Equipe de reportagem do Grupo Liberal é barrada na Curuzu por cor do uniforme
Jornalistas utilizavam camisa padronizada com a marca da empresa, na cor azul-marinho.
Uma equipe do Núcleo de Esportes do Grupo Liberal foi impedida de entrar no estádio da Curuzu, do Paysandu, na última semana. O motivo: um dos repórteres estava vestindo uma camisa de imprensa do Grupo Liberal na cor azul-marinho. O tom se assemelha ao usado nos uniformes do Remo, maior rival do clube bicolor.
O incidente ocorreu no dia 24 de outubro, uma terça-feira, quando o Paysandu realizou uma entrevista coletiva com o executivo de futebol Ari Barros, que havia renovado o contrato com o Papão na véspera. No entanto, a equipe foi impedida de entrar no estádio da Curuzu, local da entrevista.
Ao chegar na portaria do estádio, um funcionário do clube disse que o repórter não poderia entrar, pois vestia uma camisa de cor azul-marinho. O profissional explicou que usava o uniforme de trabalho do Grupo Liberal, mas mesmo assim a decisão foi mantida.
Vale destacar que o uniforme em questão é padronizado em todos os núcleos de conteúdo da empresa. Consiste em uma camisa na cor azul-escuro, com a marca do Grupo Liberal no peito, ao lado esquerdo. Na parte de trás do uniforme há o nome "imprensa", escrito de branco, em fonte grande.
As camisas, inclusive, são tradicionais na cobertura do Grupo Liberal. Repórteres que realizam atividades externas utilizam diariamente o uniforme, que também é usado por todos os colaboradores em coberturas como o Círio de Nazaré e jogos de futebol de times paraenses.
A reportagem tentou contato com funcionários do clube, mas sem sucesso, e o repórter precisou retornar à redação sem a pauta realizada no local. Isso prejudicou o andamento da cobertura da renovação de contrato com o dirigente bicolor, já que perguntas exclusivas que haviam sido planejadas para Ari Barros não puderam ser feitas na coletiva.
O Grupo Liberal até publicou o conteúdo da coletiva, mas a redação precisou aguardar um áudio enviado pelo Paysandu para poder começar a produzir a matéria.
Atitude inconstitucional
Conforme o advogado Clóvis Malcher Filho, a ação do funcionário da portaria do Paysandu configura um desrespeito à Constituição. Segundo ele, a liberdade de imprensa é prevista por lei e não pode ser negligenciada, sobretudo pela cor de um uniforme de trabalho.
"Acredito que essa atitude é uma violência não só ao profissional, mas sim a todos os cidadãos brasileiros. A liberdade de imprensa é assegurada pelo artigo 5º, inciso IX, da Constituição Federal. Sua garantia decorre do direito à informação, que consiste na possibilidade de o cidadão criar ou ter acesso a diversas fontes de dados, sem interferência do Estado", explicou.
Para o advogado, caso o repórter ou a empresa se sintam lesados pela ação do clube, o correto seria a realização de um boletim de ocorrência na Polícia Civil. Segundo Malcher Filho, a partir desse ato, os envolvidos no caso serão chamados para depor, o que ajudaria na elucidação dos fatos.
"Legalmente falando, o que deve ser feito é um boletim de ocorrência para averiguar o caso. A partir disso, o segurança em questão deve ser chamado para depor. A atitude do profissional pode ser entendida como uma violência moral, que é crime. O Liberal tem a sua marca e sua cor e pode usar elas quando quiser", finalizou.
O outro lado
Procurado pela reportagem, o Paysandu Sport Club esclarece que não há nenhuma restrição a qualquer tipo de cor de roupas, exceto as previstas em estatuto, para ter acesso às dependências do Estádio Banpará Curuzu, Sede Social e demais patrimônios do clube.
O Paysandu também esclarece que a assessoria de imprensa bicolor não foi procurada pela reportagem de O Liberal no momento do ocorrido, o que impossibilitou a liberação imediata da entrada da equipe, e lamenta o desencontro de informações.
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