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Vacina BCG completa 100 anos e é pesquisada para o enfrentamento à covid-19

Em Belém, o Cesupa realiza a pesquisa que nacionalmente é coordenada pela Fiocruz

Abílio Dantas

A prevenção contra a tuberculose tem como principal símbolo a vacina BCG (Bacillus Calmette-Guerin), que completa 100 anos de existência hoje (1). Em 1921, os cientistas Albert Calmette e Camille Guérin revolucionaram a história da imunização no mundo e foram pioneiros no desenvolvimento do imunizante que é considerado hoje, pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a vacina mais segura já desenvolvida. Com o centenário completado neste ano, a BCG está longe de ser irrelevante. Uma pesquisa internacional em curso, com coordenação no Brasil da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), investiga se a vacina pode ser usada no combate ao Sars-CoV-2, o vírus da covid-19.

Em Belém, a pesquisa é coordenada pelo epidemiologista Haroldo José de Matos, professor do Centro Universitário do Estado do Pará (Cesupa) e pesquisador aposentado do Instituto Evandro Chagas (IEC). “O Cesupa coordena o estudo em Belém. A BCG tem sido utilizada para combater outras doenças, além da tuberculose, como câncer. O que observamos é que ela fortalece o sistema imunológico, melhora a imunidade inata. Estamos pesquisando se isso também ocorre em relação ao Sars-CoV-2”, explica o pesquisador.

De acordo com Haroldo Matos, no ano passado, a Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) de Belém realizou experimento que, após analisar 400 crianças que haviam tido covid-19, demonstrou que as que haviam sido vacinadas com a BCG tiveram sintomas muito mais leves do que as não vacinadas. “Para as não vacinadas, o risco de contraírem a covid foi quatro vezes maior, segundo o estudo. Agora estamos solicitando a colaboração de voluntários que queiram contribuir com a nossa pesquisa”, informa o pesquisador.

Até o dia 9 de junho, o Cesupa aguarda pessoas de 18 a 45 anos para participarem do ensaio clínico. “As pessoas podem comparecer de 8h ao meio dia no prédio do Cesupa localizado na Almirante Barroso, número 2775. Vamos investigar o quanto a BCG pode proteger as pessoas”, reforça Matos. Poderão participar como voluntários pessoas que não foram infectadas pela covid-19 e que não estão participando de outro ensaio.

“Após fazerem o teste rápido para a covid, e for comprovado que não foram infectadas, elas vão ser sorteadas para receber a BCG ou o placebo. Serão seis meses de acompanhamento, mas nada impede que recebam a vacina contra a covid-19, caso chegue a vez delas nesse meio tempo. A meta é alcançar o número de 200 voluntários”, completa o pesquisador.

A Fiocruz também frisa que, antes de receber a vacina, os voluntários passam por entrevista e testagem. “Todos serão acompanhados pela equipe de pesquisa por até um ano, por meio de ligações telefônicas semanais. Caso apresentem qualquer sintoma de covid-19, poderão fazer a coleta do swab nasal para avaliar a presença de Sars-Cov-2. Além disso, retornos trimestrais serão agendados para verificar a presença de possíveis infecções assintomáticas”, afirmou a Fundação. 

Outras doenças

Ensaios clínicos realizados em diversos países apontam a ação da vacina BCG em outras infecções, além de oferecer proteção contra a covid-19. Segundo a Fiocruz, o laboratório Activate, na Grécia, realizou ensaio clínico de revacinação com BCG em idosos que demonstrou uma redução de 79% de infecções respiratórias após um ano de acompanhamento. “Na África do Sul, estudos mostraram que a vacina reduziu em 73% nas infecções no nariz, na garganta e nos pulmões”, completa a Fundação.

A vacina BCG é composta por bactérias da estirpe Mycobacterium bovis (Bacillus Calmette-Guérin), que têm uma carga viral atenuada e que, por isso, ajudam a estimular o organismo, levando à produção de anticorpos contra a turbeculose, que serão ativados caso a bactéria que causa a doença entre no organismo. Embora seja causada por um vírus, e não por uma bactéria, os cientistas acreditam que a BCG pode provocar a imunidade contra outras enfermidades, como a covid-19, no que os cientistas chamam de “efeitos fora do alvo”, conforme afirmou à CNN Brasil a médica Denise Faustman, professora da escola de medicina de Harvard.

Aplicação

De acordo com o Ministério da Saúde, a vacina BCG deve ser aplicada diretamente na camada superior da pele, por um médico, enfermeiro ou profissional de saúde treinado. Geralmente, para crianças com idade inferior a 12 meses a dose recomendada é de 0,05 mililitros, e com idade superior a 12 meses é de 0,1 mililitros.

A vacina é sempre aplicada no braço direito da criança, e a resposta ao imunizante leva de três a seis meses para aparecer e é notada quando surge uma pequena mancha vermelha elevada na pele, que evolui para uma pequena úlcera e, finalmente, uma cicatriz. A formação da cicatriz indica que a vacina foi capaz de estimular a imunidade no bebê.

O ministério informa também que, depois de receber a vacina, a criança pode apresentar uma lesão no local da injeção. Para que a cicatrização seja feita corretamente deve-se evitar cobrir a lesão, manter o local limpo, não aplicar qualquer tipo de medicamento, nem fazer curativo na região.

A vacina utilizada contra a tuberculose geralmente não leva ao surgimento de efeitos colaterais, além da ocorrência de inchaço, vermelhidão e sensibilidade no local da injeção, que gradualmente muda para uma pequena vesícula e depois para uma úlcera em cerca de 2 a 4 semanas. Embora seja comum, em alguns casos, pode ocorrer inchaço dos gânglios linfáticos, dor muscular e ferida no local da injeção. Ao surgirem esses efeitos colaterais, é indicado ir ao pediatra para que a criança seja avaliada.

A BCG é contraindicada para bebês prematuros ou com menos de 2 quilos, sendo necessário esperar o bebê chegar aos 2 quilos para que seja administrada a vacina. Além disso, pessoas com alergia a algum componente da fórmula, com doenças congênitas ou imunodepressoras, como infecção generalizada ou AIDS, por exemplo, não devem tomar a vacina.

A duração da proteção é variável, mas é consenso que vai diminuindo gradualmente, ao longo dos anos. É de conhecimento público também que a proteção é superior nos primeiros três anos de vida, mas não existem evidências de que seja superior a 15 anos.

Segundo a OMS, até o momento, não existe qualquer evidência científica que demonstre que a vacina BCG seja capaz de proteger contra o novo coronavírus.

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