Tensão cresce entre Venezuela e Guiana; Brasil deve ajudar a mediar o conflito

Estados Unidos anunciarem que aviões militares sobrevoarão Essequibo e Conselho de Segurança da ONU se reúne nesta sexta-feira (8) para avaliar situação. 

Amanda Engelke / O Liberal
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A disputa territorial entre Venezuela e Guiana ganhou novos contornos nesta quinta-feira (7), após os Estados Unidos anunciarem que aviões militares sobrevoarão Essequibo, território em disputa pelos países sul-americanos, rico em petróleo e gás offshore. Em discurso na cúpula do Mercosul, no Rio de Janeiro, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que está “cada vez mais preocupado” com a crescente tensão entre os países e pediu que a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) faça a mediação.

A disputa por Essequibo ou ainda ou Guiana Essequiba é de longa data, mas a Venezuela voltou a reivindicar o território nos últimos anos após a descoberta de cerca de 11 bilhões de barris de petróleo e gás na costa da Guiana. O território é fronteiriço e possui cerca de 160 mil metros quadrados. Ele fazia parte da Venezuela, mas foi anexado pela Grã-Bretanha à então Guiana Holandesa em 1830. Ambos os países reivindicam a propriedade da área e as tratativas internacionais se arrastam por décadas.

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A tensão entre os países voltou à tona após o presidente venezuelano Nicolás Maduro realizar um referendo reivindicando a soberania sobre o território. Segundo a autoridade eleitoral venezuelana, 95% dos eleitores aprovaram a criação do Estado de Essequibo proposta pelo governo de Nicolás Maduro. Em uma postagem na rede social, Maduro disse que a consulta pública, que não teve valor vinculativo, ou seja, a Venezuela não estaria automaticamente autorizada a anexar a região, mas representaria os primeiros passos para isto.

Em contrapartida, a Guiana fez uma solicitação de intervenção das Nações Unidas. O pedido foi analisado pelo Equador, país que ocupa a presidência rotativa do conselho em dezembro. Desta forma, os países membros do Conselho de Segurança da ONU se reunirão nesta sexta-feira (8), de portas fechadas, para discutir a situação da região. Os representantes podem propor resoluções ou comunicados conjuntos que atuam como uma forma de pressão internacional sobre os líderes dos países.

Especialistas analisam conflito e acreditam em papel conciliador do Brasil

Professor da Universidade da Amazônia, o internacionalista Eduardo Oliveira afirma que o conflito é preocupante. “A América do Sul, o continente que não vê uma guerra desde a Guerra do Paraguai. Trazer uma pauta conflituosa, sobretudo uma pauta territorial para a América do Sul, é um perigo muito grande. O Brasil tem vários patronos da diplomacia brasileira que sempre pregaram a solução pacífica de conflito. Nosso país precisa fazer aquilo que ele é bom em fazer, sobretudo nesse governo, que é mediar conflitos e propor discussões acerca da paz”, afirma Eduardo.

Outro ponto destacado pelo professor é o conflito de narrativas. A disputa, para ele, vai além do território em si, é econômica e inflama um conflito entre Estados Unidos e Venezuela. “Caso o Maduro invada esse território, os Estados Unidos entraria militarmente, e isso é muito preocupante. A Venezuela tem uma reserva de petróleo muito maior, inclusive, do que a Arábia Saudita, só que não tem tecnologia para explorar. Como a Guiana está ligada aos Estados Unidos, existe possibilidade de uma exploração de petróleo nessa região por parte dos Estados Unidos, então é um jogo de interesses”, analisa.

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Lucas Mendes, fundador do portal Geopolítica Hoje, também acredita no potencial conciliador do Brasil. “O Brasil tem e terá um papel central nessa discussão, porque é o player mediador por natureza desse continente. Ao meu ver, dependendo da maneira que o Itamaraty, o governo Lula agir, essa crise pode ou não escalar. Se o Lula ficar falando ‘muito fino’ com o Maduro, ficar afagando o governo Maduro, é possível que isso fortaleça as convicções do Maduro de que uma invasão seja possível. Um posicionamento mais forte do governo brasileiro pode desencorajar o Maduro a realizar uma ofensiva militar contra a Guiana”, afirma.

Lucas acredita ainda que a ofensiva de Maduro é uma estratégia para ganhar destaque na mídia e junto a comunidade internacional já pensando nas eleições de 2024. “Se ele irá invadir mesmo não temos como prever, mas ele está inflamando uma pauta que não é nova, é centenária, puxando pelo viés nacionalista. Ele busca passar essa imagem de um governo pela pátria e é importante lembrarmos que essa é pauta que une o povo venezuelano de modo geral. Até a oposição lá é a favor da anexação de Essequibo. Isso tem uma razão: eleições”, afirma.

Na abertura da reunião do Mercosul, Lula fez questão de falar sobre o conflito. “Não queremos guerras nem conflitos, precisamos construir a paz, porque só com a paz podemos desenvolver nossos países”, disse. Além disso, o presidente brasileiro afirmou que o Mercosul “não pode ficar alheio a essa situação” e que apresentará uma resolução aos outros três membros do bloco – Argentina, Paraguai e Uruguai – para que seja votada e incluída na declaração final da cúpula. A Venezuela está suspensa como membro do Mercosul desde 2017, por “ruptura da ordem democrática”.

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