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O que é relação tóxica: veja como identificar e como sair desse relacionamento; veja o caso no BBB

Assunto foi abordado neste domingo (22), no BBB 23, após atitudes "grosseiras" de brother com sister; advogada, psicóloga e pesquisadoras dão dicas sobre como sair desse tipo de relação

Camila Guimarães

O alerta do apresentador Tadeu Schmidt aos participantes do "Big Brother Brasil 23", Gabriel Tavares e Bruna Griphao, acendeu o debate sobre relacionamento tóxico dentro e fora da TV. “Estou aqui para fazer um alerta antes que seja tarde", disse o apresentador no programa exibido no domingo (22). O relacionamento dos dois já vinha chamando atenção por alguns comportamentos com características abusivas, por parte do brother Gabriel.

Para a advogada Paloma Sá Souza Simões, professora universitária e pesquisadora mestre em Direitos Humanos, as práticas de Gabriel configuram um tipo de violência psicológica que tinha como efeito diminuir as capacidades de Bruna e fazer parecer que ela era culpada pelos transtornos causados pelo próprio agressor.

Assista ao recado do apresentador:

“Inclusive, após o pronunciamento de Tadeu Schmidt sobre a abusividade do relacionamento, o abusador rapidamente tentou colocar sob a responsabilidade da vítima o papel de esclarecer o ‘mal entendido’. Neste caso, o que se viu foi a prática de gaslighting, uma forma de violência psicológica que causa enorme instabilidade emocional na vítima e que manipula as situações para tentar fazer com que a vítima seja taxada de louca, descontrolada, exagerada”, analisa Paloma.

image Relacionamento do casal chamou atenção pelo comportamento abusivo do brother Gabriel. (Reprodução)

A análise da advogada vai ao encontro do que a psicóloga e facilitadora de círculos restaurativos em violência doméstica, Bárbara Sordi, descreve como sendo um relacionamento tóxico:

“Relacionamentos desqualificam e interferem na relação dessa pessoa consigo mesma ou com o seu entorno. Afetam o modo como a pessoa se enxerga, o que ela pode ou não pode fazer, com quem pode ou não andar etc. Envolve tanto a autoimagem como a vida profissional, pessoal, relação com com amigos e familiares”, detalha a psicóloga Bárbara Sordi.

A psicóloga explica que vergonha, distorção de autoimagem, sentimento de incapacidade e psicopatologias como depressão, dependência de álcool ou medicamentos, prática de dietas descabidas ou isolamento social são sequelas comuns em pessoas que convivem com um parceiro ou parceira abusivo, isto porque, em geral, a vítima não enxerga a violência sofrida, inicialmente, e tende a acreditar que ela mesma é o problema.

“É muito comum que essa auto depreciação seja fruto de frases incapacitantes, como ‘você é feia’, ‘ninguém mais te quer’ ou ‘ninguém mais vai te querer’, ‘você não vai conseguir’, ‘não tem nada melhor para você’ entre outras, que acabam minando a autoestima da pessoa”, explica Bárbara.

Cultura machista e racista reforçam o problema

Bárbara Sordi salienta que fundamentos machistas na cultura colaboram não só para que relacionamentos tóxicos sejam comuns, como para que eles demorem a ser percebidos como tal. Ela destaca, entre esses traços, a romantização do ciúme e da abnegação em nome do amor:

“Há muito a romantização do casal ‘ser um’ - só poder fazer as coisas juntos -, com isso, a pessoa vai perdendo a própria identidade, a noção do que ela gostaria de fazer, quais suas metas etc. O que é mais grave na nossa cultura que normaliza que mulheres larguem tudo pelo relacionamento. Por outro lado, o ciúme, principalmente o masculino, é naturalizado. No princípio, pode parecer uma prova de amor, mas se tornar uma forma de controle, objetificação, domínio sobre com quem o outro anda, como se veste, onde trabalha. E tudo isso travestido de zelo, cuidado, mas tolhendo a potência do outro”.

Características do agressor

O primeiro engenheiro emocional do Brasil, Lennon Santos, foi categórico ao apontar características do agressor. "Quando falamos de relacionamento tóxico, uma das grandes características é a falta de cumplicidade e a existência de um mecanismo de controle instalado devido ao alto nível de ciúme, que é originado por um sentimento de posse", pontuou e completou: "A falta de respeito, ciúmes, críticas e reclamações são as bases para destruição de um relacionamento saudável, que pode gerar agressões verbais e também físicas."

image Lennon Santos é o primeiro engenheiro emocional do Brasil (Divulgação)

Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública apontam que 699 mulheres foram vítimas de feminicídio no primeiro semestre de 2022, o que representa uma média de quatro casos por dia e um crescimento de 3,2% em relação ao total registrado no primeiro semestre de 2021, quando 677 mulheres foram mortas.

