Israel-Irã: Entenda as repercussões econômicas do conflito para o Pará

Economistas discutem os possíveis impactos da tensão no Oriente Médio no preço dos combustíveis e nas exportações

Amanda Engelke
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O acirramento do conflito no Oriente Médio, agora entre Israel e Irã, reverbera globalmente, com potenciais reflexos que vão além das questões geopolíticas imediatas. A economia mundial, incluindo mercados emergentes como o Brasil, já percebe os efeitos desses acontecimentos. Especificamente, a economia paraense, que possui vínculos comerciais com ambos os países, pode encarar desafios consideráveis.

Neste ano, de janeiro a março, o Pará exportou US$ 7,97 milhões em produtos para o Irã e US$ 29,7 milhões para Israel, segundo dados do Ministério da Indústria e Comércio. Frente a este cenário, os economistas paraenses Nélio Bordado e André Cutrim, consideram que as crescentes tensões e a instabilidade no Oriente Médio podem impactar negativamente essas relações comerciais, afetando a economia local.

Impactos diretos do conflito

Para os economistas, possíveis interrupções no comércio ou na logística devido ao conflito podem afetar a relação comercial do Pará tanto com Irã e Israel, quanto com os demais países da região. Adicionalmente, qualquer elevação nos valores das commodities, como o petróleo, pode influenciar os custos de produção e transporte, comprometendo potencialmente a rentabilidade das exportações.

Cutrim avalia que instabilidades na região, uma das maiores produtoras de petróleo do mundo, geralmente levam a aumentos nos preços globais do petróleo bruto. Para o Brasil, que ainda importa parte significativa de seu petróleo, isso resultaria em aumentos rápidos nos preços nas bombas, elevando tanto os custos de transporte para consumidores quanto os custos logísticos para as empresas.

image André Cutrim cita que aumento do preço do petróleo é impacta diretamente no Pará (Ivan Duarte / O Liberal)

“Para um país como o Brasil, que ainda depende consideravelmente de importações de petróleo para atender à sua demanda interna, seria um efeito em cadeia que não só encareceria diretamente os custos de transporte para os consumidores, mas também aumentaria os custos logísticos para as empresas. Esses seriam claramente sentidos no Pará, um estado com problemas de infraestrutura logística e extensa dimensão territorial”, diz o economista.

Valor do dólar e volatilidade de preços

Para Bordalo, nos estados exportadores como o Pará, essa situação denota uma dupla ameaça. De um lado, o encarecimento do petróleo pode resultar em elevação dos preços dos combustíveis, intensificando a inflação pré-existente. De outro, a valorização do dólar - uma vez que investidores tendem a buscar refúgio em moedas tidas como mais seguras - poderia ter um impacto negativo no valor das exportações e incrementar os custos de produtos importados.

“Além dos combustíveis, outros setores da economia brasileira podem ser afetados pela instabilidade no Oriente Médio. O setor de commodities, como minério de ferro e soja, pode enfrentar volatilidade nos preços devido à incerteza nos mercados globais. Isso pode afetar diretamente a economia do estado do Pará, que é um importante produtor e exportador de minério de ferro”, avalia Bordalo.

image Nélio Bordalo avalia que o setor de commodities, como minério e ferro, pode ser afetado (Cláudio Pinheiro / Arquivo O Liberal)

No mundo, a reação imediata do mercado à escalada do conflito foi uma disparada do dólar, que atingiu o patamar de R$ 5,21 na manhã de segunda-feira (15), e uma queda na bolsa de valores brasileira. Isso ocorre porque, segundo os economistas, em momentos de tensão, os investidores migram para ativos considerados mais seguros, como ouro e títulos dos Estados Unidos. Este movimento pode prejudicar mercados emergentes como o Brasil.

“A desvalorização da nossa moeda (real), frente à americana (dólar) tornaria as importações mais caras, contribuindo para uma inflação de produtos importados, que se espalharia por diversas categorias de consumo. Essa inflação, por sua vez, reduziria o poder de compra dos consumidores paraenses e brasileiros em geral, apertando os seus orçamentos domésticos”, explica André Cutrim.

Outro aspecto relevante de uma possível mesclada no conflito, acrescentado por Nèlio Bordalo, é que a incerteza geopolítica pode afetar a confiança dos consumidores, levando-os a reduzir seus gastos e adotar uma postura mais cautelosa em relação ao consumo. “Isso pode impactar negativamente o desempenho da indústria, do comércio e dos serviços, afetando a economia como um todo”, diz.

Salvaguarda e cautela

Para os economistas, o momento é de cautela para o mercado. Apesar do cenário desafiador, Cutrim aponta que a economia brasileira possui algumas salvaguardas que podem ajudar a mitigar os impactos de um eventual acirramento da crise. “De fato, o Brasil dispõe de robustas reservas internacionais, que serviriam como uma espécie de ‘amortecedor financeiro’ contra choques cambiais”, diz.

Além disso, o economista cita que o país tem avançado em sua capacidade de refino e produção de petróleo, buscando uma maior autossuficiência que possa protegê-lo contra eventuais flutuações externas nos preços do petróleo. “Esses fatores, combinados com uma política econômica que tem buscado fortalecer os fundamentos macroeconômicos, colocam o país em uma posição relativamente preparada para enfrentar qualquer tipo de turbulência internacional”, finaliza.

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