Tuna Luso chega aos 121 anos com meta de retomar trajetória de formação de jogadores
Clube cruzmaltino, tradicionalmente conhecido por ser a principal categoria de base do Pará nos anos 80 e 90, passou a ser o ‘lar’ de medalhões e atletas em fase final de carreira
A Tuna Luso completa 121 anos neste dia 1º de janeiro. O clube, principalmente nas décadas de 1980 e 1990, ficou conhecido por ser a principal categoria de base de jogadores do Pará, além de formar atletas que abasteciam Remo e Paysandu. Os exemplos são muitos. Dos mais recentes, pode-se citar Paulo Henrique Ganso, Yago Pikachu, Giovanni Oliveira, Dema, Jobson, Velber e Flamel. Além de formar, a Águia Guerreira também garimpava e revelou atletas jovens de fora do estado, como Samuel Cândido e Sandro Goiano, entre outros.
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Mas, nas últimas duas décadas, esse papel se inverteu. De um “ninho” de craques, o Francisco Vasques passou a ser o lar para veteranos e jogadores em final de carreira. “O cenário da Tuna e do futebol paraense passou a ser outro, baixos investimentos financeiros e falta de competição, entre vindas e idas na segunda divisão, levaram o clube a esse cenário negativo e falta de planejamento das diretorias anteriores, devido à falta de calendário”, declarou o atual diretor de futebol da Tuna, Vinícius Pacheco, 32 anos.
Já no ponto de vista do jornalista Pio Netto, desde as décadas de 80 e 90 a política de formação de jogadores mudou e, infelizmente, a Tuna deixou de montar equipes competitivas, ficando abaixo Remo e Paysandu, assim como também pelo baixo orçamento e reduzido investimento no futebol.
“A Tuna Passou a formar ‘times de aluguel’, a exemplo dos chamados emergentes do futebol paraense. O segredo luso sempre foi uma base forte, chamada de principal ‘almoxarifado’ do nosso estado. Quando isso parou de existir, a queda ocorreu e até hoje não acompanhamos nada de consistente capaz de mudar esse cenário. Tomara que a diretoria que assumiu, ainda que provisória, consiga enxergar o futebol tunante sob esse prisma”, avaliou o comentarista.
Do sentimento de carinho e gratidão ao de tristeza, Flamel, que foi base da Tuna em 2001, conta que, apesar do atual momento, sente-se privilegiado por ter feito parte dos longos anos de glória do clube. “Tenho muito orgulho de falar que sou base da Tuna, sempre que dou entrevista falam sobre essa baixa e ouço comentários de que o clube não serve mais de base”, revelou.
O ex-meia, que pendurou as chuteiras em 2023, acredita que, por falta de investimento nas categorias de base, pais de jovens garotos e garotas passaram a procurar outros clubes para formar seus pupilos. “Fora Remo e Paysandu, ao longo do tempo surgiram várias outras equipes de base que dão um suporte bem mais confortável e rentável”, apontou Flamel, que prosseguiu.
"Tenho uns amigos que hoje fazem parte do quadro de profissionais da base e que tentam reerguer essa história da gloriosa. Estou aqui, de coração, torcemos para que a nossa gloriosa volte a ser protagonista não só em revelar jogadores, mas como também ganhar títulos e figurar no senário brasileiro como já foi nos anos 80 e 90”, enfatizou o ex-jogador, que também tem passagens por Águia, Remo e Flamengo.
Apesar de tudo, a Tuna tenta renascer em um momento difícil. Com erros e acertos, fora das quatro linhas, Vinícius Pacheco, que é empresário e “louco” pela Tuna, largou trabalho em Portugal após receber o convite para reassumir um cargo na Tuna.
“É uma satisfação enorme ajudar o clube que eu fui criado, vivi minha infância, passei minha adolescência e hoje poder chegar às glórias. Trabalhar com amor é a palavra-chave do nosso trabalho na Tuna. O Eder Pisco é também de uma importância crucial. Nada existiria sem ele, hoje somos uma dupla, onde não existe Vinícius sem Eder e Eder sem Vinícius. Nossa identidade, amor pelo clube, confiança e parceria, tem sido fundamental para a reconstrução da base”, falou, citando o amigo e também dirigente cruzmaltino.
Passado de glórias
O primeiro dia do ano, também é dia da Tuna. Fundada em 1 de janeiro de 1903 por 21 jovens portugueses, que tinha à frente Manoel Nunes da Silva, um “caixeiros” que trabalhava no comércio de Belém. Ele comandava uma orquestra que entoavam canções portuguesas tentando amenizar a saudade da “Terrinha”. A palavra Tuna, em Portugal, remete a um grupo musical de jovens, porém a Lusa teve outros nomes até chegar em Tuna Luso Brasileira. Antes a Águia do Souza recebeu o nome de Tuna Luso Caixeiral, com referência aos fundadores, além de Tuna Luso Comercial.
O esporte só chegou à agremiação três anos após a fundação. Em 1906 foi criado um departamento de esportes náuticos, após a extinção do Yole Clube e do Syrio. Alguns rapazes decidiram alugar a sede do Syrio, que fica na tradicional travessa Siqueira Mendes, no bairro da Cidade Velha, em Belém. Lá a Lusa deu início à sua trajetória no esporte e ali passou a funcionar a garagem náutica. O primeiro título paraense da Tuna na história só veio em 1920, ganhando a alcunha de “Rainha do Mar” ao conquistar um deca-campeonato de 1948 a 1957.
O futebol foi introduzido no clube em 1915, mas apenas na década de 1930 que o clube passou a jogar competições oficiais. Em sua história, a Tuna possui dois títulos brasileiros (Série B de 1985 e a Série C de 1992), foi dez vezes campeã paraense da Primeira Divisão (a última em 1988) e duas vezes da Segunda (1941 e 2020).
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