Violência física

Foi o que ocorreu com a cantora Rihanna e com a empresária e modelo Luiza Brunet. Ambas foram agredidas pelos seus parceiros. No caso de Rihanna, o então namorado era o cantor Chris Brown, que foi condenado em 2009 e cumpriu a pena de cinco anos em liberdade prestando serviço comunitário. Para Brunet, o sofrimento foi retratado em uma frase: "É doloroso aos 54 anos ter que me expor dessa maneira. Mas eu criei coragem, perdi o medo e a vergonha por causa da situação que nós, mulheres, vivemos no Brasil. É um desrespeito em relação a gente".

Naturalmente, os primeiros sintomas são os desentendimentos e as brigas intensas, que refletem também no relacionamento com as demais pessoas e até em outras atividades de cada indivíduo. "Existe uma luta insana de querer mudar o outro, e isso leva às brigas e reclamações constantes. Tudo isso gera estresse emocional, desgastando o relacionamento, fazendo com que se torne um peso para ambos, roubando sua energia, motivação e satisfação de viver, que podem comprometer outras áreas de sua vida."

Realidade da mulher negra é mais difícil

A pesquisadora Lívia Oliveira, que desenvolve estudos sobre feminismo e democracia na Universidade Federal do Pará (UFPA), destaca a interferência do racismo como mais um agravante do problema:

“A violência velada aparentemente não traz dano físico ou material à vítima, porém, é extremamente perversa contra a mulher, em especial contra a mulher negra, haja vista que, o racismo é uma construção ideológica, e suas práticas se concretizam nos diferentes processos de discriminação racial, inclusive dentro dos relacionamentos”, afirma.

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Caminhos se livrar de uma relação tóxica

Conhecimento e informação são a base necessária para que uma pessoa identifique e consiga sair de um relacionamento doentio, na análise da psicóloga Bárbara Sordi. Ela explica que, especialmente para as mulheres, dar esse passo é mais difícil, uma vez que elas correspondem à maior parte das vítimas de relações abusivas.

“Não que apenas mulheres sejam vítimas de relacionamentos abusivos, porque eles podem ser praticados também contra homens, em relações homoafetivas e em outras relações além das amorosas. Mas o importante, de modo geral, é que a pessoa busque uma rede de apoio para que não se sinta sozinha e entenda que há outras pessoas que a amam. Que busque informação: ler sobre o tema, participar de grupos de conversa, ler as autoras feministas que falam bastante desses assuntos, fazer terapia para desnaturalizar isso da cultura… Tudo isso é fundamental”.

A professora e feminista militante Adriana Simões, destaca a importância do diálogo com grupos feministas, sejam acadêmicos ou políticos, para combater de modo mais amplo os problemas envolvidos na prática de relacionamentos tóxicos, não só em âmbito indivual, mas também coletivo:

“Minha atuação no movimento feminista começou na militância partidária e se extendeu para a universidade por meio dos grupos de pesquisa que faço parte e posso afirmar que estar em diálogo com esses grupos fortalece e amplifica o debate acerca do problema. Esses grupos atuam de forma sistemática no debate contra o machismo, o racismo e todas as formas de discriminação presentes na sociedade, por isso, são extremamente importantes e necessários para o avanço de uma sociedade plural e democrática”, afirma.

Relacionamento tóxico pode ser denunciado

A advogada Paloma Simões ressalta, neste ponto, que o relacionamento abusivo pode ser enquadrado como um dos tipos de violência previstos na Lei Maria da Penha, portanto, está passível de ser denunciado:

“A Lei Maria da Penha, em seu artigo 7°, prevê violência física, psicológica, sexual, patrimonial e moral. O que vimos, no caso do BBB, foi a prática de violência psicológica contra a vítima, que, reforço, é tão grave quanto qualquer outro tipo. A atitude do apresentador comunica à sociedade uma mensagem muito importante, de que denunciar casos de violência contra a mulher é uma responsabilidade da sociedade como um todo, não apenas da vítima".

"É preciso que haja um pacto social e institucional de enfrentamento dessas violências para que a vida das mulheres seja integralmente resguardadas”, afirma a advogada Paloma Simões.

Saiba como denunciar

As denúncias podem ser feitas diretamente na delegacia, de modo presencial, ou por meio do Disque Denúncia, no número 181. Em caso de emergência, é possível acionar diretamente o Centro Integrado de Operações (Ciop), no número 190. Também é possível denunciar por meio do formulário e chatbot presentes no site segup.pa.gov.br.

Em Belém, a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) fica na travessa Mauriti, nº 2.393, entre as avenidas Duque de Caxias e Rômulo Maiorana, no bairro do Marco.

Em Ananindeua, a Deam está na travessa WE 31, nº 1.112, no bairro do Coqueiro.

Outras informações podem ser obtidas pelos telefones: (91) 3246 6803 e (91) 98435 2596 (Deam Belém);  (91) 98435 2596 (Deam Ananindeua).

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