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Projeto leva aulas de malabarismo para crianças de escola pública em Belém

Iniciativa é desenvolvida por um artista de rua e pedagogo que buscam aproximar a cultura circense ao ambiente escolar

Emilly Melo/ Especial para o Oliberal

Equilíbrio, autoconfiança, controle e agilidade são os principais requisitos para um malabarista conseguir manipular e realizar acrobacias com objetos no ar. A arte de suspender e manusear instrumentos com destreza e rapidez está presente na sociedade há milhares de anos, sendo praticada comumente com a finalidade de entreter o público. No entanto, essa atividade — que já passou pelos espetáculos de rua, palcos de teatros e picadeiros de circos — ganhou uma nova perspectiva através de um projeto desenvolvido em uma escola municipal de Belém, o qual oferece aulas de malabares para fortalecer a educação social.

O “Ver-o-Malabares” é uma iniciativa do artista popular Jonathan Prado e do pedagogo Cleiton Amancio realizada na escola Palmira de Oliveira Gabriel, no bairro da Pedreira, com o objetivo de ensinar processos que auxiliam em noções de limites, superação e autoconfiança. As aulas terão duração de três meses e são ministradas para crianças de 9 a 10 anos de três turmas do colégio.

Jonathan é argentino e chegou na capital paraense em 2019. Ele diz que gostaria de mostrar o mundo do circo e artes cênicas aos estudantes logo na infância, pois lembra-se de quando era um garoto cheio de energia, mas não sabia como gastá-la. “Eu era uma criança muito inquieta, batia minha cabeça, joelhos, estava sempre com um ‘galo’ na cabeça. Gostaria tanto de ter aprendido o malabarismo quando criança, na escola. Por isso, quero que eles aproveitem essa oportunidade, assim como eu, que canalizei tudo isso nos malabares, por meio da concentração para não cair e fazer o truque dar certo”, relata Prado.

A parceria entre Cleiton e o artista de rua aconteceu por acaso, enquanto Jonathan se apresentava em um semáforo do bairro da Pedreira. A cultura e educação estreitaram o caminho dos dois e foram os combustíveis necessários para alimentar a ideia de desenvolver um projeto social na escola Palmira de Oliveira Gabriel.

image  (Igor Mota / O Liberal)

O pedagogo ressalta que o acesso à arte é um direito social, garantido pela Constituição Federal, além das atividades previstas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) que estimulam o desenvolvimento motriz, e trazem muitos benefícios para as fases iniciais da infância. “Nesse período elas estão desenvolvendo a coordenação motora, aprendendo a pegar os objetos e a percepção. Logo, essa prática do malabarismo vai desenvolver percepção, corpo, desenvoltura, autoestima, e esses elementos se relacionam com as questões de dentro da sala de aula, porque o aluno precisa ter atenção, autonomia, foco.“

O estudante de educação física e voluntário do projeto Daniel Quintanilha acredita que outras atividades deveriam ser exploradas pelas escolas, especialmente aquelas que valorizam os aspectos culturais. “Às vezes, a educação física nas escolas fica muito restrita ao futsal e queimada, mas é importante incorporar uma cultura do movimento". Ele também pontua que a valorização da arte circense amplia o entendimento dos pequenos e ativa outras habilidades.

“O único contato que a maioria das pessoas tem com malabares é no sinal, o que faz com que aquilo se torne algo indesejado, marginalizado. É importante quebrar essa barreira e entender o malabarismo como uma apresentação artística ou até um hobby, como algo que me ajuda a desenvolver ou relaxar, para esvaziar a mente, e que também pode ser muito divertido”, avalia Daniel.

O estudante revela que se encantou pela arte circense quando descobriu como ela pode ajudar no desenvolvimento infantil. Ele espera que as atividades ajudem as crianças a se expressar e, principalmente, se divertir. “A criança tem que aprender a se locomover, equilibrar e manipular objetos, e vemos que, muitas vezes, estimulamos ela a se locomover, se equilibrar, mas a manipulação de objetos fica mais de lado, e aí o malabares resgata isso através dessa nova experiência que elas estão explorando. Espero que se divirtam e se sintam desafiadas, para que possam dizer ‘eu consigo, consegui fazer isso’.”

Escola

Daniele Lago, diretora da instituição de ensino, afirma que o Ver-o-Malabares foi bem recebido pela comunidade escolar e ajudou a aproximar as crianças da cultura circense. “São atividades essenciais que trabalham o equilíbrio e deixam as crianças empolgadas com algo diferente, que, às vezes, é marginalizado e faz com que elas aprendam a respeitar essa arte. Existem crianças que nunca foram em um circo”, destaca Daniele.

A diretora ressalta que o estímulo à educação popular é primordial para o desenvolvimento da cidadania na primeira infância. Segundo ela, a escola também é responsável por proporcionar essa aproximação entre os alunos e a arte. “A educação popular perpassa as questões de preservação do meio ambiente, respeito às diferenças e ajuda a olhar para os artistas sem um olhar marginalizado, mas com a oportunidade de fazer da arte uma motivação e identificação com outras atividades”, conta Daniele.

A aluna Ana Luiza Carvalho, de 9 anos, está ansiosa para as próximas aulas do projeto. Ela diz que nunca teve contato com o malabarismo antes do Ver-o-Malabares. “Eu vi as meninas tentando e quis também. Eu achei muito legal, principalmente porque aprendi a ter mais equilíbrio e paciência”, comemora.

Principais desafios

Jonathan e Cleiton contam apenas com a ajuda dos voluntários para desenvolverem o projeto e destacam que esse é o maior desafio enfrentado pelos organizadores. O artista de rua enfatiza que os materiais usados durante as aulas são feitos com materiais recicláveis, o que, para ele, é uma boa alternativa, pois torna os equipamentos acessíveis aos alunos e permite que eles próprios realizem a confecção em casa.

“A maior dificuldade é encontrar parceiros para participar do projeto e que tenham disposição para ajudar. Também precisamos de ajuda com os materiais das aulas, apesar de eu fazer os malabares com materiais recicláveis, mas tem um gasto com fita, cabo de vassoura, serra, perna de pau, e o monociclo. Embora uma iniciativa gratuita para as crianças, existe um custo para essa realização. Porém, o mais importante disso tudo é encontrar pessoas com disposição e tempo para tocar o projeto”, desabafa o malabarista.

A professora de educação Gio de Paula afirma que a presença das atividades circenses no ambiente escolar é proveitosa para todos e resgata o sentimento lúdico também nos professores.

“Essa chegada aqui do circo, que está dentro da ginástica, só tem a acrescentar não só para as crianças, que é uma atividade super prazerosa, lúdica, mas também a nós, professores, que nos permitimos adentrar esse universo lúdico, que ainda, infelizmente, pela dinâmica do dia a dia, nos impossibilita de estarmos trazendo à tona a criança que há dentro da gente”, analisa a docente.

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