças. "Foi uma grande parteira com dedicação inesgotável. E ficou conhecida especialmente pela sua caridade", ressaltou a também jornalista Marília Menezes.

Em 1971, Irmã Serafina foi enviada para Altamira, sede da Prelazia do Xingu, onde viu o drama da miséria causada pela abertura da Estrada Transamazônica, quando o hospital da cidade não dava conta de receber as gestantes e os enfermos vitimados pelas consequências da abertura da estrada. Em sua caridade heroica, começou a acolher as gestantes e os doentes que ficavam nas ruas, em abrigos provisórios.

Em 1984, fundou a Casa da Providência, no município de Altamira, no Oeste do Pará, para receber as gestantes e seus bebês. Pouco depois, fundou um anexo para os doentes chamado Refúgio São Gaspar. Já em 21 de outubro de 1988, faleceu vítima de câncer, em Manaus, onde a fama de santidade se espalhou com muitos casos de cura de doenças.

Processo

O padre Ivan da Silva Conceição, da Paróquia Nossa Senhora do Amparo, Juiz Adjunto no Tribunal Eclesiástico da Arquidiocese de Belém e Postulador (responsável pelo processos judiciais exigidos pela Igreja Católica para beatificação ou canonização), explica que, em 2014, irmã Serafina teve a “Nulla Osta”, da Santa Sé, que constitui o “Nenhum obstáculo ou impedimento” para o reconhecimento do primeiro grande passo em seu processo, a saber: as “Virtudes heroicas”, título dado, somente em janeiro deste mesmo ano. 

"Com este reconhecimento, o Papa Francisco, em atenção ao Dicastério para Causa dos Santos, reconhece que a Fama de Santidade, de Irmã Serafina era: antes, durante e após a morte, algo crescente, requisito básico para uma continuidade de um processo de beatificação", explicou o padre. "Este passo reconhece a religiosa brasileira como Venerável. O processo, agora, caminha para a comprovação dos milagres, com a devida investigação científico-canônica, e, após tal comprovação, a Congregação para causa dos Santos, prescreve, já em seus livros, a Beata, que com muitos testemunhos a seu favor, não deve esperar tanto, para que venha a ser citada nos altares como Santa", detalhou.

Outros religiosos

Ele também lista outros religiosos da Amazônia que podem ser reconhecidos como santos. "Atualmente, temos alguns processos em andamentos em nossa região Amazônica, como o de Frei Daniel de Samarate, sediado na Arquidiocese de Belém, tendo como Autor da causa, a província Capuchinha do MA-PA-AP, iniciado em 1991", contou. Outro processo em andamento é o de Dom Eliseu Maria Coroli, Padre Barnabita, Italiano que dedicou sua vida à Missão em terras paraenses, sendo Bispo da Diocese de Bragança, e, em 1996, teve seu processo de Beatificação iniciado. 

"Em nossa Igreja de Belém, em 2010, Dom Alberto Taveira deu o ponta pé inicial para o início do processo de Beatificação do Mocajubense, de Putirí, Monsenhor Edmundo Armando Sant’Clair Igreja, famoso por uma vida dedicada à região do Salgado. O Apóstolo do Salgado, como era conhecido, morreu com fama de santidade, tendo fundado o Instituto dos Padres Providentinos, tem como Autor da causa, o mesmo Instituto", concluiu padre Ivan.

Beatificação x Canonização

São etapas de um processo acurado e minucioso, onde a Igreja Católica declara um fiel; Santo; sendo: a Beatificação uma etapa intermediária em direção ao juízo definitivo, que o Papa confere ao chamado Servo de Deus, para que possa ser venerado de forma limitada em certos lugares. A Canonização é um ato solene, com o qual o Papa declara de forma definitiva que um Fiel católico está na glória eterna e pode ser publicamente venerado na Igreja inteira. 

Quem beatifica e canoniza é sempre a Igreja Católica. Para que isso ocorra, é necessário que se inicie um processo a pedido de um, assim chamado, “Autor da causa”, que pode ser um Bispo, uma Diocese, uma Paróquia, uma congregação religiosa, ou mesmo uma pessoa física idônea que faça parte do povo de Deus, e possa garantir o bom andamento do processo em todas as suas fases.

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