Moradores do Lago Grande, em Santarém, registram teia de aranha gigantesca

Fenômeno é estratégico para a sobrevivência dos aracnídeos e chama a atenção de observadores em vários locais do mundo

Eduardo Rocha
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Moradores da Vila Curuai, na região do Lago Grande, em Santarém, registraram um fato curioso no último final de semana: uma super teia construída por aranhas tomou conta de grande parte de uma área de vegetação à beira do rio, formando um enorme "manto branco". Imagens feitas por nativos circularam nas redes sociais e chamaram a atenção dos internautas.

A bióloga e professora da Universidade Federal Rural do Pará (UFRA), Andréa Bezerra, viu as imagens e explicou que esse tipo de formação não é tão incomum quanto se possa pensar. Segundo ela, as aranhas são animais que normalmente vivem solitárias e costumam construir teias para diferentes finalidades, seja para se proteger, para caçar ou para mimetizar o ambiente. "Então, as que constroem teias, normalmente elas são solitárias, mas existem espécies que caçam e vivem em grandes populações, todas juntas, por isso a construção da teia é tão grande. Provavelmente, elas devem ter se reproduzido, encontrado o recurso adequado para a alimentação, se juntaram e construíram essa grande teia", explica.

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"Essa teia é resultado dessa comunidade muito grande, de várias da mesma espécie. Isso não é incomum, há várias localidades em que isso acontece. Para construir essa grande teia provavelmente a população de aranhas nesse local deve ter aumentado, como consequência do aumento de recursos alimentares. Aranhas normalmente se alimentam de insetos, então, pode ter havido uma modificação no ambiente. O número de insetos aumentou e, como consequência, o de aranhas também", pontua a professora.

Entretanto, não foi possível ainda identificar que espécie de aranha é responsável pela super teia registrada na Vila Curuai, em Santarém. Para isso seria necessário ter uma imagem do aracnídeo, explica a bióloga.

A super teia facilita a caça, porque "o inseto facilmente cai naquele emaranhado e, como são muitas aranhas, elas rapidamente capturam a presa", como esclarece Andréa. A medida da teia vai depender do tamanho da população e ainda pode ficar maior porque, se existem muitas aranhas e também há alimentação abundante, elas vão se reproduzir mais e mais. Tudo está relacionado com a estabilidade do ambiente (alimentação para as aranhas). No período mais quente, a quantidade de insetos não é tão grande, ou seja, as aranhas buscam um período com maior fartura de alimentos. Quanto maior a população, maior é o tamanho da teia. 

A professora também pontua que esse tipo de teia de grandes dimensões é comum na Amazônia. "Já observei isso em diversos locais, mas ainda não tinha visto uma teia tão grande", revela. "Essa aranha é bem pequena, com cerca de um centímetro ou um centímetro e meio, e tem o veneno proporcional à presa que ela consome, os insetos. O que não significa que não vá causar algum incômodo se picar um ser humano. Em áreas de produção agrícola, elas podem trazer prejuízo, porque as teias deixam a vegetação onde elas se fixam clorótica, ou seja, impossibilitada de fazer a fotossíntese, porque a teia funciona como um sombrite para a vegetação. Isso acaba comprometendo a planta, pois, sabemos que ela planta precisa fazer fotossíntese para ter energia e gerar frutos, ou seja, o produto que o agricultor está esperando", diz a professora. Nesse caso, eventualmente, é preciso fazer a retirada da teia, usando, por exemplo, luva de couro e macacão.

Balonismo

Claudia Xavier e Fabián García, biólogos e estudantes de doutorado no Laboratório de Aracnologia do Museu Paraense Emílio Goeldi, também analisam o fenômeno verificado em Santarém. Segundo os dois pesquisadores, muitas espécies de aranhas usam um processo de dispersão chamado "balonismo" [balloning, em inglês]. Elas nascem todas juntas, permanecem um tempo com sua mãe e, posteriormente, precisam encontrar novos caminhos por diversos motivos (competição por alimentos, busca de parceiros/as sexuais diferentes do núcleo familiar). É, então, que ocorre a dispersão. O balonismo consiste em levantar o abdômen e soltar fios de seda ao ar, flutuando assim em busca de novas terras.

"Para compreender melhor o processo, podemos fazer uma analogia com uma pipa. Assim como uma pipa é sustentada no ar pela ação do vento nos fios que a seguram, as aranhas utilizam sua seda para criar uma espécie de "paraquedas", permitindo que sejam transportadas pelo vento (ou até mesmo pelo campo elétrico do planeta) para locais distantes. Ao se lançarem no ar e viajarem grandes distâncias, as aranhas têm a oportunidade de encontrar novos territórios com recursos abundantes e potenciais parceiros reprodutivos". Podem, então, fugir de uma área alagada, como as vistas nas imagens de Santarém. Ali parece uma região que está seca, mas provavelmente encherá de novo e alagará (podemos até ver um barco no vídeo). É uma estratégia de sobrevivência". 

De acordo com os pesquisadores, "essa ocorrência (a super teia) é comum em várias regiões do mundo, incluindo a Amazônia". "Muitas vezes, acontece muito rápido e não conseguimos perceber. No entanto, sua frequência pode variar dependendo das condições climáticas e ambientais. Geralmente, é associada a períodos de chuva, alagamentos ou à época de reprodução e dispersão das espécies. 

A super teia pode ser observada várias vezes ao longo do ano, às vezes de forma mais evidente e outras vezes de forma mais discreta. Regiões como a Austrália, Colômbia, Argentina e Uruguai também são conhecidas por apresentar esse fenômeno. Aqui, na Amazônia, podemos encontrar ainda aranhas do gênero Anelosimus que vivem em colônias e podem construir super teias, mas, não com o objetivo da dispersão, e, sim, de capturar suas presas. É possível encontrar essas aranhas aqui mesmo em Belém, em áreas como o Parque do Utinga, por exemplo". Claudia e Fabián destacam que os agricultores não precisam se preocupar com a super teia, e ressaltam que as aranhas são controladoras de populações de mosquito.

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