No Pará, maioria desconhece juros por atrasos de dívidas; especialistas dão dicas

Pesquisa revela que 59% das pessoas desconhecem o custo das taxas e juros. Cartão de crédito é principal dívida que o paraense não consegue pagar. 

Amanda Engelke / Especial para O Liberal
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A pesquisa “Perfil e Comportamento do Endividamento Brasileiro 2023”, divulgada recentemente pela Serasa, apontou que na região Norte, 59% das pessoas desconhecem o custo das taxas e juros decorrentes do atraso de dívidas. Além disso, mostra que os três principais tipos de dívidas contraídas e que os consumidores não conseguiram pagar foram no cartão de crédito (46%), lojas/crediário/carnês (31%) e empréstimo (24%).

Ao todo, o Pará tem 2,5 milhões de pessoas inadimplentes, o que abrange 40,41% da população. Em Belém são 677.383 mil pessoas nessa condição, sendo que as dívidas com bancos e cartões são as mais comuns entre os paraenses (31,62%). Além disso, 22% das pessoas dizem saber o valor das taxas e juros e 15% conhecem apenas o valor dos juros cobrados automaticamente quando a conta não é paga.

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Neste cenário, especialistas recomendam prudência com empréstimos e cartões. O economista André Cutrim, observa que as taxas de juros, especialmente as associadas a produtos como cartões de crédito, podem aumentar rapidamente o valor total devido, resultando na subestimação do custo real da dívida. “Isso pode levar a um endividamento insustentável, excedendo a capacidade do orçamento para cobrir”, aponta o economista.

O advogado Sávio Barreto, especialista em Direito do Consumidor, afirma que o desconhecimento da população não é apenas em relação às taxas de juros, mas, também, ao conceito delas, especialmente as modalidades como juros simples e juros compostos. “Normalmente, as pessoas não têm certeza se estão lidando com juros simples ou compostos e muitas vezes não compreendem a taxa de juros embutida em contratos de financiamento bancário ou parcelamento de compras”, analisa.

Para Barreto, o desconhecimento dificulta a tomada de decisão na hora adquirir o produto à vista ou parcelado, por exemplo. "Fica a dúvida se vale a pena pagar juros para ter o produto imediatamente, sem poder calcular ou compreender claramente os juros embutidos. Isso o torna mais suscetível a decisões influenciadas pela empresa que está oferecendo o produto ou serviço, sem ter uma noção exata do valor real do produto e dos encargos financeiros associados", diz.

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Pagamento do mínimo do cartão de crédito é “extremamente desvantajoso”

O advogado alerta que pagar o valor mínimo do cartão de crédito é extremamente desvantajoso. Ele explica que a taxa de juros do cartão de crédito, que incide quando o cliente não paga o valor total da fatura, é uma das mais altas do mercado. "Ao deixar de pagar o valor total da fatura, você estará sujeito a uma das taxas de juros mais elevadas. Nesse aspecto, o cartão de crédito é um dos principais responsáveis por cobrar taxas de juros acima da média do mercado", observa Barreto.

Empresas são obrigadas a fornecer informações claras ao consumidor

Sávio Barreto destaca que, segundo o Código de Defesa do Consumidor, o fornecedor de produtos e serviços tem a obrigação de disponibilizar informações claras sobre o que está sendo oferecido ao consumidor. Dentro dessa obrigação de informação, está a clareza quanto às taxas e modalidades de juros, de modo que o consumidor compreenda exatamente o custo da aquisição do bem ou produto ao longo do prazo de financiamento.

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"Infelizmente, nem todas as empresas cumprem essa obrigação. Assim, o consumidor, que já não compreende bem o cálculo dos juros, acaba sem saber o quanto está pagando de fato em taxas para adquirir determinado bem. Isso resulta em prejuízos para ele ou em uma compra desvantajosa, pois ele não compreende a desvantagem que está ocorrendo", analisa o advogado.

Juros geram consequências coletivas e individuais

Já Cutrim, que é doutor em Desenvolvimento Econômico e pós-doutor em Economia pela Universidade Estadual de Campinas, alerta que o desconhecimento das taxas de juros ao contrair uma dívida tem impactos. “Isso pode gerar consequências negativas tanto ao nível coletivo e individual. No entanto, muitas pessoas não percebem que esse desconhecimento pode desencadear efeitos em cascata, afetando a economia de forma mais ampla”, analisa.

Outro ponto citado pelo economista é o estresse gerado pelo endividamento excessivo. “Isso afeta a qualidade de vida e o bem-estar geral, já que a pessoa se vê em uma situação financeira difícil de resolver no momento. Podemos, ainda, imaginar uma situação em que alguém é demitido enquanto está endividado, o que tornará ainda mais complicado para lidar com essa dívida. Ou seja, é preciso agir com prudência ao considerar qualquer tipo de empréstimo ou uso de cartão”, recomenda.

Confira as dicas do economista para evitar o acúmulo de dívidas desnecessárias no cartão de crédito:

  • Sempre pague o saldo total do seu cartão de crédito, todo mês, para evitar juros.

  • Crie um orçamento; uma planilha orçamentária pode ser feita à mão ou mentalmente para que você tenha um controle mensal incluindo todas as despesas, inclusive as do cartão de crédito e débito, justamente para evitar gastos excessivos e desnecessários.

  • Configure alertas para pagamentos de fatura e faça o monitoramento regular desses gastos por meio de aplicativos de bancos, do próprio cartão de crédito ou mesmo manualmente. Você pode marcar uma data e hora para fazer esse controle.

  • Evite saques em dinheiro com cartão de crédito, já que esses saques geralmente têm taxas de juros mais altas e podem começar a acumular juros imediatamente, levando a um efeito bola de neve com o crescimento da dívida ao longo do tempo.

  • Entenda os termos do seu cartão. Muitas vezes, não prestamos atenção aos detalhes dos regulamentos e termos dos cartões de crédito. Portanto, conheça as taxas de juros, as taxas anuais, penalidades por atraso e outras taxas associadas ao seu cartão. Isso pode ajudar na tomada de decisão para escolher um cartão com termos mais favoráveis e que permita um uso mais responsável.

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