Colonos retirados da TI Apyterewa e Trincheira Bacajá relatam não ter para onde ir

Nesta terça-feira (31) terminou o prazo para a saída pacífica dos moradores de vilas que estariam em áreas declaradas dos povos indígenas

O Liberal

O prazo final para a saída pacífica dos proprietários de gado e outros animais de criação das terras indígenas Apyterewa e Trincheira Bacajá, no sudeste paraense, terminou nesta terça-feira (31). As notificações sobre a necessidade de retirada dos invasores - na maioria ilegais - ocorre desde o dia 2 de outubro e envolve 14 órgãos federais e estaduais. Além da operação de desintrusão das terras, os agentes estariam fiscalizando crimes, com a aplicação de multas e apreensão de equipamentos. Na região, o dia foi de reclamações e incertezas. Muitos colonos relataram estar em total desamparo após deixarem as propriedades onde viviam há anos.

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image O colono Aurino da Rocha morava às proximidades da terra dos Apyterewa (Igor Mota / O Liberal)

No local, vários colonos se dizem injustiçados pela operação por não terem para onde ir. Os criadores de gado relatam que vivem e trabalham há décadas nessas áreas, onde fixaram moradia. E contam que já perderam diversos animais e bens, pois, tiveram que sair às pressas de suas antigas propriedades, deixando, inclusive, itens de valor para trás. Além disso, queixam-se de que muitos dos animais que foram retirados das fazendas vêm enfrentando dias de jornada nas estradas, o que já resultou na morte de muitos deles, por fome e sede, ou na debandada, após percorrerem longos trajetos sem rumo definido. 

“Já estou há uma semana lutando, juntando gado e colocando na estrada. Todo dia é um sofrimento. A cada cem metros perco um animal. Tem gado que ficou nas terras, nas estradas, uns morreram de sede e fome. Eu tô completando 60 anos e nunca tinha visto uma situação dessa no Brasil. Isso é uma injustiça muito grande. Minha moradia agora é essa estrada aqui. Já vi vários animais mortos, tudo dessas ‘mudas’. É um sofrimento muito grande, não tá sendo fácil. Tô sem rumo nenhum”, desabafa Aurino da Rocha, colono que morava às proximidades da terra dos Apyterewa.

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Ainda segundo os colonos das áreas alvo da ação de desintrusão, não é apenas o gado que está morrendo. Eles relatam que nas vilas muitas pessoas também perderam galinhas e porcos, que eram criados nas casas, durante a tentativa de remanejamento, pois com o fim do prazo para a saída pacífica, ninguém poderia mais retornar para tentar retirar outros bens pessoais ou pertences das casas. Segundo Francisco Barbosa, que morava em uma das vilas locais, os colonos estão desamparados.

“A gente vivia há quase 30 anos aqui e agora vamos ter que sair com uma mão na frente e outra atrás. Como o prazo final foi dia 31, a gente pegou nossas coisas e tirou o que deu. Nós estamos ‘labutando’ no caminho. Não foi feita nenhuma compensação, não recebemos um centavo. Estamos há uns cinco dias na estrada, já perdemos umas 20 cabeças de gados. Sem falar que tá tendo muita morte de animais pelo caminho. Nós já perdemos seis vacas. Acho uma covardia tudo isso”, lamenta.

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