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No aniversário da ‘flechada’, ídolo do Paysandu quer distância de Antônio Carlos Zago: ‘foi infeliz’

Há 18 anos, ex-jogador foi vítima de xenefobia em jogo no Rio Grande do Sul e ‘retribuiu’ ofensa com comemoração icônica no Mangueirão.

Caio Maia
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Há 18 anos o estádio Mangueirão era palco de uma das comemorações de gol mais icônicas do futebol brasileiro. Em 2005, o Colosso do Benguí recebeu a partida entre Paysandu e Juventude, válida pela Série A do Brasileirão. O artilheiro bicolor Robgol abriu o marcador e, após o tento, se dirigiu à torcida alviceleste, mandando "flechadas" para as arquibancadas. A comemoração, apenas criativa em uma primeira análise, possuía uma conotação política e de resistência. As "flechas" eram uma resposta à xenofobia sofrida pelo atacante do Papão.

Em conversa com o Núcleo de Esportes de O Liberal, Robgol contou a origem da comemoração. Segundo ele, no jogo entre Paysandu e Juventude disputado no Rio Grande do Sul, casa do adversário, o zagueiro Antônio Carlos Zago - hoje treinador - proferiu ofensas xenófobas. Robgol disse que o atleta gaúcho chamou a Amazônia de "terra de índio".

"Numa jogada durante a partida, o Zago quis me ofender, não só a mim como toda a região Norte. Ele deu uma entrada forte em mim e eu pedi calma. Em seguida ele chegou no meu ouvido e disse que pra eu ganhar o dinheiro que ele ganhou na bola, teria que jogar 70 anos numa terra de índio. Aquilo me ofendeu e acredito que toda a região.

Enquanto Zago tentou usar as palavras para "diminuir" o atacante bicolor, Robgol usou o futebol para mostrar a força amazônica. Em Belém, o artilheiro do Papão marcou dois na vitória alviceleste por 3 a 0 sobre os gaúchos. Apesar disso, o ex-jogador contou que foi "caçado" dentro de campo.

"Em Belém nós jogamos bem, mas eu apanhei o jogo todo e até levei uma cotovelada na costela, que quase me tirou da partida. Ele (Zago) também me acertou uma cotovelada no meio do segundo tempo e precisei levar cinco pontos na testa", disse Robgol.

Tiro pela culatra?

image Legenda (Renato Chalu / Arquivo OLiberal)

Paraibano de nascença, mas paraense de coração, Robgol vive na capital do Pará há pelo menos 15 anos. Aqui criou laços, amigos, família e se considera um autêntico cidadão de Belém.

Devido a vivência com o povo e os costumes da Amazônia, Robgol avalia que o termo "terra de índio", usado por Zago para menosprezar a região, perde força se for analisado o contexto étinico da região. Segundo o ex-jogador, os povos originários são motivo de orgulho para o estado e todo o Norte do Brasil.

"Todo o Brasil é uma terra indígena e somos descendentes dos povos originários. Vejo em mim traços dos povos indígenas porque sou brasileiro e vivemos em uma terra que sempre foi deles. Entender a importância dos povos originários e da Amazônia é a nossa principal função enquanto habitante do Brasil. O meu gesto foi importante nessa luta contra o preconceito no futebol, mas como vivíamos num mundo antes das redes a repercussão não foi tão grande nacionalmente. Acredito que hoje tudo seria diferente", avaliou.

Reencontro indesejado

image Antônio Carlos Zago virou técnico quando se aposentou (Divulgação / Internacional)

Os anos se passaram, mas as agressões de Zago - tanto físicas quanto morais - ainda são sentidas por Robgol. Questionado se gostaria de rever o ex-zagueiro do Juventude, o ídolo do Paysandu disse que não queria ter essa "infelicidade". Segundo ele, a melhor resposta possível já foi dada dentro de campo em 2005.

"Eu acho que não falaria com ele (Zago) se encontrasse hoje. Ainda bem que não tive essa infelicidade. Alguns amigos meus já falaram com ele, citaram o caso, mas ele desconversou, disse que eram coisas do futebol. Mas as coisas do futebol não tentam humilhar uma pessoa ou um povo. Ele quis se achar melhor que todos nós da Amazônia. Belém é o portal da Amazônia, as pessoas acham que por aqui andam bichos pela rua, mas nós somos uma metrópole, que foi mostrada pra todo o país agora com a vinda da Seleção. Acho que se um dia eu encontrar vou dizer que ele agiu super mal, foi infeliz. A paz deve reinar sempre e não sou um cara de agressão. Acho que dei a melhor resposta possível, com a vitória dentro de campo", contou.

A história se repete

image Nicolas refez o gesto de Robgol anos depois (Cristino Martins)

Em 2019 outro caso de xenofobia marcou a história do futebol paraense. Torcedores do Remo foram verbalmente agredidos por torcedores do Juventude - a mesma equipe que esteve envolvida no caso de 2005 - durante o jogo da Série C do Brasileirão.

A agressão, inclusive, repercutiu no maior rival azulino, o Paysandu, que se solidarizou com o caso e rendeu uma homenagem ao povo paraense. Na partida do Papão pela rodada seguinte, contra a Tombense, Nicolas, o artilheiro bicolor daquela temporada, repetiu o gesto de Robgol e mandou "flechadas" para as arquibancadas.

Segundo Robgol, a comemoração de Nicolas foi ainda mais "nobre" do que a realizada por ele em 2005. De acordo com o ídolo bicolor, a homenagem revela a união do povo da Amazônia contra a xenofobia, o racismo e outras formas de preconceito.

"A atitude do Nicolas foi perfeita, até porque se refere a um jogo do Remo. Ele, assim como eu, comemorou com o gesto da flechada. Foi uma forma de homenagear o povo paraense, mesmo quando o agredido foi o nosso principal rival. Depois daquilo, falei com ele e mostrei as necessidades de levantar as bandeiras da região", finalizou.

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