VÍDEO: Jovem da Vila da Barca é uma das promessas do Pará na ginástica

Incentivados pelas mães, os jovens estão prestes a participar pela primeira vez de um campeonato nacional da modalidade

Aila Beatriz Inete

Saltos firmes, altos e bonitos. Aterrissagens cravadas e expressões sempre muito alegres. Ritmo, brilho e técnica de gente grande. Nem parece que são crianças, que com piruetas e performances se divertem e buscam alcançar voos maiores. Essa é uma equipe infantil de ginástica do Pará, três crianças que, mesmo tão novinhas, resistem às suas realidades sociais e empenham-se para um futuro melhor.  

Jhonatha Silva, Michel Filho e Ana Nunes vão para o Campeonato de Ginástica Aeróbica, em setembro, em Aracaju (SE). Com o suporte das mães, eles se reúnem para realizarem o sonho de praticar o esporte.

image Ane Nunes, Michel Filho e Jhonatha Silva são promessas da ginástica paraense e vão disputar o Brasileiro este mês, em Aracajú (SE) (Igor Mota/O Liberal)

Da Vila da Barca, uma comunidade sobre palafitas, localizada em Belém, historicamente à margem da sociedade, que até hoje lida com os problemas sociais que o tempo não consegue levar, saiu Jhonatha Silva, 10 anos, sorridente e muito talentoso. Inspirado em um dos maiores ginastas do Brasil, Arthur Zanetti, começou dando saltos na cama e no rio que tem em frente de casa. Nessa brincadeira, o menino se apaixonou pela ginástica e quando passou em frente ao Centro Norte de Ginástica do Pará e viu a movimentação, quis entrar para conhecer e, depois da aula experimental, não saiu mais. 

“É uma emoção que a gente não consegue nem expressar, porque não tem palavras. Nós nunca imaginamos que eles iriam regressar assim, para tão longe”, disse Tatiane Beltrão, mãe de Jhonatha Silva. 

Ver o filho se esforçando e trilhando um caminho para o sucesso no esporte é uma realização. Tatiane também leva os outros dois filhos para o Centro Norte. Segundo ela, é difícil manter as crianças nos treinos, por questões financeiras. Assim, ela começou a vender pastéis com um capital de R$20,00. No final do dia, consegue um lucro de R$30,00, o que permite levar as crianças para treinar e comprar os lanches. 

Mesmo com todas as dificuldades, ela vê no esporte um meio de transformação para a vida de Jhonatha Silva e dos irmãos. “É isso que eu quero proporcionar para eles. Eu faço esse esforço de levar e esperar para que eles possam ter uma vida melhor e não estar no meio desse ciclo que a comunidade vive (de drogas)”, relatou Tatiane. 

image Jhonatha Silva 'deu os primeiros passos' na ginástica no colchão de casa (Igor Mota/O Liberal)

Assim como Jhonatha, Michel Filho vai para o primeiro nacional. O jovem atleta tem 11 anos e é o mais experiente do trio. Mora no conjunto habitacional Júlia Seffer, em Ananindeua. A paixão pelo esporte começou vendo vídeos da modalidade no celular, até começar a treinar em um projeto na creche, quando tinha cerca de cinco anos. Depois disso, com muita insistência do pequeno, a mãe procurou outros locais para ele treinar até chegar ao Centro e despontar. 

Já Ana Nunes, tem 9 anos e é a mais nova do grupo. Começou a treinar há cerca de três meses. Diferentemente dos outros, ela tem sua principal referência dentro de casa: o tio, mas que para ela é um pai. Mário Nunes é um dos principais nomes da ginástica aeróbica do Pará. Assim, vendo-o treinar, a pequena se apaixonou pelo esporte. 

“Sempre tento conter a emoção quando ela aprende alguma coisa. Porque passa um filme na nossa cabeça do que a gente passou e, ao mesmo tempo, sabemos o que fazer para ela entrar em uma seleção. No início é uma diversão, ela vai ver se gosta da modalidade e, se ela se identificar, a gente pode pensar em investir. Mas a emoção é incrível, é como se ela fosse a minha filha”, declarou Mário Junior.

Especial Ginástica ginasta Jhonatha Silva e Michel Filho, Anna Nunes e Mário Nunes

Sem suporte, é difícil mantê-los nos treinos. São ao menos três vezes na semana que mães e filhos saem de casa e pegam até quatro ônibus. Além disso, é preciso ir em busca de alimentação e bem-estar das crianças. “Têm dias que não dá pra ir treinar. Eu moro em Ananindeua, tem que pegar condução para vir. Mas como é o sonho deles, a gente faz o melhor para conseguirmos”, relatou Ellen Santos, mãe de Michel.

Para as mães, ver os filhos despontando não tem preço, ainda mais por todas as dificuldades que eles enfrentam. De acordo com Manuela Nunes, mãe de Ana, é uma alegria grande ver os filhos fazendo o que amam.  

“Quando nós estamos aqui, presenciando os nossos filhos treinando, é uma satisfação, porque é uma luta muito grande para eles estarem aqui (...). Você quer trazer seus filhos para eles terem um futuro diferente, mas não tem ajuda, não tem apoio. Então, eu acho que essas crianças devem ser olhadas com outros olhos, porque elas são o futuro”, concluiu Manuela Nunes. 

Como disse o poeta Bráulio Bessa: “sonhar é verbo: é seguir, é pensar, inspirar e fazer força, insistir, é lutar, transpirar". E as mães dos jovens atletas são como facilitadoras dos sonhos e permitem que as crianças continuem aspirando um futuro melhor. Assim, é preciso que se esteja atento aos talentos e futuros campeões que virão. É só olhar mais de perto, que eles se revelarão. 

 

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