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Gilmar Pereira: desenvolvimento sustentável deve envolver conhecimento acadêmico e saberes regionais

Em entrevista exclusiva, o reitor eleito na Consulta Prévia da UFPA, prestes a se tornar o primeiro reitor da Universidade, defende um orçamento perene para as universidades e diz que investirá na excelência acadêmica, inclusão social e autonomia da instituição

Eduardo Rocha

Não é possível se ter desenvolvimento da Amazônia, a partir da sustentabilidade necessária para esse processo, sem que as comunidades de indivíduos na região sejam ouvidas, em sintonia com o conhecimento acadêmico, como o produzido nos 12 campi da Universidade Federal do Pará (UFPA),  ainda que pese a necessidade de um orçamento perene que evite sobressaltos na gestão dessa e de outras instituições de ensino, pesquisa e extensão no país. Essa é a visão do pedagogo Gilmar Pereira da Silva, atual vice-reitor da Universidade e que, desde a última quarta-feira (17), após a Consulta Prévia à comunidade universitária, é reitor eleito para o quadriênio 2024-2028. Caso a votação seja referendada pela Presidência da República, Gilmar Pereira será o primeiro negro a se tornar reitor da UFPA. “Ninguém vai conseguir defender a Amazônia sem nos ouvir, sem ouvir as nossas comunidades”, enfatiza.

Gilmar Pereira da Silva tem 62 anos e nasceu em Governador Archer (MA). Esse pedagogo pela UFPA é doutor em Educação, com mestrado e doutorado no Rio Grande do Norte. Está na UFPA como aluno e professor há 37 anos. Tornou-se reitor eleito pela chapa “+UFPA: Autonomia, Excelência e Inclusão”. Essa chapa, com Gilmar Pereira da Silva (candidato a reitor) e Loiane Prado Verbicaro (candidata a vice-reitora), obteve 62,6% dos votos válidos (9.340 ao todo). Gilmar Pereira deverá assumir como novo reitor da UFPA em 13 de outubro. Confira a seguir a entrevista concedida pelo professor Gilmar Pereira à Reportagem Integrada do Grupo Liberal.

image Gilmar Pereira: UFPA deve manter contribuição ao desenvolvimento da Amazônia e do Brasil como um todo (Foto: Wagner Santana / O Liberal)

- Professor Gilmar, como você entende o resultado da Consulta Prévia na UFPA?
R - Primeiro, eu agradeço aos eleitores da Universidade. Como parte de um conjunto de fatores nessa avaliação, considero que eu sou o vice-reitor da Universidade e divido com o professor Emmanuel Tourinho a gestão da UFPA há 7 anos e entendo que a gente atuou para incluir jovens, sobretudo, os mais pobres, na instituição, o que fortalece a UFPA como a mais importante da Amazônia e uma das mais importantes do Brasil.

- Como entende o fato de poder se tornar o primeiro reitor negro da UFPA?
R - Isso é algo importante. Eu sempre digo às pessoas: é importante ser negro, mas é importante ser cientista, ser pesquisador, orientar teses, dissertação, e ter um trabalho forte na gestão. Porém, é  muito importante ter um negro para que a nossa comunidade (da UFPA) que hoje tem quase 80% de pretos e pardos, indígenas e quilombolas, se veja no seu representante máximo e possa dizer um dia que “eu também posso ser reitor”.

- Quais são as metas, propostas, o que as pessoas podem esperar do do reitor pedagogo Gilmar Pereira para a UFPA?
R- Nunca houve um reitor pedagogo, esse é o primeiro, e que devia haver, porque os pedagogos estudam administração escolar, então, têm um papel importante nisso. A comunidade pode esperar de mim um esforço muito grande com relação à excelência acadêmica, à inclusão social e à autonomia universitária. Esses três aspectos são centrais.
Sobre autonomia, vocês sabem o quanto é caro para nós a Universidade ser autônoma em relação a partido político, a governo, ela tem que ser uma Universidade que esteja a serviço da comunidade. Sobre excelência acadêmica, a Universidade precisa ter capacidade de ensinar, de fazer pesquisas e de comunicar essas pesquisas, que é a extensão, no diálogo e na ação com a comunidade, e fazer isso da melhor forma possível.  A Universidade tem que ser um instrumento de excelência para o desenvolvimento do Estado do Pará e do Brasil.
E, por fim, a inclusão. Há 20 anos, grande parte da população de estudantes da UFPA era classe média. Hoje, você tem grande parte do nossos alunos são filhos de trabalhadores. Nós, na UFPA, ofertamos diariamente em média 6 mil refeições a R$ 1,00, e tem 1.500 alunos que comem de graça no RU (Restaurante Universitário), porque R$ 1,00 é muito para eles que não têm nada. Além de pobres, tem negros, indígenas, quilombolas, pessoas que ficaram à margem desse direito há muito tempo e que estão tendo esse direito agora. 

Agora, a nossa grande tarefa é fazer com que eles se mantenham aqui, com condições de fazer o curso, e para isso a gente precisa de recursos. O maior recurso da UFPA vai para a assistência estudantil, cerca de R$ 30 milhões.

- Quais os desafios da UFPA nos próximos anos, para continuar sendo um instrumento do desenvolvimento da Amazônia?
-R - Olha,  a questão orçamentária é fundamental. Os governos todos têm que levar em conta que não se tem gastos em uma Universidade, mas, sim, investimento. E os reitores precisam gastar energia discutindo a questão acadêmica, pesquisa, extensão, e não com o pires na mão a cada final de ano, atrás de recursos para pagar a segurança, a limpeza. Então, um dos desafios grandes é a gente ter um orçamento decente, permanente, perene, sustentável. Nada contra ter o apoio de empresas, mas o orçamento público tem que ser suficiente para que a Universidade faça a sua gestão. Entretanto, a UFPA tem contribuído muito com a Amazônia, temos 12 campi mas com atividades em 80 municípios do Pará. A UFPA tem uma imersão extraordinária na sociedade. Precisamos manter o que está bom e avançar. 

-Belém vai receber este ano a Reunião da SBPC e, em 2025, a COP30. Como a UFPA participa desse debate ambiental e econômico sobre a Amazônia?
R - A UFPA congrega um número significativo de cientistas da Amazônia. Estamos organizando a SBPC. Tem a COP no ano que vem, e nós queremos participar e vamos participar, dialogando com a estrutura governamental e com os cientistas e pensadores sobre o que representa a Amazônia. Nós precisamos convencer o povo brasileiro que a Amazônia é muito importante para um conjunto de coisas. Ela tem muita água, muito peixe, muitos animais, ela tem uma floresta exuberante, mas para além disso ela tem homens e mulheres extraordinários. Tem cientistas, extrativistas,  produtores rurais, pequenos agricultores, pescadores, indígenas, quilombolas, ribeirinhos. 

Então, nós precisamos dizer ao mundo que nós queremos ser lembrados também como produtores de conhecimento, de alimento, de pensamento. Ninguém vai conseguir defender a Amazônia sem nos ouvir, sem ouvir as nossas comunidades, porque são elas que sabem a realidade da região, que sofrem quando seca o rio, porque nós vivemos da água. A Amazônia tem um custo. Os governos do Brasil e de outros países têm que garantir condições e recursos para que os amazônidas vivam e preservem a região, fora as ações de combate ao desmatamento e outras situações. 

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