Rio Caeté é inspiração para projeto cênico de artista bragantino

Em “Margens do Caeté”, o rio que percorre a cidade de Bragança é a fonte máxima de inspiração

Caio Oliveira
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Desde sua nascente, no município de Bonito, até desaguar no Oceano Atlântico, o Rio Caeté atravessa seis municípios do nordeste paraense, levando vida em suas águas escuras. Antes de passar de vez do doce para o salgado, o Caeté banha Bragança, cidade onde ganha status de divindade, servindo de inspiração para um povo que aprendeu há séculos a expressar sua fé por meio da arte. Cria dessa terra, Paulo Cézar Jr é mais um desses bragantinos que, desde menino, era cortejado pelas ninfas do Caeté, e que agora, devolve para as águas a arte que o nutriu por meio do projeto cênico “Margens do Caeté”, um conjunto de três vídeos performances que trazem à tona a cultura, o imaginário e a realidade da região. As primeiras performances já estão disponíveis no YouTube, enquanto o terceiro ato dessa celebração à Amazônia será lançado nesta terça-feira, 26, às 9h, no canal da Correnteza Produções:

Após seis anos morando na capital paraense, onde estudou teatro e arte e participou de inúmeras produções teatrais, o ator Paulo César Jr. retornou à Bragança algumas semanas antes do início da pandemia que parou o mundo. “Quando eu volto, eu fico com esse desejo de produzir arte exaltando a cultura local, os saberes artísticos, e aí vem a ideia do Margens do Caeté, que não é sobre falar propriamente do rio, mas trazer juntos da cenas onde eu performo, relatos de pessoas que vivem nas margens, que fazem cultura, arte, tudo isso que é importante para a região bragantina”, explica o criador do projeto. O “Margens do Caeté” foi executado por meio de financiamento público do Edital Preamar de Cultura e Arte, da Secretaria de Estado de Cultura (SECULT), que selecionou cem projetos de diversas linguagens e expressões artísticas de várias regiões do Estado.

No total de três vídeos performances, cada apresentação aborda um olhar sobre o rio: o primeiro, denominado “Correnteza”, convida a maruja Rosa Lins para falar sobre os aspectos culturais que fluem naquelas margens, como é o caso da Festividade de São Benedito. Em seu relato, a mulher fala sobre como a expressão de sua devoção ao Santo Preto é uma herança de sua família. No segundo vídeo, “Lama”, o público assiste à performance de Paulo entremeada pelos relatos do carpinteiro Raimundo Carrera, morador de um casarão na Vila de Caratateua e que fala sobre as matintas e curupiras que moravam por ali, em uma narrativa oral das lendas que povoam o imaginário do ribeirinho amazônico.

Já a terceira e última performance do projeto, a ser lançada, ganhou o nome de “Margens” por mostrar as artes que são produzidas na beira do rio. Os convidados são o poeta Aviz de Castro - que fala sobre a inspiração que vem das águas e se transmuta em palavras - e  Pedro Olaia, que se expressa por meio de sua drag queen, Sophia. “Cada videoperformance conta com uma temática diferente, um olhar diferente em relação ao rio, e com uma ritualística. Cada vídeo tem um contexto de criação. Essas margens representam as pessoas que estão por trás das questões culturais da localidade, como as costureiras que preparam as roupas das Marujas, o poeta que escreve sobre a cidade, as pessoas que trabalham na feira e tantos outros”, elabora.

Além de ator, performer, diretor, encenador e produtor, Paulo César Jr. é mestre em Artes e licenciado em Teatro pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Ele explica como esse projeto cênico é de certa forma a culminância de suas vivências artísticas, acadêmicas e culturais, pois ele trabalhou com a junção de tudo que aprendeu em sua história de vida. “No meu trabalho, eu pesquiso memória, e como essa memória pode influenciar na criação artística. Então, quando eu escolho o Rio Caeté como o protagonista desses vídeos - pois tudo acontece na margem e circunda esse rio - é justamente para pensar essa relação das nossas memórias com a paisagem. A gente, como ser amazônico, tem muito essa figura do rio na nossa vida, então o Caeté é essa figura que tem a ver com nossa memória, com nosso jeito de ser, nossos costumes e imaginários”, disse o artista, que conta ainda que aprendeu nessa nova fase de sua carreira que o simples relato dos convidados que ele entrevistou em seus vídeos já é uma performance artística: “A memória é performance, e nosso corpo está performando a cada momento”.

Sobre o meio escolhido para produzir essa experiência, Paulo conta sobre o poder da internet para a divulgação artística, e como as necessidades impostas pela pandemia geraram resultados positivos, ainda que o momento seja muito delicado. “Eu tive que me reinventar como artista cênico, já que a presença física das pessoas estava impossibilitada. Dentro desse contexto, eu comecei a pensar em um projeto onde eu pudesse realizar o meu trabalho de ator e performer e, ao mesmo tempo, usar o audiovisual e o meio digital a meu favor. Eu percebi que é um formato muito rico, pois faz com que a gente chegue em lugares que a gente não chegaria antes: a cidade de Bragança, o rio Caeté e nossos costumes cheguem a outros lugares”, encerrou o artista que veio do rio.

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