Aplicativo de mobilidade fluvial transforma realidade dos moradores da Amazônia

“Jungle Boat” facilitará a viagem de barco pelos rios amazônicos. Idealizado pela ONG Ocas, o projeto contou com a participação de mulheres da ilha do Combu e do bairro do Jurunas, em Belém

Camila Azevedo
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Integrar práticas ambientais, sociais e de governança dentro de um modelo de negócios que transforme a realidade dos moradores da Amazônia é o principal objetivo do Jungle Boat, aplicativo de mobilidade fluvial pensado a partir do contexto dos problemas de locomoção da região. A iniciativa, desenvolvida por meninas e mulheres do Jurunas e da Ilha do Combu, por meio da Organização Não Governamental (ONG) OCAS (Organização Comunitária Adesão Social), já conta com 10 barqueiros e também funciona como uma forma de incentivar o fortalecimento das comunidades locais e do turismo baseado na preservação da natureza.

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Para que a ideia tivesse sucesso e fosse elaborada, de fato, como uma solução, pesquisa e escuta ativa foram necessárias. Renato Rosas, CEO da OCAS, explica que o trabalho envolveu entrevistas com barqueiros da região amazônica, turistas e moradores para que um mapeamento completo do cenário fosse realizado de forma mais aprofundada.

“Descobrimos que tinham esses problemas: as pessoas queriam mais disponibilidade de horários, principalmente à noite. Se um idoso tem problema de saúde, é difícil ter barco neste horário mais tarde; eles querem um rio menos poluído… Para todas essas coisas, fomos dando atenção, sobretudo no contexto social”, frisa.

A OCAS está em atividade desde dezembro de 2020. A ideia de uma plataforma de projetos socioambientais - greentech, como chamam - surgiu a partir da necessidade de trazer para o âmbito da metrópole os saberes tradicionais, o empreendedorismo sustentável e as narrativas principais de quem é detentor da floresta amazônica, ou seja, as pessoas que vivem no interior e em comunidades da baixada da metrópole.

“O Jungle Boat é um projeto que dá uma solução para a mobilidade fluvial da Amazônia, baseado no fato de que a comunidade, sobretudo meninas e mulheres que estão à margem desse serviço, precisam ter mais segurança e respeito”, adiciona Renato. 

Educação 4.0

O modelo de educação 4.0, que aborda estratégias para solucionar problemas futuros e permite que o aluno aprenda os conteúdos na prática, foi usado para o desenvolvimento do Jungle Boat. A ONG buscou professores para melhorar essa experiência.

“Fizemos um design simples durante a pandemia e percebemos que existem vários problemas nessa mobilidade para que a região das ilhas possa ser vista com excelência. A OCAS percebeu que poderia dar essa solução, então, começamos esse projeto de educação 4.0 que, através de um professor, se mostrou como construir um app. Esse professor deu aulas para meninas do Jurunas e do Combu”, conta o CEO da organização.

image O modelo de educação 4.0, que aborda estratégias para solucionar problemas futuros e permite que o aluno aprenda os conteúdos na prática, foi usado para o desenvolvimento do Jungle Boat (Divugação)

Renato reforça, também, que o aplicativo permite o fortalecimento de uma série de fatores encontrados na região amazônica, como o comércio e a economia. “Inscrevi as meninas em um concurso internacional. Elas ficaram em 8º lugar e, de lá, elas foram para um encontro nacional de robótica em São Bernardo do Campo [São Paulo]. O Jungle Boat não é só um aplicativo de barco. Toda uma cadeia de oportunidades é fortalecida com ele: o barco, o barqueiro, o CNPJ, o contrato público… o comércio, que utiliza recursos renováveis, cria itinerários sustentáveis, desde a sua cadeia mínima, que são cooperativas, até a descentralização de portos em Belém”. 

Turismo responsável

Um turismo que incentiva a sustentabilidade e leva as pessoas a conhecerem o lado das ilhas que valoriza o meio ambiente está dentro dos objetivos do Jungle Boat. Quando entrar em pleno funcionamento - por enquanto, a OCAS espera investimento para poder adequar os barcos com motores elétricos, que não agridem os rios -, o aplicativo terá caminhos que levam a regiões que possuem trabalhos de sustentabilidade.

“A gente não vai priorizar o Furo do Combu, por exemplo, porque não vamos levar para onde estão jogando lixo, altos desejos no rio, lugares predatórios. Não queremos essa cultura. Vamos oferecer um local que seja de base comunitária, onde sabemos que tem responsabilidade ambiental e social”.

Construção

Aline Araújo, UX Designer de São Paulo, foi uma das profissionais envolvidas no processo de criação do aplicativo. Ela foi a responsável por desenhar o protótipo do Jungle Boat e, para isso, precisou entender a realidade de Belém.

“Mergulhei em uma outra realidade, precisei pesquisar bastante para poder entender minimamente a realidade de Belém, do Pará e a questão dos rios. Consegui encontrar alguns vídeos de pessoas trafegando pelos rios. Uni o GPS, que já existe, com o que eles precisavam. O desafio maior foi pensar em como realizar depois de pesquisar o que já existia no mercado, para conseguir, de alguma forma, fazer em um outro formato”, conta. 

Foram realizadas várias reuniões de alinhamento para que a ideia do aplicativo ganhasse forma. Para Aline, a experiência foi de mudança de olhar. “A gente precisou ter várias reuniões com as meninas do Jungle Boat para que elas explicassem qual a ideia. Fui buscando tudo que consegui achar de informação sobre o projeto. Levantei os requisitos necessários, quais os problemas da região e o que eles queriam sanar. A partir daí, foi inspiração de aplicativos de mobilidade que já existem em São Paulo. Isso me ajudou muito. Você muda um pouco de olhar. Isso foi ajudando na construção do que vai saindo do Jungle Boat”, completa.

Aplicativo abriu portas

O Jungle Boat aliou inclusão digital a melhores condições de mobilidade na vida dos ribeirinhos de Belém. Luanny Teles, estudante de 19 anos, foi uma das moradoras da região das ilhas que atuou no desenvolvimento do aplicativo - a ferramenta, além de permitir com que ela entrasse no mundo da tecnologia, também melhorou o deslocamento.

“Aprendi muitas coisas nesse tempo [enquanto estudava para colocar o app em funcionamento], era um pouco leiga quanto ao mundo da internet ou da criação de aplicativos e etc... e o desenvolvimento do Jungle Boat me ajudou muito quanto a isso. O app é essencial para mim, que trabalho e estudo em Belém”.

“E também para todos os outros ribeirinhos que fazem esse mesmo trajeto todos os dias. O Jungle Boat é de extrema importância para que a população tenha uma qualidade de vida melhor, para que ela possa usufruir do benefício de ir e vir quando quiser e a qualquer momento. E o Jungle Boat é voltado principalmente para isso”, conclui Luanny.

Contato

E-mail: contato@ocasong.com
Telefone: 98130-0276
Rede social: @ocas.ong no instagram

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