Preço do pão pode subir 25% em Belém por conta de guerra na Ucrânia

Rússia e Ucrânia respondem sozinhas por 30% do mercado de trigo e cereais e conflito deve pressionar cada vez mais o o preço nas padarias

O Liberal
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O preço do quilo do pão francês em Belém já começou a subir por conta da guerra entre a Rússia e a Ucrânia e a expectativa é de que alta possa chegar a até 25%, segundo o presidente do Sindicato das Indústrias de Panificação e Confeitaria do Estado do Pará, André Carvalho.

Ele conta que o quilo do famoso pão "careca" varia entre R$12 e R$16 nas padarias da capital paraense.

"Desde o início da guerra há aproximadamente 20 dias, já registramos aumentos de até 20%. A gente compra muito trigo da Argentina aqui no Pará, então como a Rússia parou de escoar para o resto do mundo, a demanda caiu toda em cima do mercado argentino. O preço infelizmente está sendo repassado", lamenta ele, ao lembrar que o setor da panificação não tem tido trégua desde o início da pandemia de covid-19. 

Aécio Araújo toca a panificadora aberta pelo pai há 36 anos, com forno a lenha para garantir a qualidade do pão francês que é sucesso no bairro do Marco.

Os negócios cresceram ao longo da pandemia, mas ele afirma que ninguém estava preparado para os impactos da guerra no leste europeu, que fez disparar o preço do trigo.

"Já vinha aumentando mês a mês. Agora piorou. Nós comprávamos por R$180 a saca de 50 kg, em média. O mês foi passando e aumentando de R$10 em R$10 e agora já está em R$215. Sem contar o aumento dos combustíveis", diz. Segundo o empresário, a prioridade agora tem sido diminuir o lucro para passar um preço razoável aos clientes, sem assustar os consumidores de longa data do bairro. "Desde o ano passado a gente continuou com os preços que tínhamos, mas com esse aumento proveniente da guerra a gente não teve como segurar. Os clientes perceberam porque estavam acostumados a levarem quatro pães por um preço e viram que mudou o valor", afirma. 

Efeito dominó

A padaria de André de Oliveira também fica no bairro do Marco e tem sentido os impactos da guerra não só no preço do pão, mas de todos os outros produtos que utilizam trigo.

"Antigamente aumentava por mês. Agora é toda semana. A gente economiza daqui e dali para poder manter os funcionários e não demitir ninguém, sem aumentar tanto para não espantar os clientes", afirma.

Ele afirma que o foco do momento é produzir só o essencial para a demanda do dia, evitando qualquer tipo de desperdício, além de buscar materiais de qualidade com preços menores.

A Rússia e a Ucrânia respondem sozinhas por 30% de todo o cereal comercializado no mundo. Um levantamento da consultoria Safras & Mercado atestou uma disparada de 40% na Bolsa de Valores de Chicago em apenas 14 dias.

No Brasil,  85% das exportações vem da Argentina. Nos cálculos da consultoria, os estoques de trigo mais barato devem acabar, aproximadamente, em abril, quando o consumidor deve sentir aumentos mais agudos. 

O conflito acentuou uma situação que já vinha se desenrolando antes da guerra. A farinha de trigo, por exemplo, já acumula alta de quase 15% em 12 meses até fevereiro, segundo dados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nesta semana.

O pão francês, por sua vez, subiu 7%. No momento, todos os portos da Ucrânia estão paralisados, enquanto na Rússia apenas seguem em funcionamento.

Próximos passos

Segundo Thiago Tuma, especialista em direito internacional e mercado externo, existe um cenário de dependência do Brasil em relação a região e os embargos econômicos impostos contra a Rússia por países ocidentais acentuam o aumento dos custos das atividades agrícolas.

"Podemos dizer que não só o consumidor paraense, como o brasileiro em geral, está sentindo os efeitos da guerra no seu bolso, principalmente no setor alimentar", afirma. 

Na opinião dele, não há no curto ou médio prazo uma melhoria dos efeitos econômicos que estão sendo sentidos pelo Brasil, pois os embargos econômicos que foram impostos à Rússia pelo ocidente não serão suspensos de uma hora para a outra, mesmo com o término da guerra, e, haverá um bom tempo para que a Ucrânia se reconstrua.

"De outro lado, como o Brasil possui uma ampla base energética, sendo um dos principais produtores de petróleo do mundo, vejo a questão do aumento dos combustíveis como passageira, visto que com o aumento da produção por outros países exportadores de petróleo, principalmente aqueles integrantes da OPEP+, fará com que os preços do petróleo se estabilizem no mercado mundial", prevê.


 

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